sexta-feira, 16 de abril de 2010

RIGOLETTO –Wiener Staatsoper, Viena, Abril de 2010

Uma das óperas mais conhecidas de Verdi, Rigoletto foi um espectáculo notável na Wiener Staatsoper, apesar de não ter estado isento algumas contrariedades. A produção, de Sandro Sequi e Pantellis Dessyllas é clássica, deslumbrante, luxuosa, variada e, verdadeiramente, espectacular. Foi a melhor encenação do Rigolleto que alguma vez vi.


O maestro, Marco Armiliato, foi um dos poucos pontos fracos da récita. No primeiro acto o desencontro entre os cantores e a orquestra foi uma constante e, para além disso, imprimiu um ritmo desadequado à obra, ora demasiado rápido, ora inexplicavelmente lento. Uma pena e uma surpresa, pois já o vi fazer bem melhor. Apesar dele, a orquestra esteve excelente. O coro também.

Guiseppe Gipali, tenor italiano, foi o duque de Mantua. Foi o outro ponto fraco da noite. A voz não é bonita nem potente, o timbre é aspro e a emissão irregular. Em cena é aceitável, a figura é boa, mas não foi convincente, sobretudo tendo em consideração os outros artistas com quem contracenou. Em la donna è mobile, a aria emblemática da personagem, esteve melhor que em tudo o resto mas, mesmo assim, aquém do desejável, sobretudo tendo em conta a qualidade dos restantes cantores.
Gilda foi interpretada por Patrizia Ciofi e foi uma das grandes figuras da noite. Soprano excelente, potente, seguro e à altura de todos os momentos exigentes a que a personagem obriga. Muito boa em cena, possuidora de uma boa figura para o papel, foi verdadeiramente brilhante. Em caro nome foi sublime e nos vários duetos com o pai transbordou emoção na voz.
Também excepcional foi Dmitri Hvorostovsky, barítono russo, que fez o papel de Rigoletto. Insuperável em palco, um verdadeiro actor, tem uma voz belíssima, colorida e capaz de expressar todas as emoções da personagem. E quanto à potência, esta é impressionante. Sem, nunca perder a beleza tímbrica, consegue ouvir-se sempre sobre a orquestra, quando esta toca forte. Como referi antes, os duetos com Gilda foram sublimes e em cortigiani vil razza dannata, transbordou angústia e desespero, impressionando mesmo os mais insensíveis.

Para além destas personagens principais, os papeis secundários foram também interpretados com invulgar qualidade. Ain Anger foi um Sparafucile poderoso e tenebroso, Sorin Coliban um Monterone muito credível, Nadia Krasteva uma Maddalena sensual e convincente e Donna Ellen uma Giovanna que não passou despercebida.
Um espectáculo verdadeiramente excepcional, dos melhores a que alguma vez assisti.

*****

1 comentário:

  1. Eu realmente não compreendo o que dá a estes maestros... Confiando na sua avaliação (e não é a primeira vez que se verifica), fazem hoje um trabalho excelente de 20 valores; amanhã, uma porcaria que até o director do S Carlos conseguiria fazer melhor (esmerando-se claro) escolhendo um Zé-Ninguém.
    Hvorostovsky é de facto excepcional em tudo o que faz. Diz-se que tem uma voz desadequada para Verdi, mas eu discordo completamente. Só o metem nas óperas russas porque ele é russo. Isto mostra a selectividade profissional da Renée Fleming, que agora quase que só canta com ele e com o Jonas Kaufmann. (E agora anda numa de fazer apenas os 'hostings' das produções da Met...)

    ResponderEliminar