Uma das óperas mais conhecidas de Verdi, Rigoletto foi um espectáculo notável na Wiener Staatsoper, apesar de não ter estado isento algumas contrariedades. A produção, de Sandro Sequi e Pantellis Dessyllas é clássica, deslumbrante, luxuosa, variada e, verdadeiramente, espectacular. Foi a melhor encenação do Rigolleto que alguma vez vi.
O maestro, Marco Armiliato, foi um dos poucos pontos fracos da récita. No primeiro acto o desencontro entre os cantores e a orquestra foi uma constante e, para além disso, imprimiu um ritmo desadequado à obra, ora demasiado rápido, ora inexplicavelmente lento. Uma pena e uma surpresa, pois já o vi fazer bem melhor. Apesar dele, a orquestra esteve excelente. O coro também.
Guiseppe Gipali, tenor italiano, foi o duque de Mantua. Foi o outro ponto fraco da noite. A voz não é bonita nem potente, o timbre é aspro e a emissão irregular. Em cena é aceitável, a figura é boa, mas não foi convincente, sobretudo tendo em consideração os outros artistas com quem contracenou. Em la donna è mobile, a aria emblemática da personagem, esteve melhor que em tudo o resto mas, mesmo assim, aquém do desejável, sobretudo tendo em conta a qualidade dos restantes cantores.
Gilda foi interpretada por Patrizia Ciofi e foi uma das grandes figuras da noite. Soprano excelente, potente, seguro e à altura de todos os momentos exigentes a que a personagem obriga. Muito boa em cena, possuidora de uma boa figura para o papel, foi verdadeiramente brilhante. Em caro nome foi sublime e nos vários duetos com o pai transbordou emoção na voz.
Também excepcional foi Dmitri Hvorostovsky, barítono russo, que fez o papel de Rigoletto. Insuperável em palco, um verdadeiro actor, tem uma voz belíssima, colorida e capaz de expressar todas as emoções da personagem. E quanto à potência, esta é impressionante. Sem, nunca perder a beleza tímbrica, consegue ouvir-se sempre sobre a orquestra, quando esta toca forte. Como referi antes, os duetos com Gilda foram sublimes e em cortigiani vil razza dannata, transbordou angústia e desespero, impressionando mesmo os mais insensíveis.
Para além destas personagens principais, os papeis secundários foram também interpretados com invulgar qualidade. Ain Anger foi um Sparafucile poderoso e tenebroso, Sorin Coliban um Monterone muito credível, Nadia Krasteva uma Maddalena sensual e convincente e Donna Ellen uma Giovanna que não passou despercebida.
Um espectáculo verdadeiramente excepcional, dos melhores a que alguma vez assisti.
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Eu realmente não compreendo o que dá a estes maestros... Confiando na sua avaliação (e não é a primeira vez que se verifica), fazem hoje um trabalho excelente de 20 valores; amanhã, uma porcaria que até o director do S Carlos conseguiria fazer melhor (esmerando-se claro) escolhendo um Zé-Ninguém.
ResponderEliminarHvorostovsky é de facto excepcional em tudo o que faz. Diz-se que tem uma voz desadequada para Verdi, mas eu discordo completamente. Só o metem nas óperas russas porque ele é russo. Isto mostra a selectividade profissional da Renée Fleming, que agora quase que só canta com ele e com o Jonas Kaufmann. (E agora anda numa de fazer apenas os 'hostings' das produções da Met...)