(review in English below)
Turandot, de G. Puccini, foi novamente à
cena em na Metropolitan Opera, na
velhinha encenação de Franco Zeffirelli.
É um espectáculo
muito vistoso, cheio de cor e movimento, mas a encenação é já muito datada.
Contudo, ainda é aplaudida pelo público, nomeadamente no início do 2º acto,
algo que, quando se consideram as verdadeiras catedrais de ópera, só se vê por
aqui.
A Orquestra e Coro da Metropolitan Opera tiveram uma actuação de grande qualidade.
Foram dirigidos pelo maestro Paolo
Carignani. Já quanto aos cantores, infelizmente não foi assim, apesar
estarmos a falar de intérpretes de todo, de quem esperamos sempre que nos
surpreendam positivamente.
A Turandot foi
interpretada pela soprano norte-americana Christine
Goerke. Tem uma voz respeitável, bem audível e colocada, mas muito dura e
sem sombra de emoção. Se nas intervenções iniciais do 2º acto essa postura até
pode ser deliberada, no final não pode ser assim. E não basta cantar, há que tentar
representar, sobretudo numa encenação como esta.
O tenor argentino
Marcelo Álvarez foi um príncipe
Calaf pouco convincente. Foi a pior interpretação que lhe ouvi até à data. No
início ouvia-se mal, foi sempre estático em palco e, mesmo na aria Nessum dorma, esteve aquém do desejável,
nomeadamente no final. A voz é bem timbrada, mas foi muito parado e manteve
quase sempre o mesmo tom, sem emotividade.
Liu foi a soprano
russa Hibla Gerzmava que também não
me convenceu. Tem uma voz potente mas cantou sempre em força, o que não é nada
ajustado ao papel. Só no último acto conseguiu transmitir alguma emoção na aria
final, onde utilizou outras características vocais para além da força,
nomeadamente algumas bonitas notas no registo mais agudo.
O baixo americano
James Morris foi um Timur aceitável,
apesar de o cantor já denotar importantes dificuldades vocais.
Ping foi Dwayne Croft, Pang Tony Stevenson, Pong Eduardo
Valdes e o imperador Ronald Naldi. Os três primeiros estiveram bem, mas o último
mal se ouviu.
Enfim, um
espectáculo aquém das expectativas, mas que foi muito aplaudido, como acontece
sempre por aqui.
***
TURANDOT -
Metropolitan Opera, New York, October 2015
Turandot by G.
Puccini, was again onstage in the
Metropolitan Opera, with the old staging by Franco Zeffirelli.
It is a
very rich performance, full of color and movement, but the scenario is dated.
However, it is still applauded by the public, particularly at the start of the
2nd act. When considering the true cathedrals of opera, this behaviour is only
seen here.
The
orchestra and choir of the Metropolitan Opera had a fine performance, under the
direction of Maestro Paolo Carignani.
As for the singers, unfortunately we did not have the best, although we are
talking about top interpreters, from whom I always expect to be positively
surprised.
Turandot
was interpreted by the American soprano Christine
Goerke. She has a respectable voice, audible and well tuned, but very tough
and emotionless. If in the initial interventions of the 2nd act this behaviour
may even be deliberate, in the end of the opera, it should not be so. And the
artists are supposed not just to sing, but also to try to act, especially in a staging
like this.
Argentine
tenor Marcelo Álvarez was a lame
Prince Calaf. It was the worst interpretation I heard from him up to date. In
the beginning he was badly heard, was unconvincing on stage, and even in the
aria Nessum dorma, there was much to
be desired, especially at the end. His voice has a nice timbre, but he was very
static and often maintained the same tone, without emotion.
Liu was
Russian soprano Hilba Gerzmava which
also did not convince me. She has a powerful voice but always sang in force,
which is nothing adjusted to the role. Only in the last act she managed to
convey some emotion in the final aria, when she used other vocal
characteristics in addition to force, including some beautiful notes in the
high register.
American
bass James Morris was an acceptable
Timur, although the singer has denoted important vocal difficulties.
Ping was Dwayne Croft, Pang was Tony Stevenson, Pong was Eduardo Valdes, and the emperor was Ronald Naldi. The first three were
good, but the latter was barely audible.
A
performance well below my expectations, but that was much applauded, as always
happens here.
***
A propósito dos aplausos no segundo acto, fez-me lembrar de uma vez em que fui ver a Dama de Espadas no Mariinsky; portanto repertório mais do que habitué na região. A encenação, dos anos 50, já era velhinha quando esta estreou. Havia uma cena espectacular num palácio rococó, com cenários de pano exuberantes. 60 anos depois, o público ainda aplaudiu quando a cortina abriu. Aparentemente, o que era bom antigamente continua a ser bom para quem nunca viu o já esqueceu!
ResponderEliminarÉ verdade Plácido Zacarias. Com as porcarias que se vêm cada vez mais nas encenações actuais, mais vale apreciarmos as mais antigas e datadas mas que, pelo menos, são perceptíveis e fieis à obra.
EliminarReparei agora que a tal encenação já foi substituída pouco tempo depois de eu a ver. Aproveito para deixar uma foto da tal cena http://postimg.org/image/4d01r9vwt/ ao vivo era uma coisa impressionante...
EliminarDesta vez salva-se a encenação mas não convencem as vozes. Que pena. É de facto um milagre quando tudo está coerente e a bom nível.
ResponderEliminarMelhor sorte para a próxima, Fanático_um !
Tudo coerente e a bom nível é o que sempre desejamos mas, infelizmente, raramente temos. Amanhã a Gulbenkian transmitirá em directo esta ópera, nesta encenação. Apesar de, nestas transmissões, se perder muito do efeito cénico e de haver alguma "batota" com as vozes, as cantoras solistas, sobretudo a Nina Stemme, prometem uma interpretação inesquecível. Já o tenor... enfim, veremos (e, sobretudo, ouviremos...).
Eliminar