(review in English below)
A encenação da Turandot de Puccini na Royal Opera House
de Londres é da autoria de Andrei Serban
e tem já 33 anos. Como referido no programa de sala, é uma fantasia oriental de
grande impacto visual. O cenário tem por base uma construção em madeira de 3
andares onde o coro está na maioria das intervenções.
Todas as personagens
envergam máscaras. O colorido dos trajos e dos adereços é riquíssimo. Há um
corpo de baile acrobático omnipresente, representando guerreiros chineses.
Do
céu descem uma enorme lua, o gongo que o Calaf toca no final do 1º acto e o
imperador Altoum num trono dourado. Um grande dragão atravessa o palco mais de
uma vez. A princesa Turandot aparece ricamente vestida de branco ou de vermelho.
Só a morte da Liù, que corta o pescoço com a espada do carrasco, é pouco
conseguida. Enfim, é difícil descrever algo que é magnífico para ver.
O maestro Dan Ettinger cumpriu sem deslumbrar. A
orquestra e o coro foram magníficos. A música é muito bonita, mas isso não
justifica que lhe tenha dado primazia absoluta, afogando frequentemente os
cantores, como aconteceu.
Assiti a duas
récitas, com elencos diferentes nos solistas principais.
Primeira récita:
O príncipe Calaf
foi interpretado pelo tenor letão Aleksandrs
Antonenko. Esteve vocalmente muito bem, voz bem timbrada, cheia, com agudos
emitidos de forma aparentemente fácil e sem perderem qualidade. Contudo, por
vezes ouvia-se mal, não percebi bem se por culpa da orquestra, da encenação ou
do cantor.
A soprano russa Hibla Gerzmava fez uma Liu fora da
personagem. Tem uma voz excessivamente grande para o papel e não consegue
transmitir a doçura e fragilidade necessárias nesta que é a figura feminina
mais delicada da ópera. E em cena também não se destacou, foi sempre muito
estática, mas os outros solistas também não.
A princesa
Turandot foi interpretada pela soprano norte-americana Christine Goerke. É um dos seus papéis de referencia e interpretou-o
com grande autoridade. A voz é grande e poderosa, bem adaptada à personagem.
Foi a melhor em palco.
Ping, Pang e Pong
foram respectivamente Michel de Souza,
Aled Hall e Pavel Petrov. Os
três óptimos na movimentação cénica mas merece destaque o primeiro que mostrou
uma voz poderosa, bonita e sempre audível.
O jovem baixo
coreano In Sung Sim fez um Timur aceitável,
o sénior (71 anos) tenor inglês Robin Leggate cumpriu com distinção o Emperador Altoum
e o barítono ucraniano Yuriy Yurchuk foi um Mandarim muito discreto.
o sénior (71 anos) tenor inglês Robin Leggate cumpriu com distinção o Emperador Altoum
e o barítono ucraniano Yuriy Yurchuk foi um Mandarim muito discreto.
****
Segunda récita:
O príncipe Calaf
foi interpretado pelo tenor francês Roberto
Alagna. Os leitores deste blogue sabem que não é um cantor que admire mas
nesta récita esteve em grande forma. Voz sempre afinada e audível com agudos
claros e de qualidade. Manteve a boa qualidade interpretativa ao longo de toda
a récita. Foi uma das melhores interpretações que lhe ouvi.
A Liù foi
interpretada pela soprano polaca Aleksandra
Kurzak. Foi uma das melhores da noite. Tem uma voz de timbre muito
agradável, agudos fáceis e sem esforço e foi muito emotiva e expressiva na
interpretação. Até a ineficaz cena da morte conseguiu fazer de forma mais
credível.
A princesa Turandot
foi a soprano norte americana Lise
Lindstrom que é uma veterana nesta interpretação. Não esteve ao nível que a
já ouvi anteriormente. Tem um timbre muito agudo, próximo da estridência e
fazia um ruído estranho imediatamente antes de atacar as notas mais agudas. A
voz foi sempre bem audível e esteve muito bem em cena, mas não foi uma Turandot
memorável.
Ping, Pang e Pong
foram bem interpretados respectivamente por Leon Kosavic, Samuel Sakker e David
Junghoon Kim. Vozes muito dignas
e excelente movimentação em palco.
O baixo britânico
Brindley Sherratt fez um Timur de
grande qualidade, mostrando uma voz poderosa com um assinalável registo grave.
Os restantes
cantores foram os mesmos da primeira récita.
*****
A Turandot ideal
neste mês na Royal Opera House teria como solistas Christine Goerke como
Turandot, Roberto Alagna como Calaf, Aleksandra Kurzak como Liù, Brindley
Sherratt como Timur, e Michel de Souza, Aled Hall e Pavel Petrov como Ping,
Pang e Pong.
