No dia 10 de Outubro de 2010, integrado no Festival Mozart, ouviu-se na Fundação Calouste Gulbenkian um Concerto que integrou a Sinfonia nº 40, K550 e o Requiem, K626, ambos de W.A. Mozart.
Actuaram a Orchestre des Champs-Élysées, o Colleguim Vocale Gent & Coro dell’Accademia Chigiana Siena, sob a direcção do maestro Philippe Herreweghe.
Foram solistas Christina Landshamer (soprano), Ingebord Danz (mezzo-soprano), Robert Getchell (tenor) e Mattew Brooke (baixo-barítono).Sinfonia nº 40, K550 – Uma obra muito conhecida e de grande beleza. Não lhe dedicarei atenção especial neste texto.
Requiem K626 - A obra foi envolta numa aura enigmática que incluiu a sua encomenda por uma personagem misteriosa, já no ano da morte de Mozart. Não chegou a ser concluída pelo compositor (foi terminada por Franz Xaver Süssmayr, seu discípulo e assistente) e especulou-se que Mozart estaria a escrever o seu próprio Requiem, que este seria uma metáfora da doença que o conduziria à morte, enfim, que a elaboração da obra estaria a matar o compositor.
A encomenda havia sido feita pelo Conde Walsegg-Stupach, pretendendo fazer crer que seria de sua autoria, para homenagear a memória da mulher, recentemente falecida. Mozart saberia quem tinha encomendado o Requiem e, segundo biografia posteriormente divulgada por Constanze, sua mulher, considerava a composição de uma missa dos mortos um passo muito dignificante na música religiosa, contrariando assim a versão de que a escrita o estaria a levar à morte.
Trata-se de uma obra emocionante, sublime e avassaladora, ímpar na história da música ocidental e, talvez por isso, tenha sido rodeada de todas estas histórias. Nas suas secções está incluída a Lacrymosa (da qual Mozart escreveu os primeiros oito compassos) que, com o seu crescendo sombrio é, na opinião de alguns, entre os quais me incluo, um dos trechos musicais mais comoventes e belos alguma vez escritos pela mão Humana.
Algumas imagens foram retiradas do programa Gulbenkian Música
O maestro Philippe Herreweghe, conforme referido no programa Gulbenkian Música, deu-nos uma interpretação com rigor estilístico, emoção e espiritualidade.
A Orchestre des Champs-Élysées, criada pelo maestro, interpretou superiormente, com a sonoridade própria de instrumentos de época, as duas obras Mozartianas. No segundo andamento da Sinfonia nº 40 penso que houve descoordenação ligeira das madeiras, mas o quarto andamento foi soberbo.
Para mim, a leitura que o maestro fez do Requiem foi, por vezes, um pouco rápida. Fiquei de tal forma marcado e emocionado pela que considero a melhor interpretação deste obra – a de Karl Böhm, que indicarei abaixo – que qualquer outra apresentada a um ritmo mais acelerado me parece menos emotiva.
Os Colleguim Vocale Gent & Coro dell’Accademia Chigiana Siena, constituídos por 32 elementos, foram inexcedíveis na qualidade e intensidade da interpretação do Requiem, proporcionando-nos uma sonoridade impressionante e carregada de emoção, harmonia, afinação e sincronismo. O Rex tremendae foi sombrio, o Confutatis luminoso, o Agnus Dei celestial, a Lux aeterna final grandiosa e a Lacrymosa arrepiante até às lágrimas.
Os solistas foram o elo mais fraco e não estiveram à altura dos restantes intérpretes. Todos eram cantores banais. A soprano alemã Christina Landshamer, detentora de um timbre claro, emprestou alguma emoção às suas intervenções. A mezzo-soprano alemã Ingebord Danz revelou uma voz baça e, por vezes, pouco audível. O tenor norte americano Robert Getchell cumpriu vocalmente a sua parte sem se destacar. Finalmente o baixo-barítono inglês Mattew Brooke deu-nos uma interpretação sóbria e, por vezes, com emoção, nomeadamente em Tuba mirum.
Em conclusão, mais um bom espectáculo que nos foi proporcionado pela Gulbenkian (e ainda vamos no início de Outubro!) e um encerramento com chave de ouro do Festival Mozart.
Poderá ser visto na RTP 2 nos dias 19 e 20 de Outubro às 19h00.
Para mim, de entre as várias interpretações deste Requiem que ouvi, a referência é a leitura de Karl Böhm com a Wiener Philharmoniker, o Konzertvereiningung Wiener Staatsopernchor e os solistas Edith Mathis, Júlia Hamari, Wieslaw Ochman e Karl Ridderbusch. Insuperável!
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Gostei muito de ouvir Mozart esta noite. O "Rex Tremendae" e o "Lacrimosa" foram sublimes. Um coro extraordinário, um maestro com um discernimento superior.
ResponderEliminarPenso que o concerto foi gravado pela Antena 2 e não pela RTP 2.
ResponderEliminarCaro Paulo,
ResponderEliminarO programa diz gravação por RTP - Antena 2. Mas, de facto, eu não vi as câmaras de televisão, por isso deve ter razão.
Paulo, não achou os solistas fracos, sobretudo quando comparados com a excepcional qualidade do coro?
ResponderEliminarCaro FanaticoUm,
ResponderEliminarNão tive a oportunidade de assistir a este Requiem na Gulbenkian porque, como sabe, estava em Zurich para um Tristão e Isolda que anseio rapidamente ter tudo preparado para rever neste blog mas que desvendo desde já que, por uma só intercorrência, foi do pior a que já assisti... Mas em breve comentarei.
Curiosamente, este Requiem, do mesmo modo que o Cosi fan tutte com Rene Jacobs passava 2 ou 3 dias após em Paris (local do Der Fliegende Hollander), sobe ao palco em Zurich amanhã.
Concordo plenamente com a gravação de referência pelo Karl Bohm. Foi o primeiro CD que comprei há largos anos e o Recordare é simplesmente celestial. Recomendo vivamente a todos.
Cumprimentos musicais.
Eu tenho com o Karajan :-P
ResponderEliminarAchei os solistas fracos, sim, mas mesmo assim não me fez tanta impressão como em "Così". Talvez porque no "Requiem" os solistas acabam por ter um papel secundário. As personagens principais são a orquestra e o coro.
ResponderEliminarA versão de Böhm é uma referência fundamental, claro.