sábado, 19 de outubro de 2019

LA TRAVIATA, Arena di Verona, Agosto / August 2019



(text in English below)

Texto de wagner_fanatic

Leo Nucci volta a trazer-me à Arena de Verona. No ano passado, com o seu Barbeiro de Sevilha, a noite foi especial, não só pela mais que provável derradeira vez de o ouvir neste papel, mas também porque era a minha estreia na Arena.









Este ano, foi diferente e acho que até mais especial. No ano da morte de Franco Zeffirelli, a sua última encenação, esta La Traviata, era motivo que chegasse para a honra de a ela assistir ao vivo. Mas a isto juntava-se Leo Nucci, superlativamente acompanhado por Lisette Oropesa e Vittorio Grigolo.




Leo Nucci continua a ser um fenómeno de longevidade, uma lenda viva, um Senhor da Ópera italiana. A voz precisa de uns minutos para abrir mas é só isso. Depois, mantém-se igual no tempo, agora, principalmente quando o ambiente lhe é propício (e o da Arena assim o é), a elevar-se ainda mais, a modular as frases numa interpretação que já confunde a personagem com o homem e cantor.  Um dueto de Senhor com Violetta, um Di Provenza lírico e sentido, e um final de segundo acto marcante!







De Vittorio Grigolo já todos conhecemos o seu histerionismo quer físico quer vocal... embora por vezes a exceder-se e a roçar um pouco o ridículo interpretativo, o que é certo é que, tirando estes poucos momentos, não deve haver cantor que consiga exprimir-se de forma tão apaixonante. E é pena que tão poucos o consigam a este nível. O início do segundo acto foi um desses momentos em que Grigolo, ao cantar/interpretar, quase que parece estar a ter uma relação de índole sexual com a partitura. O Ogni suo aver tal femmina foi brutal, contrastando emotivamente com o arrependimento que se segue. Um dos maiores momentos da noite, claramente!







Lisette Oropesa é um fenómeno! A voz é linda, boa projeção, agudos impecáveis e uma evolução interpretativa da Violetta de qualidade muito rara!







Daniel Oren é um maestro incrível! As caras que faz como que demenciado ou em estado pós-AVC, os gestos emotivos que vão muito além da mera agitação de batuta, os grunhidos de paixão, o falar com a orquestra no meio da ópera (gritou bem alto stacatto para as cordas porque não estavam a fazer devidamente) e o agradecer com a imagem de marca dos braços este estendidos são um espetáculo fora da ópera mas... dentro dela.



Zeffirelli foi recordado no final com foto nos écrans das legendas, seguido de repetição do Libiamo ne’lieti calici em ambiente de festa e Oren a dirigir do palco e a interagir com os cantores. No final, o agradecer especial junto das bancadas, com um efusivo Grigolo a puxar por todos e um muito bem merecido apoio motivacional de Nucci a Oropesa. São assim os grandes artistas. A Arena é um espaço diferente, mágico, e sempre que nela se entra, na sua magnitude e imponência, faz-nos sentir aconchegados, por incrível que possa parecer. É o aconchego da ópera, o calor de quem a preenche e o espírito da sua história.








LA TRAVIATA, Arena of Verona, August 2019

Text by Wagner_fanatic.

Leo Nucci brings me back to the Arena di Verona. Last year with his Barber of Seville, the evening was special, not only for the most likely last time to hear him in this role, but also because it was my Arena debut.

This year was different and I think even more special. In the year of Franco Zeffirelli's death, his last performance, this La Traviata, was reason enough for the honor of watching it live. But to this was added Leo Nucci, superlatively accompanied by Lisette Oropesa and Vittorio Grigolo.

Leo Nucci remains a phenomenon of longevity, a living legend, an Italian Opera Lord. The voice needs a few minutes to open but that's all. Then he stays the same in time now, especially when the atmosphere is right for him (and the Arena's is), to rise even higher, to modulate the phrases into an interpretation that confuses the character with the man and singer. A duet with Violetta, a lyrical and meaningful Di Provenza, and a remarkable second act ending!

From Vittorio Grigolo we all know his hysterionism, both physical and vocal... although sometimes he goes overboard and touches a little the ridiculous interpretation, which is certain that, apart from these few moments, there should be no singer who can express himself so passionately. And it is a pity that so few get it on this level. The beginning of the second act was one of those moments when Grigolo singing / performing, almost seemed to be having a sexual relationship with the score. The Ogni suo aver tal femmina was brutal, contrasting emotionally with the ensuing regret. One of the biggest moments of the night, clearly!

Lisette Oropesa is a phenomenon! The voice is beautiful, good projection, impeccable top notes and a very rare quality interpretative evolution of Violetta!

Daniel Oren is an amazing conductor! The faces he makes as if demented or post-stroke, the emotional gestures that go far beyond mere baton shaking, the passionate grunts, the talking to the orchestra in the middle of the opera (shouted loudly stacatto to the strings because they weren't doing it properly) and thanking him with the brand image of his outstretched arms is a sight outside the opera but ... inside it.

Zeffirelli was remembered at the end with a photo on the screen of the subtitles, followed by a repeat of Libiamo ne'lieti calici in a party atmosphere and Oren directing the stage and interacting with the singers. In the end, special thanks to the stands, with an effusive Grigolo pulling everyone and a well-deserved motivational support from Nucci to Oropesa. These are the great artists. The Arena is a different, magical space, and whenever you enter it, in its magnitude and grandeur, it makes us feel cozy, incredible as it may seem. It is the warmth of the opera, the warmth of its filler and the spirit of its history.

2 comentários:

  1. Também estive numa destas récitas - suspeito que a mesma, dado o encore. Tenho opiniões muito diferentes sobre a Arena, que achei um espaço turístico e com uma acústica pouco envolvente que não ajudou particularmente Nucci. Quanto ao maestro Oren, achei-o excessivamente barulhento de onde eu estava; aliás, na Tosca foi um horror! Senti que vi um bom espetáculo mas, se tonha dúvidas sobre o anfiteatro, elas dissiparam-se quando ouvi o encore do brindisi... no final da ópera. Francamente achei a Arena de fugir!!

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  2. A única vez que fui à Arena foi em 1985, esperava um deslumbramento e tive o que esperava. Era a Cossotto, no Trovatore, com uma encenação vistosa e luxuosa. Na altura eu era muito verde em ópera e qualquer coisa me deixava feliz. A acústica era muito dispersiva, sim, mas o que contava mais era o legendário do local, e da soprano. Se fosse hoje se calhar, chato como sou com a qualidade do som, não gostaria. A orquestra, é sabido, não presta - e acho estranho que goste do Daniel Oren, para mim maestros quanto mais discretos melhor. Tomei boa nota da Lisette Oropesa, vou estar atento. Obrigado !

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