sexta-feira, 8 de julho de 2011

DIALOGUES DES CARMÉLITES – Bayerische Staatsoper, Abril de 2011

(review in Englisg below)

 Dialogues des Carmélites é uma ópera de Francis Poulenc com libretto do compositor, segundo a peça de Georges Bernanos.

A acção passa-se durante a Revolução Francesa. A jovem aristocrata Blanche informa a família que quer afastar-se da confusão mundana e ser freira. Entra para um convento de carmelitas, onde é recebida e questionada pela madre superiora Madame de Croissy que está a morrer lentamente e com grande sofrimento. Antes da morte, blasfema e pede à madre Marie que cuide de Blanche. Esta está preocupada com os acontecimentos no exterior. O irmão tenta convencê-la, em vão, a deixar o convento. O carmélio é atacado. A madre Marie propõe que cada freira faça secretamente um voto de martírio. Blanche, em pânico com tudo o que se está a passar, foge. As freiras cantam a Salve Regina e, à medida que vão sendo sucessivamente executadas, surge Blanche da multidão e junta-se a elas, à frente da guilhotina.



(alguns dos cartazes da Bayerische Staatsoper não são particularmente elaborados...)

 A obra é de grande intensidade sentimental e melódica, sem sonoridades exuberantes. Dominam as vozes femininas que, frequentemente, cantam música de grande lirismo.

A encenação, de Dmitri Tcherniakov é moderna, austera, original e muito interessante. O pano abre com dezenas de figurantes a correr de um lado para o outro, sem rumo, retratando a agitação revolucionária. Desce o pano, inicia-se a música e quando volta a subir o palco está totalmente vazio, com nevoeiro ao fundo.
Blanche, de mala na mão, despede-se do pai e irmão depois de uma discussão familiar. Fica só e, das profundezas do palco, do nevoeiro, surge um pavilhão envidraçado de grandes dimensões, o convento, que se vai aproximando da boca de cena. Lá dentro estão as freiras carmelitas sentadas em cadeiras simples à volta de uma mesa de madeira rectangular ao centro, onde a madre superiora toma chá. Um belo efeito cénico. Todo o resto da ópera, excepto o final, passa-se dentro deste carmélio que vai mudando frequentemente de posição.

(some photos are form the Bayerische Staatsoper)

 A mesa central serve sucessivamente de cama da madre superiora quando está em grande sofrimento, de seu leito mortal quando é velada, de local de trabalho das freiras (preparação de conservas e doces) e de local de instalação dos revolucionários quando expulsam as carmelitas.


 No final, o convento é encerrado (deixa de se ver o seu interior) e isolado com fitas usadas pela polícia. À sua volta acumula-se o povo. Lá dentro, enquanto as freiras cantam um hino religioso, ouve-se regularmente o cair de guilhotina e a cabeça de cada uma a rolar. Blanche regressa, arromba a porta do carmélio e vai trazendo para o exterior as freiras mortas, uma a uma, à medida que são decapitadas, acabando ela própria por morrer.


 A direcção musical foi do maestro titular, o norte americano Kent Nagano e a Orquestra da Bayerische Staatsoper teve uma boa prestação.


 Madame de Croissy, madre superiora, foi interpretada pelo mezzo-soprano inglês Felicity Palmer. A voz é madura, cheia, bem projectada e de grande emotividade, transbordando sofrimento e desespero. O papel é extenso e a cantora teve um desempenho cénico exemplar.


 Jamie Barton, mezzo-soprano americano, interpretou a madre Marie e foi outra artista com um desempenho excelente. A voz tem um timbre muito agradável, uma potência assinalável, com agudos generosos e pujantes. Cenicamente a cantora também não se poupou a esforços e emprestou grande credibilidade à serenidade da personagem. Uma das melhores da noite.



 A finlandesa Soile Isokoski mostrou que o seu soprano mantém grande qualidade em toda a extensão vocal, apesar de o papel ser relativamente curto. Foi a madre superiora substituta.


 Blanche, interpretada pelo soprano inglês Susan Gritton, foi autoritária no papel. A voz foi firme e cheia de nuances interessantes. Foi ingénua mas determinada no início, carinhosa e dócil nos primeiros tempos no carmélio, angustiada e aterrorizada depois e tranquila no final. O registo médio foi soberbo e os agudos foram sempre bem audíveis sobre a orquestra e, aparentemente, emitidos sem esforço.


 Os cantores, o tenor suíço Bernand Richter, irmão de Blanche, e o barítono francês Alain Vernhes, seu pai, apesar de terem trechos pequenos, foram igualmente muito bons, contribuindo para um espectáculo homogéneo e de elevada qualidade.




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Dialogues des Carmélites- Bayerische Staatsoper, April 2011


Dialogues des Carmelites is an opera by Francis Poulenc with libretto by the composer, after Georges Bernanos.

The action is set during the French Revolution. The young aristocrat Blanche informs the family that she wants to move away from worldly confusion and become a nun. She enters a Carmelite convent, where she is received and questioned by the prioress Madame de Croissy who is dying slowly and with great suffering. Before the death, she asks Mother Marie to take care of Blanche. Blanche is concerned with events outside the convent. Her brother visits her and tries to convince her, in vain, to leave the convent. The convent is attacked. Mother Marie proposes that each nun secretly make a vow of martyrdom. Blanche, in panic about everything that is happening, runs away. The nuns sing the Salve Regina, and are successively executed. Blanche emerges from the crowd and joins them in front of the guillotine.

The music is of remarkable dramatic intensity without great sonority effects. Female voices dominate and they often sing parts of great lyricism.

