(Review in English bellow)
A FCG recebeu, no ciclo de piano, a pianista venezuelana Gabriela Montero. Nascida em Caracas (Venezuela), deu o primeiro concerto público aos 5 anos e teve o seu concerto de estreia no Teatro Nacional de Caracas aos 8 anos, onde interpretou o Concerto para piano em Ré Maior de Haydn sob direcção de José Antonio Abreu, pai do famoso El Sistema. Estudou em Londres e recebeu diversos prémios, nomeadamente o Echo para Melhor Instrumentista do Ano em 2006.
Apresenta-se, regularmente, nos grandes palcos internacionais e tem como particularidade o facto de fazer, nos seus concertos e recitais, improvisações a pedidos do público. Esta faceta devemo-la, em parte, ao incentivo de Martha Argerich: “Quando improviso, estabeleço uma ligação única com o público. Uma vez que a improvisação é uma boa parte daquilo que sou, é a forma mais natural e espontânea de me expressar. Comecei a improvisar desde a primeira vez que toquei um teclado, mas por muitos anos mantive esta faceta secreta. Depois, um dia Martha Argerich ouviu-me improvisar e ficou em êxtase. De facto, foi a Martha quem me persuadiu de que é possível combinar uma carreia de artista clássico ‘sério’ com este meu lado mais único.”
A pianista não esquece as suas origens e tem divulgado a música de vários compositores da américa latina. O site opus3artists.com disponibiliza algumas peças por ela interpretadas e uma muito interessante entrevista seguida da interpretação de uma peça da sua autoria “ExPatria” que Gabriela Montero dedica ao povo venezuelano, aos 19.336 assassinados na Venezuela em 2011 e a 3 amigos presos políticos.
Ouvimos peças de Brahms (Intermezzi, op. 117), Chopin (Scherzo n.º 3) e os latino-americanos Ernesto Lecuona (Malagueña), Alberto Ginastera (Danza Criolla e Sonata n.º 1, op. 22), Ernesto Nazareth (Odeon; Brejeiro) e Moisés Moleiro (Joropo). Estes últimos têm, de facto, peças de elevadíssima qualidade que, infelizmente, não entram no reportório de muitos dos melhores pianistas da actualidade. Poderão ler o interessante texto de Luís Raimundo no programa de sala que a FCG preparou para o concerto e que disponibiliza em português aqui.
Devemos realçar a excelência das interpretações, sempre cheias de coloridos e ritmos. Gostámos particularmente de Malagueña e Danza Criolla.
Devemos realçar a excelência das interpretações, sempre cheias de coloridos e ritmos. Gostámos particularmente de Malagueña e Danza Criolla.
A segunda parte foi reservada às improvisações. Num jeito muito simpático, Gabriela Montero convidou o público a ajudá-la no seu processo criativo. Pediu, primeiro, um tema português e aí surgiu 'Tia Anica de Loulé' ao qual se seguiram Quadros de uma exposição de Mussorgsky e Fur Elise de Beethoven. As três improvisações foram muito interessantes e notaram-se diversas influências, desde Beethoven e Chopin a Rachmaninov entre muitos outros. Depois pediu um tema abstracto e alguém sugeriu 'O sol de Lisboa': a sua improvisação foi excelente e ofereceu-nos uma peça muito melódica e intensamente cheia de matizes, onde se ouviram a frescura do amanhecer e o calor do sol de Verão. A terminar ouviu-se variações sobre um tema de Orfeu nos Infernos de Jacques Offenbach onde nos deu muito Piazola, Tico-tico de Zequinha de Abreu e toques de jazz.
É de realçar o seu virtuosismo, improviso fácil e imediato e a sua capacidade de apresentar diversos estilos, de onde sobressai um ritmo muito latino-americano.
Em suma, foi um concerto de elevadíssimo nível onde se exibiu uma pianista de enorme sensibilidade artística e técnica, simpatia profunda e brilhante capacidade de improvisação.
É de realçar o seu virtuosismo, improviso fácil e imediato e a sua capacidade de apresentar diversos estilos, de onde sobressai um ritmo muito latino-americano.
Em suma, foi um concerto de elevadíssimo nível onde se exibiu uma pianista de enorme sensibilidade artística e técnica, simpatia profunda e brilhante capacidade de improvisação.
