As Bodas de Figaro (Le Nozze di Figaro) é uma das grandes óperas de Mozart que, se bem tocada, bem cantada e bem encenada, proporciona momentos musicais sublimes. Infelizmente não foi o que aconteceu na récita a que assisti no Teatro Nacional de São Carlos.
A Orquestra Sinfónica Portuguesa esteve sob a direcção de Julia Jones e foi, de longe, o melhor da tarde. A maestrina conduziu a orquestra com garra e conseguiu desta uma muito boa prestação. Ouviu-se Mozart! Foram ambas (orquestra e maestrina) incomparavelmente melhores e mais credíveis do que no Morcego, há poucos meses.
Guy Montavon, encenador com curriculo firmado e muito premiado (conforme assinalado na bio do programa) foi responsável por uma encenação que achei kitsch e de mau gosto. Apenas algumas tonalidades de azul ao longo da récita foram interessantes. No primeiro acto o amontoado de caixotes não resultou em qualquer efeito interessante, apenas dificultou a mobilidade dos cantores (já de si “perra”). No segundo, o quarto da Condessa parecia o da Imelda Marcos, pejado de caixas de sapatos, sem outros atractivos cénicos. No jardim do último acto apareceram retratadas, para o casamento, muitas figuras públicas, desde Lili Caneças à princesa Diana, passando por Berlusconi, Carla Bruni e diversos membros das famílias reais europeias, entre outros. Tudo muito kitsch, repito, e de gosto duvidoso.
O baixo Marco Vinco foi o Conde de Almaviva. Boa figura, a voz fazia-se ouvir com facilidade, apesar de o timbre não ser bonito e a expressividade ficar aquém do desejado. Mas foi um dos melhores em palco. A Condessa (Rosina) foi interpretada pela soprano Jessica Muirhead. Não esteve bem nem cenica nem vocalmente. A voz era aceitável no registo médio mas nos agudos perdia qualquer qualidade melódica, transformando-se em gritos. E foi pena porque a Condessa tem algumas das mais belas arias (exprimindo tristeza) escritas por Mozart. Joana Seara foi uma Susanna interessante, sem deslumbrar, mas melhor que qualquer das cantoras estrangeiras com papeis principais. Figaro foi cantado pelo barítono Leandro Fischetti. Teve uma prestação muito irregular ao longo da récita. Começou mal, foi pouco credível em cena, teve intervenções interessantes mas outras decepcionantes. Cherubino foi interpretado pelo mezzo Kristina Wahlin. Irregular na emissão, timbre aspro, desafinações frequentes e desastrosa em cena, não colocou nenhuma credibilidade na personagem. Em papeis menores ouviram-se alguns dos melhores da récita, nomeadamente Donato di Stefano como Dr. Bartolo e Mário João Alves como Don Basilio.
Foi ainda digno de registo a frequente falta de entrosamento das várias personagens, cada uma cantando para seu lado, fatal nesta ópera, onde os ensembles são tão frequentes e importantes.
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Vou fazer também uma crítica no meu blog em princípio até 2.ª feira.
ResponderEliminarMas basicamente, estou de acordo com tudo.
Em linhas subjectivas gerais, eu escreveria assim no final:
Encenação – 10 valores (mis en scène, coreografia)
Cenários, etc. - 7,5 valores
Julia Jones – 15 valores
Marco Vinco – 13 valores
Jessica Muirhead – 8 valores
Joana Seara – 12 valores
Leandro Fischetti – 9 valores
Kristina Wahlin – 7 valores
Já escrita a minha crítica, esclareça-se que as notas não coincidem porque aqui, eu classifiquei - além de sem grande reflexão - em relação a um mundo com espectáculos quase irrepreensíveis (referência 20 ou 19, ou seja o que for). No meu blog http://operalisboa.blogspot.com/ , classifiquei com um efeito moderador por ser o SC.
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