Talvez considerado como o Teatro de Ópera mais famoso do mundo, o Scala de Milão, imortalizado por tantas figuras lendárias da ópera, em particular do bel canto, foi palco, no passado dia 4 de Maio, da maior desilusão da minha vida de (acho que me posso considerar como tal) melómano.
A greve dos sindicatos dos trabalhadores do Scala apanhou todos de surpresa no dia 3 à noite. Não pude acreditar que, ao entrar no site pela internet no lobby do hotel para rever elenco, o director do Teatro lamentava o cancelamento da récita.
Depois da Cirurgia de Domingo (que o afastou do Tamerlano revisto por mim anteriormente neste blog), da sua recuperação célere permitindo estar em forma para esta produção do Simão Boccanegra; depois da nuvem de cinzas islandesa ameaçar (sem sucesso) o meu comparecimento em Milão; chegava agora isto. Tinha o artista disponível, eu tinha lá chegado e uma barreira que pecava pela imprevisibilidade e singularidade (foi só cancelada esta récita das várias que houve...) impedia o acontecimento por mim muito esperado: Domingo servir de padrinho na minha estreia no Scala (como o fez na Royal Opera, no Palau des Arts em Valência, no Gran Teatro do Liceu de Barcelona e na Staatsoper Unter den Linden de Berlim).
Ainda não consigo compreender como é possível uma greve ser convocada na véspera e assim se estragar a imagem do Teatro e causar tamanho constrangimento aos que a ele se deslocam para ver Ópera. Não tanto por aqueles que vivem em Milão porque para esses é praticamente "igual ao litro" mas para quem vem de fora... Consigo agora falar sobre este assunto com alguma ponderação e sem a raiva e fúria do momento. Claro que me devolveram o valor dos bilhetes na bilheteira que fica na estação de Metro do Duomo. à minha frente lamentava-se uma senhora que tinha vindo de Paris para ver esta récita. Enviei um email a pedir alguma informação, alguma justificação, algum pedido de desculpa mais pessoal e formal mas até hoje nada.
Se alguém me voltar a perguntar se já fui ao Scala quando disser que gosto de ópera vou ter que dizer: "Sim... mas fiquei à porta!".
Na altura o meu pensamento foi nunca mais apostar no Scala. A próxima temporada é dada a conhecer a 21 de Maio e adivinha-se uma Valquíria com elenco brutal... Se se mantiver o padrão de cancelar a estreia (como fizeram no último dia 13 de Maio com a estreia do Ouro do Reno) e a penúltima récita, acho que se consegue tentar uma ida em alturas que não correspondam a estas datas... :) Estou a brincar, claro...
Deixo a quem quiser uma foto da fachada do Scala no dia 4 de Maio por volta das 19h15 com a "fachada" que foi não estar do lado de dentro. Tudo se resumiu a uma palavra: Vergonhoso!!!
Se os cancelamentos de última hora de alguns cantores são já muito aborrecidos (e este ano experimentei alguns - Natalie Dessay foi a última), o cancelamento de uma récita inteira, sobretudo por greve dos trabalhadores, é absolutamente inqualificável! Moral da história - não se podem planear deslocações a grandes teatros de ópera não anglo-saxónicos!
ResponderEliminarQue espectáculo. Exerce grande força de gravidade sobre o queixo...
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