quinta-feira, 4 de abril de 2013

RUSALKA, Liceu, Barcelona, Janeiro de 2013


(review in English below)

 Rusalka é uma ópera do compositor checo Antonín Dvorák com libreto de Jaroslav Kvapil. Trata-se de um conto de fadas romântico que relata a história de uma ninfa aquática, Rusalka, que se apaixona por homem, um príncipe. Conta a sua paixão a um génio aquático das ninfas, Vodnik. Consulta a bruxa Jezibaba que a avisa que se assumir a forma humana perderá a voz e, se for traída, será amaldiçoada para sempre. Rusalka assume a forma humana e o príncipe, ao vê-la, fica deslumbrado com a sua beleza e leva-a para o palácio. Contudo, ela não fala, o que intriga todos. Surge uma princesa estrangeira e o príncipe apaixona-se por ela. Rusalka, rejeitada, desaparece num lago, condenada por Vodnik e ignorada pelas suas irmãs ninfas. Jezibaba diz-lhe que só se salvará se matar o príncipe, mas ela recusa. O príncipe pede perdão e um beijo a Rusalka. Ela avisa-o, em vão, que isso o condenará. Beija-o, ele morre e ela desaparece nas águas.


 A encenação de Stefan Herheim não deixa ninguém indiferente. Os cenários e sua mudança e a movimentação das personagens em palco são excelentes. Já a mensagem é outra coisa… A acção é trazida para os dias de hoje. No início chove, várias pessoas entram numa estação de metro onde uma mulher mal vestida (Jezibaba) vende flores. Toda a movimentação se repete duas vezes, antes do início da música.


 Há uma igreja no palco. Rusalka é uma prostituta e Vodnik o chulo. As outras ninfas são também prostitutas, e trabalham num bar. O vitral da igreja transforma-se numa iluminação nocturna móvel.Também há uma montra tapada por um estor com um graffiti em forma de dragão. O estor sobe e a montra é de uma sex shop com bonecas insufladas Tudo com ambiente decadente. Surge o príncipe que é um marinheiro que procura prostitutas.


 Começa um sonho e as prostitutas transformam-se em ninfas, a sexshop passa a uma loja de vestidos de noiva e Rusalka sai com um desses vestidos para casar com o príncipe. A estação de metro transforma-se numa florista bonita de nome Jezibaba. O príncipe não consegue comunicar com Rusalka, conhece a princesa estrangeira e vai com ela para o andar de cima da casa onde era a sex shop / casa de noivas, mas agora é um talho. Vê-se pela janela que têm relações sexuais. No palco, o coro surge vestido com fatos muito garridos e que também, nas mulheres, imitam nudez obesa e de mamas grandes e descaídas. Aparecem criaturas marítimas com cabeças de peixe, polvo e outros. Todos simulam relações sexuais em palco. Nos camarotes laterais do teatro aparece o príncipe e a princesa estrangeira, ainda à procura de peças de roupa. Por toda a plateia surgem os figurantes e cantores que tentam interagir com o público.


 Rusalka surge do céu sobre uma meia lua e é rejeitada pelo príncipe. Da igreja surgem umas freiras com as mamas de fora, com punhais para matarem Rusalka. Esta é convidada para matar o príncipe, mas não o faz. Avisa-o que se a beijar ele morre, o que acontece. Entretanto Vodnik assassina no quarto a princesa estrangeira. As ninfas nadam para fora de água e acaba o sonho de Rusalka.
No cenário inicial, chega a polícia, prende o chulo, retira o cadáver da mulher assassinada e Rusalka, prostituta, sai com um novo cliente.
Em resumo, uma encenação delirante, vistosa, completamente fora do habitual mas, apesar de tudo, interessante.

A direcção musical foi do maestro Andrew Davis que dirigiu a Orquestra Sinfónica e o Coro do Teatro do Liceu de Barcelona.





De uma maneira geral, os cantores principais cumpriram mas as vozes pareceram pequenas para a dimensão do teatro.

Camilla Nylund, soprano finlandesa, foi uma Rusalka de voz aceitável mas, frequentemente, pouco potente e com perda de qualidade quando cantou em forte. Mas cumpriu o papel e esteve muito bem cenicamente.


 O príncipe foi o excelente tenor alemão Klaus Florian Vogt que não atingiu a minha expectativa. Tem um timbre muito bonito, claro, mas a potência ficou aquém do desejável. O desempenho cénico também não impressionou.


A princesa estrangeira foi interpretada pelo soprano norte americano Emily Magee que foi bem audível mas pouco melodiosa na abordagem que fez ao papel.


 Günther Groissböck, baixo austríaco, esteve muito bem, o papel é extenso e manteve a qualidade ao longo de toda a récita. Tem uma voz cativante, apesar de não extraordinária.


 A bruxa Jezibaba foi interpretada pelo mezzo húngaro Ildikó Komiósi. A voz é respeitável mas teve uma prestação algo irregular ao longo da récita.

Os cantores dos papéis secundários cumpriram.








 Uma Rusalka diferente, delirante, mas interessante. Foi pena as interpretações vocais não terem estado ao nível da encenação..

