(Fotografia Bernard Contant /ONP)
Il Barbiere di Siviglia, ópera em dois
actos de Gioacchino Rossini está em
cena na Ópera National de Paris (Bastille).
Libreto:
Cesare Sterbini, segundo a comédia de Pierre-Augustin Caron de Beaumarchais
Direcção musical: Carlo
Montanaro
Encenação: Damiano
Michieletto
Cenografia: Paolo
Fantin
Roupas: Silvia
Aymonino
Luzes: Fabio Barettin
Il Conte d’Almaviva: René
Barbera
Bartolo: Carlo Lepore
Rosina: Karine
Deshayes
Figaro: Dalibor Jenis
Basilio: Orlin
Anastassov
Fiorello: Tiago Matos
Berta: Cornelia
Oncioiu
Um oficial: Lucio
Prete
Orchestre de l’Opéra national de Paris
Choeur de l’Opéra national de Paris Dir: José
Luis Basso
Produção: Grand Théâtre de Genève
Uma lufada
de ar fresco esta produção do “Barbeiro” que a ópera de Paris foi buscar a
Genève, O mérito é todo de Damiano Michieletto, o encenador, e este espectáculo
confirma-o como um dos mais estimulantes autores do panorama operático europeu
actual. Juntamente com o cenógrafo Paolo Fantin e a figurinista Silvia
Aymonino, Michieletto consegue apresentar-nos a obra de Rossini como se
estivéssemos a ver a ópera pela primeira vez.
(Fotografia Bernard Contant /ONP)
E não é
apenas o facto de ter transposto para a actualidade o tempo da acção, artifício
vulgar nos dias de hoje, e nos apresentar como cenário uma rua de um bairro
popular sevilhano, que fundamenta aquela sensação de actualidade. Em primeiro
lugar, tudo aquilo que se passa em cena decorre a um ritmo vertiginoso que nos
identifica de imediato com o estilo contemporâneo da vida urbana, e
que é afinal o tempo da música rossiniana,
Para além
deste facto, o sucessivo encadeamento de cenas da ópera, que nas versões
cénicas tradicionais pode por vezes aparecer como um conjunto de números brilhantes
colados uns aos outros por enfadonhas pausas de recitativos, surge aqui
com uma fluência a que não estamos habituados no palco. Esta fluência resulta
do tratamento cénico da obra: encenador e cenógrafo abordam a ópera numa
perspectiva cinematográfica, e desse modo toda a acção ganha uma nova dinâmica
adquirindo consistência e unidade globais.
(Fotografia Bernard Contant /ONP)
Como no
cinema, a montagem é aqui o elemento fundamental para a obtenção de uma
coerência global da obra. Neste caso, a mobilização do cenário introduz uma terceira
dimensão espacial na narrativa, que deixa de ser vista como um conjunto de
quadros justapostos e surge como uma verdadeira sequência cinematográfica. A
forma como encenador e cenógrafo conseguem este efeito demonstra, para além do
domínio da habilidade técnica, grande inteligência. Esta revela-se em momentos
brilhantes, como a encenação da famosa ária Largo al factotum como
uma vertiginosa corrida por todo o prédio de Bartolo, como um verdadeiro
plano-sequência de filme, ou a localização da ária La calunnia na passagem de um vão de escada,
com a paralela ilustração contemporânea da chuva de tablóides que acompanha o
seu final.
Também o
desempenho cénico dos intérpretes reflecte a proposta do encenador e a sua
perspectiva global da obra, num registo naturalista mais característico de
alguma estética cinematográfica do que da convenção teatral. São deliciosas as
cenas finais do primeiro acto, bem como a utilização de um dos elementos
da guarda para, antes do início da função, multar o teclista no fosso por
desobediência.
A direcção
de Carlo Montanaro, apesar de revelar por vezes alguma dificuldade em
controlar orquestra e cantores, não obstruiu o brilho geral do espectáculo.
(Fotografia Bernard Contant /ONP)
Dalibor
Jenis fez um Figaro correcto, demonstrando que suporta muito bem a passagem do
tempo. Já Karine Deshayes (Rosina), revelou-se um pouco velha para o
papel. René Barbera, o conde de Almaviva, mostrou grandes qualidades
vocais, mas menor capacidade cénica. Os baixos Bartolo e Basilio estiveram
bem. Foi porém Cornelia Oncioiu, no papel de Berta, que brilhou no
conjunto, pelo apogeu vocal e à vontade cénico exibidos.
O jovem
português Tiago Matos (Fiorello) confirmou tratar-se de um barítono a cuja
carreira haverá que estar atento.
José António Miranda
Em nome dos
“Fanáticos da Ópera” agradecemos a José
António Miranda a sua óptima contribuição, esperando que esta seja uma
primeira de várias que venham a enriquecer este espaço.
Parece muito interessante! O problema das encenações actualizadas é frequentemente a operacionalização e não o conceito. Eu próprio assisti a um Otello há 2 semanas cuja encenação tinha ideias de primeiríssima ordem mas a concretização estava muito fraca.
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