The staging, by Dmitri Tcherniakov, is modern, austere, original and very interesting. The curtain opens for some minutes with dozens of people running from one side to another, without direction, portraying the revolutionary agitation. The curtain falls and then the music starts and the curtain opens again. The stage is totally empty, with fog coming from the background.
Blanche, with a suitcase in hand, bids farewell to her father and brother, after a family discussion. She remains alone. From the depths of the stage emerges a large glass pavilion, the convent, that moves to the centre of the scene. Inside are the Carmelite nuns, sitting on simple chairs around a rectangular wooden table in the centre, where the prioress drinks tea. All the rest of the performance happens within this pavilion, that changes position frequently, except the final scene.

The central table serves successively of the prioress’s bed when she is in great suffering, of her death tomb, of workplace of the nuns (preparing canning fruit and candy) and of site installation of the revolutionaries when they expel the nuns.
The convent is closed (we no longer see its interior) and it is isolated with tapes used by the police. The crowd gather around it. Inside, as the nuns sing a hymn, we hear regularly the fall of the guillotine. Blanche returns, breaks down the door of convent, and brings the murdered nuns, one by one, as they are decapitated, until she is assassinated herself.

The musical direction was by American resident conductor Kent Nagano. The orchestra of the Bayerische Staatsoper had a good performance.

Madame de Croissy, the prioress, was interpreted by English mezzo-soprano Felicity Palmer. Her voice is mature, full, well heard and she expressed great emotion, suffering and despair. The role is extensive and the singer had also an excellent artistic performance.

Jamie Barton, American mezzo-soprano, played mother Marie and she was another artist with an excellent performance. The voice has a pleasant timbre, a remarkable power with sound high notes. Artistically the singer was also very credible. She was one of the best of the night.

Finnish singer Soile Isokoski showed that her soprano keeps a great quality throughout her vocal range.. She played the substitute prioress.

Blanche, played by British soprano Susan Gritton, was excellent. Her voice was firm and full of interesting nuances. She was naive but determined at the beginning, affectionate and docile in the early days in the convent, anxious and terrified afterword, and calm at the end. Her voice was superb and the top notes were always clearly audible over the orchestra and apparently issued without effort.

The male singers, Swiss tenor Bernard Richter, brother of BBlanche and French baritone Alain Vernhes, her father, although with short interventions, were also very good, confirming a uniform and high quality of the performance.

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11 comentários:

  1. A encenação parece excelente e coesa.

    Não conheço a ópera mas fico com vontade de conhecer.

    Esta produção saiu recentemente em DVD também (gravada em Março de 2010), com alguns dos cantores da récita a que assistiu - Susan Gritton, Soile Isokoski, Bernard Richter e Alain Vernhes. Talvez passe no meu DVD num futuro próximo.

    Obrigado por mais uma excelente crítica e fotos.

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  2. Nem a propósito, hoje o "Fidelio" da Ópera de Munique.

    Nunca vi esta ópera ao vivo, apenas conheço um DVD muito bom da Ópera de Estrasburgo. A cena final com o som das guilhotinas é arrepiante e, nessa encenação de Estrasburgo, aterradora.

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  3. @ wagner_fanatic,
    Vale a pena conhecer esta obra. Eu próprio estava céptico, embora curioso. Foi uma agradável surpresa.

    @ Paulo,
    É uma ópera que merece a nossa atenção. Vi há algum tempo na tv (mezzo) uma produção em que a protagonista era a Patricia Petibom. Não sei se é a produção de Estrasburgo que refere, mas a cena final com o som da guilhotina é, de facto, marcante.
    Na produção a que assisti é um pouco diferente. Optaram (quanto a mim, mal), por secundarizar o som da´guilhotina ao ruido que as cabeças fariam ao cair, após decepadas do corpo. O efeito é, igualmente, perturbador mas, o som da guilhotina, como o ouvi na récita que referi acima, tem um impacto mais impressionante.

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  4. O DVD de Salzburgo a que me refiro conta precisamente com Patricia Petibon. É este.

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  5. Obrigado Paulo, pelo escalrecimento e pelo link para mais outro fantástico "post" no seu blogue.
    É exactamente esta a produção a que me referia.
    E lá está o som arrepiante da guilhotina...

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  6. It looks very intense. I would be very interested in seeing this, especially since it is set during the French Revolution, which I love to study. Thank you.

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  7. Nice pictures! Especially I like the first one very much.
    I only know Poulenc's music through his piano pieces which are sensible and elegant.

    In my opinion the BSO should have provided better costumes for the performers. Why one of the richest opera houses in the world so cheap?

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  8. @JJ,
    Thanks for the comment. Yes, it is an intense opera that deserves our attention.

    @lotus-eater,
    The first picture is a tricky on. The weather was excellent in Munich therefore I could not avoid the nice reflection from back onto the poster.
    This opera was a very positive surprise to me.
    Thanks for your comment.

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  9. Recuerdo la primera vez que escuché la escena final de esta ópera, uno de aquellos momentos que quedan grabados en la memoria,por la fuerza dramática de la escena. Es realmente impresionante escuchar la salve mientras la guillotina va matando a las monjas.
    Sensacional.

    Saludos,

    brunilda

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  10. @ brunilda,

    Obrigado pelo comentário. De facto, a cena final, com a guilhotina a decepar as cabeças de todas as monjas é, de facto, dramática e inesquecível!
    Saudações de Portugal para Barcelona.

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  11. Bom fim de semana desejado.
    Obrigado pela reaçao

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