Texto de
wagner_fanatic
Leo Nucci volta a trazer-me à Arena de Verona. No ano passado, com o seu
Barbeiro de Sevilha, a noite foi especial, não só pela mais que provável
derradeira vez de o ouvir neste papel, mas também porque era a minha estreia na
Arena.
Este ano, foi diferente e acho que até mais especial. No ano da morte de
Franco Zeffirelli, a sua última encenação, esta La Traviata, era motivo que chegasse para a honra de a ela assistir
ao vivo. Mas a isto juntava-se Leo Nucci, superlativamente acompanhado por
Lisette Oropesa e Vittorio Grigolo.
Leo Nucci continua a ser um
fenómeno de longevidade, uma lenda viva, um Senhor da Ópera italiana. A voz
precisa de uns minutos para abrir mas é só isso. Depois, mantém-se igual no
tempo, agora, principalmente quando o ambiente lhe é propício (e o da Arena
assim o é), a elevar-se ainda mais, a modular as frases numa interpretação que
já confunde a personagem com o homem e cantor. Um dueto de Senhor com Violetta, um Di Provenza lírico e sentido, e um final de segundo acto marcante!
De Vittorio Grigolo já todos
conhecemos o seu histerionismo quer físico quer vocal... embora por vezes a
exceder-se e a roçar um pouco o ridículo interpretativo, o que é certo é que,
tirando estes poucos momentos, não deve haver cantor que consiga exprimir-se de
forma tão apaixonante. E é pena que tão poucos o consigam a este nível. O
início do segundo acto foi um desses momentos em que Grigolo, ao cantar/interpretar,
quase que parece estar a ter uma relação de índole sexual com a partitura. O Ogni suo aver tal femmina foi brutal,
contrastando emotivamente com o arrependimento que se segue. Um dos maiores
momentos da noite, claramente!
Lisette Oropesa é um fenómeno! A voz é
linda, boa projeção, agudos impecáveis e uma evolução interpretativa da
Violetta de qualidade muito rara!
Daniel Oren é um maestro incrível!
As caras que faz como que demenciado ou em estado pós-AVC, os gestos emotivos
que vão muito além da mera agitação de batuta, os grunhidos de paixão, o falar
com a orquestra no meio da ópera (gritou bem alto stacatto para as cordas porque não estavam a fazer devidamente) e o
agradecer com a imagem de marca dos braços este estendidos são um espetáculo fora
da ópera mas... dentro dela.
Zeffirelli foi recordado no final
com foto nos écrans das legendas, seguido de repetição do Libiamo ne’lieti calici em ambiente de festa e Oren a dirigir do
palco e a interagir com os cantores. No final, o agradecer especial junto das
bancadas, com um efusivo Grigolo a puxar por todos e um muito bem merecido
apoio motivacional de Nucci a Oropesa. São assim os grandes artistas. A Arena é
um espaço diferente, mágico, e sempre que nela se entra, na sua magnitude e
imponência, faz-nos sentir aconchegados, por incrível que possa parecer. É o
aconchego da ópera, o calor de quem a preenche e o espírito da sua história.
LA TRAVIATA,
Arena of Verona, August 2019
Text by
Wagner_fanatic.
Leo Nucci
brings me back to the Arena di Verona. Last year with his Barber of Seville,
the evening was special, not only for the most likely last time to hear him in
this role, but also because it was my Arena debut.
This year
was different and I think even more special. In the year of Franco Zeffirelli's
death, his last performance, this La
Traviata, was reason enough for the honor of watching it live. But to this
was added Leo Nucci, superlatively accompanied by Lisette Oropesa and Vittorio
Grigolo.
Leo Nucci remains a phenomenon of longevity, a living
legend, an Italian Opera Lord. The voice needs a few minutes to open but that's
all. Then he stays the same in time now, especially when the atmosphere is
right for him (and the Arena's is), to rise even higher, to modulate the
phrases into an interpretation that confuses the character with the man and
singer. A duet with Violetta, a
lyrical and meaningful Di Provenza,
and a remarkable second act ending!
From Vittorio Grigolo we all know his hysterionism,
both physical and vocal... although sometimes he goes overboard and touches a
little the ridiculous interpretation, which is certain that, apart from these
few moments, there should be no singer who can express himself so passionately.
And it is a pity that so few get it on this level. The beginning of the second
act was one of those moments when Grigolo singing / performing, almost seemed
to be having a sexual relationship with the score. The Ogni suo aver tal femmina was brutal, contrasting emotionally with the
ensuing regret. One of the biggest moments of the night, clearly!
Lisette Oropesa is a phenomenon! The voice is beautiful, good
projection, impeccable top notes and a very rare quality interpretative
evolution of Violetta!
Daniel Oren is an amazing conductor! The faces he makes as
if demented or post-stroke, the emotional gestures that go far beyond mere
baton shaking, the passionate grunts, the talking to the orchestra in the
middle of the opera (shouted loudly stacatto
to the strings because they weren't doing it properly) and thanking him with
the brand image of his outstretched arms is a sight outside the opera but ...
inside it.
Zeffirelli was remembered at the end with a photo on the
screen of the subtitles, followed by a repeat of Libiamo ne'lieti calici in a party atmosphere and Oren directing
the stage and interacting with the singers. In the end, special thanks to the
stands, with an effusive Grigolo pulling everyone and a well-deserved
motivational support from Nucci to Oropesa. These are the great artists. The
Arena is a different, magical space, and whenever you enter it, in its
magnitude and grandeur, it makes us feel cozy, incredible as it may seem. It is
the warmth of the opera, the warmth of its filler and the spirit of its
history.
Também estive numa destas récitas - suspeito que a mesma, dado o encore. Tenho opiniões muito diferentes sobre a Arena, que achei um espaço turístico e com uma acústica pouco envolvente que não ajudou particularmente Nucci. Quanto ao maestro Oren, achei-o excessivamente barulhento de onde eu estava; aliás, na Tosca foi um horror! Senti que vi um bom espetáculo mas, se tonha dúvidas sobre o anfiteatro, elas dissiparam-se quando ouvi o encore do brindisi... no final da ópera. Francamente achei a Arena de fugir!!
ResponderEliminarA única vez que fui à Arena foi em 1985, esperava um deslumbramento e tive o que esperava. Era a Cossotto, no Trovatore, com uma encenação vistosa e luxuosa. Na altura eu era muito verde em ópera e qualquer coisa me deixava feliz. A acústica era muito dispersiva, sim, mas o que contava mais era o legendário do local, e da soprano. Se fosse hoje se calhar, chato como sou com a qualidade do som, não gostaria. A orquestra, é sabido, não presta - e acho estranho que goste do Daniel Oren, para mim maestros quanto mais discretos melhor. Tomei boa nota da Lisette Oropesa, vou estar atento. Obrigado !
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