Manon Lescaut de G.
Puccini esteve em cena na Royal
Opera House de Londres em Dezembro de 2016.
A encenação de Jonathan Kent é das piores que vi até à
data. Transporta a acção para o Sec. XX e os cenários são sempre muito feios. O
primeiro acto é dominado por uma escada em caracol que dá acesso à estalagem
que se percebe ser um bordel. No segundo a Manon é representada
como uma prostituta mas o mau gosto de toda a cena, muito pirosa, impera. Não é
nem ousada nem agressiva, apenas muito feia. No terceiro acto, o embarque das
prostitutas deportadas para a América é substituído por um desfile com público,
comentado por um apresentador e filmado por uma cadeia de televisão, sem
qualquer mais valia cénica e sem se perceber para onde se dirigem. Finalmente,
no último, em vez do deserto na Luisiana há um viaduto rodoviário degradado e
elevado, no cimo do qual a Manon agoniza e morre e o Des Grieux desce e sobe
sem qualquer objectivo ou sentido. Uma encenação para não voltar a ver!
A direcção
musical, de qualidade superior, foi do maestro titular Antonio Pappano.
Sondra Radvanovsky, um dos melhores sopranos americanos da actualidade,
foi uma excelente Manon. Tem uma voz poderosíssima, bem timbrada e usada na
perfeição. A encenação não favorece nada a sua presença em palco, mas valeu
pela interpretação vocal.
O Des Grieux foi
interpretado pelo tenor italiano Massimo
Giordano que, apesar da boa figura para a personagem, teve uma
interpretação vocal irregular e banal, cumprindo sem empolgar.
Também tiveram
interpretações vocais aceitáveis o Lescaut, irmão da Manon, interpretado pelo
tenor húngaro Levente Molnár e o
Geronte de Revoir pelo baixo-barítono americano Eric Halvarson.
Deixo para o fim
o jovem tenor português Luís Gomes,
que fez um Edmondo de grande qualidade. As primeiras notas foram algo tímidas
mas soltou-se e ofereceu-nos uma interpretação sólida e muito expressiva, tanto
na componente vocal como na cénica.
Mas, no computo
final, diria que Puccini merecia muito melhor. As duas estrelas que atribuo (na
escala mais exigente aplicada às grandes catedrais da ópera) são uma para a
Radvanovsky e outra para o Luís Gomes, embora o Papanno e a Orquestra também
tenham estado muito bem.
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MANON LESCAUT,
Royal Opera House, London, December 2016
G. Puccini's Manon
Lescaut was on stage at the Royal
Opera House in London in December 2016.
Jonathan Kent's staging is one of the worst I have seen to
date. He Ttransported the action to Sec. XX and the scenarios are always very
ugly. The first act is dominated by a spiral staircase that gives access to the
inn that is perceived to be a brothel. In the second act Manon is represented as
a prostitute but the bad look of the whole scene, very pitiful, reigns. It is
neither scandalous nor aggressive, just very ugly. In the third act, the entry
of the prostitutes in a ship to be deported to America was replaced by a parade
with public, commented by a presenter and filmed by a television chain, without
any scenic surplus value and without the understanding of where they were
headed. Finally, in the 4th act, instead of the Louisiana desert there was a
dilapidated and elevated road viaduct, at the top of which Manon dies and the
Des Grieux descends and rises without any purpose or meaning. A production not
to see again!
The musical
direction, of superior quality was by conductor Antonio Pappano.
Sondra Radvanovsky, one of the current best American sopranos,
was an excellent Manon. She has a very powerful voice, nice timbre and used in
perfection. The staging does not favor her presence on stage, but the vocal
interpretation was worth.
Des Grieux
was played by Italian tenor Massimo
Giordano who, despite the good figure for the character, had an irregular
and banal vocal interpretation. He was ok without being enthusiastic.
Also good
vocal interpretations were Lescaut, brother of Manon, played by Hungarian tenor
Levente Molnár and Geronte de Revoir
by the American baritone Eric Halvarson.
I leave to
the end the young Portuguese tenor Luís
Gomes, who made an Edmondo of great quality. The first notes were somewhat
timid but afterwords he offered us a solid and very expressive interpretation,
both in the vocal component and in the scenic.
But in the
end, I would say that Puccini deserved better. The two stars I assign (on the
most demanding scale applied to the great opera cathedrals) are one for
Radvanovsky and one for Luís Gomes, although the Papanno and the Orchestra have
also been very good.
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A bem dizer, um barrete. Concordo consigo em tudo, Fanático_Um, estive lá na sexta-feira 2, e o que teria a acrescentar era só um mais violento desagrado. A Manon nunca deve ter sido tão mal tratada. Canta ao sol e ao lindo dia, e está encerrada numa câmara de horrores em vermelho escuro. Canta que está a morrer num deserto e que não há nada nada à volta, e está a rastejar sobre um viaduto de cimento iluminado por lampiões. Água não deve haver ali, não. Cantam-lhe a beleza e o belo seio, e está despida de cabaret, decadente, tipo Moulin Rouge. Eu, se fosse à Sondra, tinha recusado aparecer assim desfeada e grotesca. Não se pode cantar umas palavras tão opostas à situação que se vive com um mínimo de convicção e sentimento. Todos debitaram o texto de qualquer maneira. A própria música foi debitada de qualquer maneira.
ResponderEliminarEssa gente não percebe que está a torturar a obra ?
Assistimos à mesma récita, Mário. Um barrete, como diz, o que não é frequente na ROH, mas nenhuma casa de ópera está a salvo destas encenações assassinas infelizmente tão frequentes na actualidade.
EliminarQue soco no estômago! Fico contente por saber mais um português singra em Covent Garden.
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