TURANDOT,
Royal Opera House, London, July 2017
The staging
of Puccini's Turandot at the Royal Opera
House in London is by Andrei Serban
and is now 33 years old. As stated in the room program, it is an oriental
fantasy of great visual impact. The setting is based on a 3-story wooden
construction where the choir is in most of the interventions. All characters
wear masks. The color of the costumes and the props is very rich. There are an
omnipresent acrobatic dancers, representing Chinese warriors. From the sky
descend a huge moon, the gong that the Calaf plays at the end of the 1st act
and the emperor Altoum on a golden throne. A great dragon crosses the stage
more than once. Princess Turandot appears richly dressed in white or red. Only
the death of Liù, who cuts the neck with the executioner's sword, is little
achieved. Anyway, it is difficult to describe something that is really magnificent
to see.
Conductor Dan Ettinger was ok without dazzling. The
orchestra and chorus were fantastic. The music is very beautiful, but that does
not justify giving it absolute primacy, often drowning the singers, as it
happened.
I watched
two recitals, with different casts on the main soloists.
First performance:
Prince
Calaf was played by Latvian tenor Aleksandrs
Antonenko. He was very well, full-featured voice, with top notes apparently
easy and without losing quality. However, sometimes he was suddenly barely
heard, I did not understand if it was the fault of the orchestra, the staging
or the singer.
Russian
soprano Hibla Gerzmava was a Liu out
of character. She has an excessively big voice for the role and fails to convey
the necessary sweetness and fragility in this most delicate female figure in the
opera. And on stage she also did not stand out, was always very static, but the
other soloists also were.
Princess Turandot
was interpreted by American soprano Christine
Goerke. It is one of her reference roles that she interpreted with great
authority. The voice is big and powerful, well adapted to the character. She
was the best on stage.
Ping, Pang
and Pong were respectively Michel de
Souza, Aled Hall and Pavel Petrov.
The three were great on stage but the first one deserves highlight because he
showed a powerful, beautiful and always audible voice.
The young
Korean bass In Sung Sim was an
acceptable Timur, senior (71 years) English tenor Robin Leggate fulfilled with distinction the role of Emperor Altoum
and Ukrainian baritone Yuriy Yurchuk
was a very discreet Mandarin.
****
Second performance:
Prince
Calaf was played by French tenor Roberto
Alagna. Readers of this blog know that he is not a singer who I admire but
in this performance he was great. The voice was always tuned and audible with
clear and quality top notes. He maintained good interpretive quality throughout
the performance. It was one of the best interpretations I heard from him.
Liù was
performed by Polish soprano Aleksandra
Kurzak. She was one of the best of the night. She has a very nice voice,
easy and effortless top notes and was very emotional and expressive in the
interpretation. Even the ineffectual death scene she was able to do it more
credibly.
Princess
Turandot was American soprano Lise
Lindstrom who is a veteran in this role. She was not to the level I've
heard her before. She has a very sharp timbre, close to stridency and made a
strange noise just before attacking the higher notes. The voice was always very
audible and she was very well on stage, but it was not a memorable Turandot.
Ping, Pang
and Pong were well played respectively by Leon
Kosavic, Samuel Sakker and David
Junghoon Kim. Very dignified voices and excellent stage movements.
British
bass Brindley Sherratt was a Timur
of great quality, showing a powerful voice with a remarkable bass register.
The remaining
singers were the same as in the first recital.
*****
The ideal
Turandot this month at the Royal Opera House would have as soloists Christine
Goerke as Turandot, Roberto Alagna as Calaf, Aleksandra Kurzak as Liù, Brindley
Sherratt as Timur, and Michel de Souza, Aled Hall and Pavel Petrov as Ping,
Pang and Pong.
Uma das récitas com Kurzak, Alagna e Lindstrom foi transmitida ao vivo no YouTube. Foi uma experiência muito interessante porque, sendo uma ópera que já conhecemos tão bem, muitos fanáticos de todo o mundo puderam comentar o espectáculo em tempo real pela primeira vez. Fomos muito menos entusiásticos do que o Fanatico_Um em relação ao Alagna. Kurzak foi muito louvada por um retrato deliberadamente nada convencional da Liù: mais do que a bonequinha romântica de Puccini, foi uma Liù racional e consequente. As opiniões quanto a Alagna e Lindstrom dividiram-se; Kurzak foi sem dúvida a mais elogiada online em tempo real.
ResponderEliminarEsta encenação de Andrei Serban e produção da Royal Opera House, vi-a em S. Carlos em Janeiro de 2004. De facto muito interessante.
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