sábado, 22 de abril de 2017

EUGENE ONEGIN, METropolitan Opera, Março / March 2017

(review in English below)

Esta produção da opera Eugene Onegin de Tchaikovski, novamente em cena na METropolitan Opera de Nova Iorque, foi já comentada neste blogue aqui e aqui.


A belíssima encenação de Deborah Warner, trazendo a acção para o final do Séc. XIX, é clássica mas de invulgar bom gosto.
O primeiro acto passa-se num ambiente rural russo, palco preenchido com muitos elementos apropriados e diversificados, incluindo frutas e legumes de colheitas. A componente religiosa é interessante. A cena da carta foi muito bem encenada mas poderia ter sido passada num ambiente mais intimista, como o quarto da Tatiana.


O segundo acto é muito rico no salão e nos trajes. A cena do duelo é lindíssima, fria, apenas com uns troncos desnudados de árvores.
O terceiro acto decorre em São Petersburgo, num salão de baile com colunas imponentes. Se tiver curiosidade em saber mais pormenores sobre a encenação, aconselho a leitura dos dois textos que acima referi.



A Orquestra e o Coro da Metropolitan Opera foram dirigidos pelo maestro Robin Ticciati que nos ofereceu uma leitura correcta e agradável da partitura.

A Tatiana foi interpretada por Anna Netrebko. Os leitores habituais deste espaço sabem a minha profunda admiração por esta cantora, que considero uma das melhores de sempre. Como Tatiana, Netrebko é insuperável. Tímida e introspectiva no início, transfigura-se para no final mostrar uma mulher fria, segura e determinada. A voz é sublime, uma beleza tímbrica inigualável, sempre afinada, projecção perfeita e pianissimi de arrepiar. Um privilégio raro ouvir a Netrebko nesta personagem.



O tenor Alexey Dolgov foi um Lenski de qualidade. A voz é particular, com um timbre invulgar, mas nem sempre a intensidade permitiu ouvir-se claramente sobre a orquestra. Contudo, nas intervenções principais, nomeadamente quando canta o Kuda, kuda… antes de morrer, esteve muito bem.



O barítono Mariusz Kwiecien foi um Onegin impecável, melhor que quando o ouvi anteriormente. A voz é excelente, sempre bem colocada e de grande beleza. A presença cénica é também óptima. Foi insensível e cruel com a Tatiana no primeiro acto, esboçou uma tímida aproximação (não correspondida) ao Lenski no 2º acto antes do duelo e mostrou arrependimento e desespero no final, quando rejeitado definitivamente pela Tatiana.



O príncipe Gremin foi o baixo Stefan Kocan que tem uma grande aria no 3º acto, interpretada ao mais alto nível. A voz é forte, melodiosa e o registo mais grave impressionante.



Os papéis secundários, com uma excepção, foram assegurados por cantoras russas de elevada qualidade, a saber, Elena Maximova como Olga, Elena Zaremba como Madame Larina e Larissa Diadkova como Filippyevna.





Triquet de Brian Downen foi muito fraco, sem desempenho cénico relevante e que mal se ouviu. Mas não estragou o espectáculo porque o papel é pequeno e, sobretudo, porque os outros foram de primeiríssima água!

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EUGENE ONEGIN, METropolitan Opera, March 2017

This production of Tchaikovski's opera Eugene Onegin, again on stage at the METropolitan Opera in New York, has already been commented on in this blog here and here.

Deborah Warner's beautiful staging, bringing the action to the end of the 19th century, is classic but of unusual quality.
The first act takes place in a Russian rural setting, stage richly filled with many appropriate elements including fruits and vegetables from crops. The religious component is interesting. The scene of the letter was very well staged but could have occurred in a more intimate setting, such as Tatiana's room.
The second act is very rich in the hall and in the costumes. The scene of the duel is beautiful, cold, with only bare trunks of trees.
The third act takes place in St. Petersburg, in a ballroom with imposing columns. If you are curious to know more details about the staging, I suggest the reading the two texts I mentioned above.

