sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

BLUE MONDAY de George Gershwin; GIANNI SCHICCHI de G. Puccini, Teatro de São Carlos, Fevereiro de 2011


É com tristeza que registo esta minha impressão global do último espectáculo a que assisti há dias no Teatro de São Carlos. Recordo que, quando vi anunciada a presente temporada, assinalei como um dos aspectos positivos a possibilidade de podermos ver e ouvir os cantores portugueses mostrarem que estão à altura da interpretação das óperas que o público não especialista gosta. Infelizmente, não foi o que aconteceu nesta récita. O canto ficou muito aquém do que esperei, mas a culpa maior não foi apenas dos cantores.

O encenador André Teodósio conseguiu destruir o espectáculo. Sei que fica bem dar oportunidades a jovens encenadores portugueses, mas é preciso que estes tenham conhecimentos rudimentares sobre este tipo de actividades. Penso que Teodósio não os terá, apesar de ter essa obrigação. Diz na sua biografia que “frequentou o Conservatório Nacional e a Escola Superior de Música, locais onde aprendeu muito pouco”. Totalmente de acordo, não deve ter aprendido nada! Também refere que “foi membro do Coro Gulbeknian (onde sofreu durante largos anos)”. E indica como projectos futuros, entre outros, a escrita de biografias de amigos.

Penso que Teodósio poderá vir a ser um biógrafo interessante para os seus amigos mas, sobre encenação operática, é uma nulidade e consegue arrasar um espectáculo. Não me refiro apenas à encenação pirosa que concebeu (do mal o menos) mas, sobretudo, a ter colocado os cantores em situações em que as vozes não se ouviam. Talvez se não tivesse sofrido tanto no Coro Gulbenkian teria percebido que colocar cantores numa “caixa” não lhes permite a projecção eficaz da voz! Enfim, a sua concepção do que pôs em cena revelou uma ignorância e insensibilidade confrangedoras.



Blue Monday, de Gershwin, que não conhecia, é uma obra curiosa, arruinada cenicamente com a transformação em discoteca rasca de terceira categoria. E os cantores também não ajudaram.

Gianni Schicchi de Puccini é uma ópera que já vi várias vezes, apesar de estar longe das minhas preferidas. Contém alguns trechos musicais de qualidade e presta-se a representações muito bem conseguidas quando os encenadores têm inspiração e competência. Não foi o caso. Houve algum movimento em palco, mas estéril. As situações cómicas não foram exploradas com eficácia. Copiou-se a ideia das coroas da “Burger King” (para azar do encenador, o canal televisivo Mezzo está a transmitir neste período o “Don Giovanni” do Festival de Salzburgo de 2008 onde estas coroas foram largamente utilizadas).

Em relação aos cantores, não houve interpretações fantásticas. Apenas quero referir o tenor Leonardo Capalbo que, tendo um timbre interessante, revelou não ter controlo na voz, impedindo uma boa prestação no interessante papel de Rinuccio (será que não haveria um português capaz de fazer melhor?).

Atravessamos um período de grandes dificuldades, é certo. Acho que é uma oportunidade para se mostrar que, em austeridade e sem grandiosidade cénica, se conseguem produzir bons espectáculos. Infelizmente não foi o que aconteceu nesta tarde.

*

12 comentários:

  1. Caro FanaticoUm,
    Acho que foi uma récita em que nada ajudou.

    ResponderEliminar
  2. Obrigado pela sua sintética e realista critica. Blue Monday um momento atroz. Gianni Schicchi , retirada do contexto do IL TRITICO , foi um resto de noite triste para o São Carlos. Concordo inteiramente com a opinião sobre André e Teodósio, pseudo encenador , que fez deslizar a pérola de Puccini, uma vinheta brilhante sobre a burguesia de Florença medieval , para o o ridiculo. Destruiu o espectáculo.

    ResponderEliminar
  3. ACORDO ABSOLUTO!!
    Já agora, leia também a nota introdutória do Director Artístico! Lá explica-se porque é que se chamou o Capalbo a fazer o que não deve: são amiguinhos conhecidos na Grécia!! xD
    (Sem segundos sentidos -.- ...)

    ResponderEliminar
  4. hello dear Fanaticoooo... selamlar sevgili dostum...sizin böyle sanatla iç içe,sanatla birlikte yaşamanıza gerçekten çok imreniyor ve özeniyorum... ahh Fanatico,ressam olmak ve resim yapmayı,sanatla yaşamayı çok isterdim doğrusu sevgili dostum...bu nedenle, sanatla ilgili bu çalışmalarınızı çok beğeniyor ve takdir ediyorum ... her şey gönlünce olsun,daima esen kal sevgili dostum... stary and good nights...

    ResponderEliminar
  5. @ Paulo,
    Infelizmente, é verdade.

    @ anónimo,
    Repetindo, infelizmente não posso estar mais de acordo!

    @ Placido,
    Recomendo aos leitores deste blogue que leiam o que se tem escrito no seu, Opera Lisboa , pois há lá opiniões e sugestões muito interessantes... food for thought.