***

RUSALKA, Liceu, Barcelona, ​​January 2013

Rusalka is an opera by Czech composer Antonín Dvorák with libretto by Jaroslav Kvapil. It is a romantic fairy tale that tells the story of a nymph water, Rusalka, who falls in love for a man, a Prince. She confesses her passion to the Water Spirit Vodnik. She speaks with the witch Jezibaba that warns her that if she assumes a human form she will loose her voice and, if betrayed, she will be cursed forever. Rusalka assumes a human form and the Prince, seeing her, is impressed by her beauty and takes her to the palace. However, she does not speak, what intrigues everyone. A foreign princess arrives and the Prince falls in love with her. Rusalka, rejected, disappears into a lake, convicted by Vodnik and ignored by her sister nymphs. Jezibaba tells her that she will be saved only if she kilsl the Prince, but she refuses. The Prince asks Rusalka for forgiveness and for a kiss. She warns him, in vain, that that will kill him. He kisses her, he dies, and she disappears into the waters.

The staging of Stefan Herheim does not leave anyone indifferent. Scenarios, their dynamics and the movement of the characters on stage are excellent. However, the message is something else ... The action is brought to the present days. At the start it rains, many people enter a subway station where a poorly dressed woman (Jezibaba) sells flowers. The whole movement of characters is repeated twice before the music starts.

On stage there is also a church. Rusalka is a prostitute and Vodnik is the owner of the prostitute business. The other nymphs are also prostitutes, and work in a bar.The stained glass of the church becomes a night lighting motif. There is also a storefront shop covered by a curtain with graffiti in dragon form. The curtain rises and the storefront is a  sex shop with inflated dolls Everything in decadent environment. The Prince appears, he is a sailor looking for prostitutes.

A dream begins and prostitutes turn into nymphs, the sexshop becomes a store of wedding dresses and Rusalka comes out with a marriage dres, to marry the prince. The metro station turns into a beautiful florist store named Jezibaba. But the prince can not communicate with Rusalka, He meets a foreign princess and goes with her to the house where the bride dresses were sold, but now it is a butcher. We see through the window that they have sex. On stage, the members of the chorus appear dressed in gaudy suits. The women appear obese and mimic nudity with big and droopy tits. Water creatures with heads of fish, octopus and others also appear. They all mimic sex on stage. At the areas where the public is, the singers appear and try to interact with the public.

Rusalka comes from heaven on a moon and is rejected by the prince. From the church arise nuns with boobs out, with daggers to kill Rusalka. She is asked to kill the prince, but she refuses. She tells him that if he kisses her, he dies. that is what happens. Meanwhile, Vodnik murders the foreign princess in the room. The nymphs swim out of the water and Rusalka’s dream ends.
The police arrives, arrest Vodnik, takes the corpse of the murdered woman, and Rusalka, a prostitute, gets a new client.
In summary, a delusional, effective, completely out of the “usual” staging but, nonetheless, interesting.

Musical direction was by maestro Andrew Davis who directed the Symphony Orchestra and Chorus of the Teatro del Liceu in Barcelona.

Globally, the soloists were ok but their voices seemed small for the size of the theater.

Camilla Nylund, Finnish soprano, was a Rusalka with a steady voice but, frequently, underpowered and with loss of quality when singing in forte. But she was ok in the role and her artistic performance was good.

The prince was the great German tenor Klaus Florian Vogt that fell short of my expectation. He has a beautiful light timbre but the power of the voice was short for the theater.His artistic performance was not impressive.

The foreign princess was interpreted by North American soprano Emily Magee. She was well audible but little melodious in her approach to the role.

Günther Groissböck, Austrian bass, was very good, his part is extensive and he maintained the quality throughout the entire performance. He has an interesting voice, though not extraordinary.

The witch Jezibaba was interpreted by Hungarian mezzo Ildikó Komiósi. The voice is respectable but she was irregular along the performance.

The singers of secondary roles were ok.

A different and delusional.Rusalka.

***

4 comentários:

  1. Pelo que aqui leio, não é uma "Rusalka" que me apeteça ver. Aliás, vi um bocadinho da transmissão quando a produção estreou em Bruxelas e desisti. Pobre Rusalka!

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    1. É uma encenação que não deixa ninguém indiferente, Paulo. Mas eu que habitualmente não gosto nada de encenações modernas, passadas umas semanas, não deixo de lhe reconhecer algum interesse, apesar de ser totalmente delirante. E os cantores não ajudaram nada à qualidade da récita...

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  2. Caro Fanático,
    mais uma vez "ouvi" a sua crônica!
    A descrição das cenas foi "vista"!
    O surrealismo da transposição de época foi muito arrojada e pelas fotos pude ver que cenários e figurinos estavam maravilhosos. Já pude ver cantores se tornarem quase inaudíveis em função das grandes dimensões do teatro.
    Parabéns pelo texto e um grande abraço de todos do atelier

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  3. Hey,classis music lovers,as usual perfect cronical!
    Springtime greetings from Gent,Willy

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