Orchestra and the Choir of the Metropolitan Opera were directed by maestro Robin Ticciati who offered us a correct and pleasant reading of the score.

Tatiana was interpreted by Anna Netrebko. The usual readers of this blog know my deep admiration for this singer, whom I consider one of the best ever. As Tatiana, Netrebko can not be beat. Shy and introspective at first, she transfigured to show a cold, secure and determined woman at the end. The voice is sublime, an indefinable tonal beauty, always in tune, perfect projection and shivering pianissimi. A rare privilege to listen to Netrebko in this character.

Tenor Alexey Dolgov was a quality Lenski. The voice is peculiar, with an unusual timbre, but could not always be clearly heard over the orchestra. However, in the main interventions, namely when singing Kuda, kuda ... before dying, he was very well.

Baritone Mariusz Kwiecien was an impeccable Onegin, better than when I heard him before. The voice is excellent, always well tuned and of great beauty. The scenic presence is also perfect. He was insensitive and almost cruel with Tatiana in the first act, sketched a timid (unrequited) approach to Lenski in the 2nd act, and showed regret and despair at the end, when finally rejected by Tatiana.

Prince Gremin was bass Stefan Kocan who has a great aria in the 3rd act, performed at the highest level. The voice is strong, melodious and the lowest register was impressive.

Secondary roles, with one exception, were sung by high-quality Russian singers, namely Elena Maximova as Olga, Elena Zaremba as Madame Larina and Larissa Diadkova as Filippyevna.

 Triquet by Brian Downen was very weak, with no relevant scenic performance and hardly heard. But he did not spoil the performance because his part is small and, especially, because the other soloists were of top quality!


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2 comentários:

  1. É o papel da vida da Netrebko, não acha ? Só vi em gravação (com Gergiev), não tenho coragem (saúde e finanças) para ir ao Met. Vai compensando ler aqui o seu entusiasmo, Fanático_Um. Continue que vai bem !

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  2. Concordo plenamente consigo, caro Fanático_Um, quando diz que é um privilégio raro ouvir a Netrebko nesta ópera.
    Mas deixe-me propor uma pequena reflexão complementar da sua excelente análise, pois que infelizmente também eu me limitei a ver o espectáculo na transmissão directa em vídeo do passado sábado 22 de Abril.
    Verifica-se assim que, três anos e meio depois, o MET volta a difundir no seu programa MET Opera Live a velha encenação de Deborah Warner para esta magnífica ópera de Tchaikovsky.
    Independentemente do valor da proposta cénica, esta reincidência é significativa.
    A encenação não mudou embora naturalmente, porque estamos a tratar de teatro, as concretas circunstâncias de cada espectáculo possam variar.
    Neste caso uma das variações, e essa muito fácil de detectar de imediato, foi a evolução ponderal da principal protagonista feminina: Netrebko continua a cantar o papel de Tatiana maravilhosamente bem, permanece uma intérprete excelente sob o ponto de vista da expressividade dramática, mas está muito mais pesada.
    E inevitavelmente esse facto determina, quer se queira quer não, que a verosimilhança da sua interpretação no primeiro acto desta ópera seja agora virtualmente nula.
    Em difusão vídeo, e dada a estética hollywoodesca adoptada pela realização, com grande número de grandes planos ou planos de pormenor, esta desadequação é enfatizada em comparação com a visão do espectáculo na sala.
    Que esta circunstância seja indiferente para uma parte substancial do público habitual de alguns teatros de ópera, e que tal indiferença seja aproveitada pelos directores dessas casas para delinearem as suas políticas de programação e difusão, pouco interessa em abstracto.
    Mas em verdade este é um dos motivos principais para compreender por que razão estes teatros vivem cada vez mais momentos de aperto financeiro e os seus programadores verificam que os públicos definham por falta de renovação e rejuvenescimento.
    Mais facilmente ainda se compreende também que divulgar em grande escala registos em vídeo cuja elaboração não tem em conta aquela circunstância não será uma forma sustentável de aumentar rendimentos ou renovar audiências.
    Mas esta compreensão não cabe aparentemente na perspectiva do MET.
    JAM - 23/04/2017

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