    @ sonsprinter
    Wellcome back! It is always exciting to have a turkish flavour in our blog!

    ResponderEliminar
  6. very thanks.. teşekkürler sevgili dostum... hümanist,sanatçı bir kalbe sahipsin... sevgiyle kal...

    ResponderEliminar
  7. Hm... The translator doesn't function well.
    Please tell me more about Leonardo Capalbo? He'd sung in Stuttgart and Karlsruhe. How is his voice? Lyric or dramatic? Voice color, light or dark? Good actor? Do you think he's got a quality to be a coming tenor?

    ResponderEliminar
  8. @ lotus-eater:
    His voice has a nice light lyric timbre. The point we raised is that he seems to have no control over the voice and, therefore, does not sound well. He sounds wild. He has a lot of work to do if he wants to become a good tenor.

    ResponderEliminar
  9. Thank you, my friend.
    A good voice alone is not enough to be a good opera singer. Musicality and charisma on stage is needed. More than anything else the musician has to be able to listen how he sings or plays. Capalbo is still young. We'll see.

    ResponderEliminar
  10. Comentários mais desenvolvidos e não apenas de é bom ou mau também são necessários. Eu também posso dizer que um comentário é uma nulidade e não extrapolar e isto é ser ofensivo para quem nos referimos.
    Eu também vi o espectáculo e não me referindo ao gostei não gostei e começando pelo Gershwin, a obra é pouco interessante e por alguma razão raramente é feita. Colocar um "baixo" a cantar uma parte de "barítono" não sei se é uma escolha acertada. A escrita vocal da peça que não pede registos brilhantes nas vozes não ajuda, uma orquestra forte também não, e uma cena muito recuada também não. A pobreza na qualidade dos acabamentos do cenário certamente também não.
    No Schicchi de Puccini, não consigo perceber no que é que os portugueses são assim tão maus ou inferiores aos estrangeiros, uma vez que os papéis com mais destaque, Schicchi, Lauretta e Rinuccio eram estrangeiros, todos os outros diluiam-se um pouco na circunstância da própria partitura, talvez a Zita consiga ter um pouco de destaque vocal entre os familiares e creio que bem interpretado por Maria Luísa de Freitas. Colocar os metais da orquestra na zona mais desprotegida e com maior projecção do fosso talvez não ajude a haver equilíbrio entre fosso e palco...
    Quanto à "caixa" que é referida não minorou o som das vozes, por isso discordo desse comentário.
    O senhor Zacarias também deveria ler melhor as notas de programa...
    Já agora uma nota a um crítico: existe um senhor de seu nome Silveira, que se intitula de "O crítico" e que muito critica e tanto critica que até criticou com grande nota positiva uma "peça" dele próprio mas na qual se atribuiu pseudónimo para ele próprio Silveira não poder ser criticado e a ser criticado critica-se o pseudónimo que quase ninguém conhece quem é o verdadeiro autor que aqui digo "cobardolas" desse senhor Silveira que se critica a si própio como sendo um terceiro.
    Criticar é fácil e deve haver crítica, e felizmente existe espírito crítico, mas devemos criticar a nossa própria crítica e ver se tem conteúdo.

    ResponderEliminar
  11. Caro Anónimo,
    Obrigado pelo seu texto. No que me diz respeito, poderia ser muito mais explícito mas, deliberadamente, não o quis fazer para não ser ainda mais "duro" com o que se vai fazendo por cá.
    O Gershwin foi muito mau, disso penso que ninguém tem dúvidas.
    o Schicchi foi também mau, sobretudo se tivermos em consideração a falta total de imaginação do encenador (que destruiu o espectáculo, repito). Já o vi transformado em representações fantásticas, quando se associa o bom gosto (e inteligência) na encenação e a qualidade dos cantores. Infelizmente não foi o caso nesta récita. Os cantores com papeis mais relevantes foram amorfos (para não dizer pior) e os portugueses ficaram com as sobras, não podendo mostrar o que valem. E foi pena, pois a obra presta-se a muito melhor e, em minha opinião, perfeitamente ao alcance dos nossos intérpretes.
    Mas enquanto o São Carlos continuar a apostar em inovações por encenadores totalmente incompetentes e em introduzir muitas obras novas, nunca mais vai reconquistar o público. Eu sou um dos estoicos que mantém a assinatura hé muito tempo, mas confesso que, com esta orientação, me começo a cansar, até porque os preços já não são nenhuma pechincha.
    Será que é assim tão complicado por em cena aquelas óperas que a generalidade do público gosta e que foram tão apreciadas no passado no nosso teatro de ópera? Ou por outras menos populares mas de qualidade, como foi o caso recente da Katia Kabanova? Penso que não é pedir muito e, sobretudo, nesta fase em que o público está afastado do São Carlos, seria uma possibilidade para o voltar a conquistar! Mas, aparentemente, não é essa a ideia por aquelas partes...
    Mais uma vez, obrigado pelo comentário.

    ResponderEliminar