(Review in English below)
(Fotos da internet)
A FCG
apresentou a ópera Written on Skin
de George Benjamin. O compositor
britânico compô-la em 2012 para o Festival
Aix-en-Provence e recebeu uma óptima recepção da crítica especializada.
Saíram críticas com frases como «a melhor ópera dos últimos 20 anos» ou
descrições como «apaixonada, sensualmente bela, terrivelmente dramática». O
libreto ficou a cargo de Martin Crimp
que se baseou num manuscrito anónimo do século XIII.
O texto é rico e interessante, tratando
temáticas como o poder, o género, a mulher como objecto, a submissão ou a fuga
para a libertação. Mas também trata do amor, da arte, da morte, da violência
física e verbal, ou do suicídio. É uma obra que se divide em Primeira, Segunda
e Terceira partes sem intervalo, podendo ler-se uma sinopse e um interessante
texto introdutório de Susana Duarte nesta ligação.
A Orquestra
Gulbenkian apresentou-se num nível muito elevado sob direcção do próprio
compositor — George Benjamin. A
música é, no meu entender, interessante, explorando várias tonalidades
harmónicas e com um elevado sentido dramático. É música contemporânea de
inegável qualidade e que merece uma audição atenta e despreconceituosa. Penso
que o pouco público presente lhe soube dar valor.
Os cantores estiveram num plano muito
elevado. O canto não era tecnicamente fácil e a expressividade e dramatismo
constantes exigiam uma presença e entrega totais. Isto para não falar de que,
apesar de em muitos momentos o volume sonoro da orquestra não ser fácil de
combater, os cantores revelaram sempre facilidade em ouvir-se.
Christopher
Purves, barítono inglês,
esteve num nível elevadíssimo. Expressividade dramática vocal e corporal
excelentes, voz de colocação e potência magníficas, além de um timbre muito
agradável. O melhor do trio de personagens principais.
Elin
Rombo, soprano sueca foi uma
Agnès também excepcional. Voz com um timbre bonito, óptima amplitude vocal,
projecção de nível (a soar sempre por cima da orquestra: destaque para o final
da Segunda parte). Tem, também, uma excelente expressividade corporal e
ofereceu uma interpretação dramática intensa.
Tim
Mead, contratenor inglês,
fez de Anjo 1 e de Rapaz. A voz surpreendeu-me pela qualidade e timbre de beleza muito invulgar. Teve
uma interpretação de muito elevada qualidade. Aliás, este trio esteve brutal!
Depois, em papéis mais pequenos, tivemos o
meio-soprano Victoria Simmonds como
Anjo2/Marie e o tenor Rupert
Charlesworth como Anjo3/John em bom plano.
Foi, pois, uma récita bem interessante com
destaque para a qualidade da Orquestra
FCG e para o trio Purves, Rombo e Mead, além, obviamente, do compositor Benjamin.
Fica uma pequena entrevista do compositor para a ROH.
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(Review in English)
The FCG presented the opera Written on Skin by George Benjamin. The British composer presented it in 2012 for the Festival Aix-en-Provence and received a
great reception from critic. There were critics saying "the best opera of the last 20 years” or descriptions as "passionate, sensuously beautiful, terribly
dramatic". Martin Crimp
that was based on an anonymous manuscript of the thirteenth century did the
libretto.
The text is rich and
interesting, dealing with themes such as power, gender, woman as object,
submission or escape to freedom. But comes to love, art, death, physical and
verbal violence, or suicide. It is a work that is divided into First, Second
and Third parties without intermission, and you can read a synopsis and an
interesting introductory text by Susana Duarte at this link.
The Gulbenkian Orchestra has performed at a very high under the
direction of the composer himself — George
Benjamin. The music is, in my view, interesting, exploring various harmonics
and high dramatic sense tonalities. It is contemporary music of undeniable
quality and deserves an attentive and unprejudiced hearing. I think the little
audience in the hall knew to value it.
The singers were on a very
high level. The singing was not technically easy and dramatic expressiveness required
a constant presence and total giving. Not to mention that, although many times
the loudness of the orchestra were not be easy to surpass, the singers always
proved easier to hear.
Christopher Purves, English baritone, was on a very high level. Excellent dramatic vocal and
corporal expressiveness, and voice placement and magnificent power, plus a very
nice timbre. He was the best singer within the main characters’ trio.
Elin Rombo, Swedish soprano was an Agnès equally exceptional. Voice with a
beautiful timbre, great vocal range, projection of high level quality (always
soar above the orchestra: highlight to the end of the Second Part). She also
has a great body expressiveness and offered an intense dramatic interpretation
Tim Mead, English countertenor, did Angel 1 and Boy. The voice surprised me by
the quality and timbre. He had an interpretation of very high quality. Indeed,
this trio was amazing!
Then, in smaller roles, had at
good level the mezzo-soprano Victoria
Simmonds as Angel 2/Marie and tenor Rupert
Charlesworth as Angel3/John.
It was therefore a very
interesting recitation highlighting the quality of FCG Orchestra and the trio Purves,
Rombo and Mead, besides, obviously, the composer Benjamin.
Também estive presente e confesso a minha dificuldade em sentir prazer com música contemporânea como esta. A Gulbenkian estava às moscas. Os solistas foram excelentes. Christopher Purves e Elin Rombo fabulosos. Mas, ainda assim, foi uma obra de audição penosa para mim.
ResponderEliminarManuel Mourato - 26/05/2014
EliminarEstive presente no espetaculo do dia 23. Também verifiquei a boa qualidade dos cantores, nomeadamente do barítono, contudo não consegui aguentar até ao fim. Estas obras contemporâneas, geralmente parecem-se todas umas com as outras, nomeadamnete nas orquestrações, demasiado extridentes e nada agradaveis ao ouvido.