Em dia de memória da morte de
Mozart há 221 anos atrás, deixo-vos uma crítica de Le Nozze di Figaro a que
pude assistir no passado dia 13 de Outubro em Paris.
A récita foi interessante mas
senti que faltou verdadeira comedia. Alguma incoerência e falta de uniformidade
na mesma ao longo da noite.
Luca Pisaroni, vocalmente
espectacular, esteve muito preso a um ar aristocrático do Conde, baseando a
comédia em expressões faciais de tédio repetidas. Na cena do quarto não
transmitiu de modo que me agradasse completamente o ar de marido pensando estar
a ser traído. Gosto de ver um Conde que entra altivo e desconfiado mas que ao
ver que é Susana que está no armário se torna criança a pedir desculpa à
Condessa. Outros pontos menos credíveis foram o estar com um pé de cabra e
martelo na mão e, quando a Condessa lhe diz que quem esta no armário é o pagem
Cherubino, deixa cair os mesmos no chão mas não com um ar de surpresa... O
timing cómico não esteve lá. Também faltou a verdadeira emoção na grande ária
“Hai già vinta la causa!”. Mas o canto foi fenomenal.
Alex Esposito fez um Figaro
emotivo e com piada mas já vi outros terem mais graça. Também um pouco fraco na
expressão correcta no Aprite un po’ quegli occhi”.
Camila Tilling muito bem como
Susana, timbre muito agradável e excelente atriz.
Emma Bell foi uma Condessa algo
irregular no timbre vocal. A primeira ária parecia que ainda não tinha aquecido
bem e o timbre era rudemente grave para o papel. Melhorou progressivamente mas
havia momentos de grande beleza entrelaçados com alturas vocalmente mais graves
como o som da primeira ária e que, embora toleráveis, eram um pouco incómodos.
Anna Grevelinius foi um Cherubino
muito bom, uns agudos com algum vibrato mas que não incomodou.
A dupla Bartolo - Marcellina foi a
mais bem conseguida em termos vocais e interpretativos - dois colossos do
canto, em fantástica forma (Marie McLaughlin e Carlos Chausson).
Os papeis menores estiveram bem,
destacando um Basilio (Carlo Bosi) com timbre menos "gay" que o
habitual mas mantendo o ar cínico.
A orquestra e Evelino Pidò foram
excelentes, sem falhas, num ritmo perfeito para a obra, sem inovações malucas,
permitindo uma coerência e um respeito sublime pela beleza da música de
Mozart.
LE NOZZE DI FIGARO - Opera Bastille, Paris - 13 October 2012
On this day
of rememberance of Mozart’s death, 221 years ago, I leave you a review of Le
Nozze di Figaro that I attended on the 13th October in Paris.
The
production was interesting but I felt it lacked true comedy. Some inconsistency
and lack of uniformity in it throughout the night.
Luca
Pisaroni, vocally spectacular, was very attached to an aristocratic profile of
the Count, basing the comedy on repeated facial expressions of boredom. In the
bedroom scene did make us feel the feeling of the husband who thinks is being
betrayed. I like to see a Count who enters haughty and suspicious but when sees
that Susana is standing in the closet becomes a true child to apologize to the
Countess. Also missing the real excitement in the great aria "Hai già
vinta la causa." But the singing was phenomenal.
Alex
Esposito made an emotional and funny Figaro but I've seen others being more
funny. Also a little weak in the correct expression in the aria “Aprite un po
'quegli occhi ".
Camilla
Tilling was very good as Susana, very pleasant sound and an excellent actress.
Emma Bell
was a Countess somehow vocally irregular. The first aria she probably had not
warm up very well and sound was rudely serious for the role. She progressively
improved but there were moments of great beauty intertwined with vocally more
lower pitch like the sound of the first aria, and although tolerable, were a
little troublesome.
Anna Grevelinius
Cherubino was a very good one with some sharp vibrato but that did not bother.
The duo Marcellina
- Bartolo was the best achieved in terms of vocal and scenic performance - two opera
giants in fantastic shape (Marie McLaughlin and Carlos Chausson).
The smaller
roles were good, highlighting a Basilio (Carlo Bosi) with a less "gay"
than usual voice but keeping the cynic air.
The
orchestra and Evelino Pidò were excellent, flawless, a perfect rhythm for the
work without crazy innovations, enabling consistency and respect for the
sublime beauty of Mozart's music.
Emma Bell foi uma cantora que me impressionou muito quando a ouvi pela primeira vez.
ResponderEliminarE quando cantou na Gulbenkian, há um par de anos, foi também fantástica.
Mais recentemente está, surpreendentemente, algo irregular. É pena.
Nunca ouvi alguns dos outros solistas desta récita, mas fico com curiosidade.
Obrigado pelo relato e pelas óptimas fotografias.
Many thanks for the review.
ResponderEliminarRegarding Camilla Tilling I agree with you. I saw and heard her as Donna Clara in Zemlinsky's "The Dwarf" at the BSO Munich. She was excellent in singing and acting. I haven't heard Pisaroni yet, but I'll keep an eye on him:-)
From what I read, many experts say this is the best opera ever written. I don't know if that is true, but I would imagine with that reputation, it is a difficult production.
ResponderEliminarNice week-end my friends!
ResponderEliminarSnow greetings from Gent,Willy