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(Review in English)
The FCG received the Venezuelan pianist Gabriela Montero in its Piano Cycle. Born in Caracas (Venezuela), she gave the first public concert the age of 5 and had her concert debut at the Teatro Nacional de Caracas when she was only 8 years old, where she performed Haydn’s Piano Concerto in D Major under the direction of José Antonio Abreu, father the famous El Sistema. She studied in London and received numerous awards, including the Echo for Best Instrumentalist of the Year in 2006.
She presents herself regularly on international stages and has on improvisation one great particularity as she, in her concerts and recitals, ask public to gave her musical themes for her to improvise. This facet owes it in part to the encouragement of Martha Argerich: "When improvising," Montero says, "I connect to my audience in a completely unique way – and they connect with me. Because improvisation is such a huge part of who I am, it is the most natural and spontaneous way I can express myself. I have been improvising since my hands first touched the keyboard, but for many years I kept this aspect of my playing secret. Then Martha Argerich overheard me improvising one day and was ecstatic. In fact, it was Martha who persuaded me that it was possible to combine my career as a serious ‘classical’ artist with the side of me that is rather unique."
The pianist does not forget her roots and has released music by various Latin-american composers. The site opus3artists.com offers some pieces interpreted for her and a very interesting interview followed by the interpretation of a piece of her own "ExPatria" who Gabriela Montero dedicated to the Venezuelan people, to 19.336 murdered in Venezuela in 2011 and 3 friends that are political prisoners.
We heard pieces by Brahms (Intermezzi, op. 117), Chopin (Scherzo no. 3) and Latin Americans Ernesto Lecuona (Malagueña), Alberto Ginastera (Danza Criolla; Sonata n.º 1, op. 22), Ernesto Nazareth (Odeon; Brejeiro) e Moisés Moleiro (Joropo). The latter ones have, in fact, pices of the highest quality which, unfortunately, do not enter in the repertoire of many of contemporary best pianists. It is interesting to read the text of Luís Raimundo in the program room that FCG prepared for the concert despite it is in Portuguese. We should highlight the excellency of her interpretations always full of colors and rhythms. We liked specially Malagueña and Danza Criolla.
The second half was reserved for improvisations. In a very friendly way, Gabriela Montero invited the public to help her in her creative process. She asked, first, a Portuguese theme and there arose 'Tia Anica de Loulé' which was followed by Pictures at an exhibition by Mussorgsky and Beethoven's Fur Elise. The three improvisations were very interesting and were noted various influences from Beethoven to Chopin, Rachmaninov and many others. Then she asked a abstract theme and someone suggested 'The sun of Lisbon': her improvisation was excellent and offered us a very melodic and full of nuances theme, where we heard the freshness of an early morning and the warmth of the summer sun. To finish we heard variations on a theme of Orpheus in the Hells by Jacques Offenbach which gave us a lot Piazola, Tico-tico of Zequinha de Abreu and touches of jazz.
It is to highlight her virtuosity, improvisational instant ease and her ability to manage many styles, from which emerges very Latin American rhythm.
The second half was reserved for improvisations. In a very friendly way, Gabriela Montero invited the public to help her in her creative process. She asked, first, a Portuguese theme and there arose 'Tia Anica de Loulé' which was followed by Pictures at an exhibition by Mussorgsky and Beethoven's Fur Elise. The three improvisations were very interesting and were noted various influences from Beethoven to Chopin, Rachmaninov and many others. Then she asked a abstract theme and someone suggested 'The sun of Lisbon': her improvisation was excellent and offered us a very melodic and full of nuances theme, where we heard the freshness of an early morning and the warmth of the summer sun. To finish we heard variations on a theme of Orpheus in the Hells by Jacques Offenbach which gave us a lot Piazola, Tico-tico of Zequinha de Abreu and touches of jazz.
It is to highlight her virtuosity, improvisational instant ease and her ability to manage many styles, from which emerges very Latin American rhythm.
In short, it was a concert of very high level where we heard a pianist of enormous artistic sensibility and technique, deep sympathy and brilliant improvisational skills.
Não assisti a este concerto mas, pelo teor do relato, imagino que terá sido muito bom. Obrigado pelo texto tão informativo e cativante.
ResponderEliminarWhat a wonderful concert. She is very talented, and I am sure we will more about her in the USA. I do know her mother was American and she performed at the first inauguration of President Obama.
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