domingo, 14 de abril de 2013

IL TROVATORE de Giuseppe Verdi no Teatro Nacional de São Carlos, 14.04.2013


(Review in English below)


A ópera Il Trovatore de Giuseppe Verdi foi estreada a 19 de Janeiro de 1853 no Teatro Apollo em Roma. O libretista foi o italiano Salvador Cammarano que se baseou na peça El trovador do espanhol Antonio García Gutiérez. É uma das mais famosas óperas de Verdi e foi a 21.ª ópera mais representada entre 2007 e 2012.


A encenação ficou a cargo de Francesco Esposito. Decidiu modernizar a ópera que se passa no século XV. O problema maior é que o texto está cheio de referências a situações e coisas não transponíveis para os tempos de hoje: guerras de condes, espadas, cercos a castelos, etc. Utilizou estruturas metálicas com painéis para fazer edifícios de betão. Transformou os homens do Conde em guerreiros com metralhadoras. O castelo numa camarata militar com beliches. Azucena é uma cigana com medalhas militares alcoólica temida pelos militares. Em suma, pode dizer-se que, apesar de a história se seguir, a encenação estava totalmente desadequada ao século XV e não houve esforço de uma real adaptação aos tempos de hoje.


A Orquestra Sinfónica Portuguesa não estiveram em grande plano. Martin André teve uma interpretação muito irregular no tempo, com desencontros frequentes com os solistas, muito pouco clara no som e com alguns naipes a falhar (os sopros no famoso coro que abre o 2.º acto) e a apostar em finais demasiado... apoteóticos...


Os solistas também não foram brilhantes.
O soprano italiano Rachele Stanisci foi Leonora. A voz tem um timbre ligeiramente sujo e não é especialmente belo. Teve uma interpretação cénica aceitável, embora a direcção de actores a tenha feito ser histérica: sempre a apontar-se uma arma à cabeça. Mas a interpretação vocal esteve longe de ser magnífica com muitas estridências nos agudos.

O mezzo-soprano italiano Agostina Smimmero foi Azucena. Cenicamente esteve em bom plano, conseguindo transmitir os sentimentos trágicos da ópera, nomeadamente quando conta a Manrico a morte da mãe e do seu filho. Vocalmente, apesar de não ter a voz potente e timbre escuro em toda a amplitude vocal típica dos mezzo verdianos, foi regular e teve a interpretação mais conseguida da récita.


O tenor sérvio Ivan Momirov foi Manrico. Apesar de após o intervalo do 2.º acto ter sido anunciado que o tenor estava indisposto e que, ainda assim, iria continuar, teve uma interpretação vocal sofrível. É verdade que tem potência vocal e que foi sempre audível, mas o timbre da voz não é agradável, esteve sempre em esforço para atingir as notas agudas e tem um tom lamurioso.

O barítono letão Valdis Jansons foi Il Conte di Luna. Cenicamente teve uma postura um pouco estática e, vocalmente foi regular, apesar de alguma dificuldade na projecção ao início.

O baixo italiano Giovanni Furlanetto foi Ferrando. Teve uma interpretação cénica eficaz e vocalmente, embora regular, não encantou.

Os restantes elementos têm papéis demasiado menores para se fazer uma avaliação.


Assim, pode afirmar-se que se assistiu a uma récita homogénea, mas pautada pela diminuta qualidade vocal e orquestral com uma encenação pouco adequada ao texto. Tendo em conta a escassez de recursos, continua a não ser compreensível o porquê de se apostar em cantores estrangeiros e não nos portugueses que nem oportunidade para se mostrar têm, o mesmo se aplicando aos encenadores. Porque não ir buscar aos caixotes do TNSC uma encenação das antigas?

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(Review in English)

The opera Il Trovatore of Guiseppe Verdi had its premiere in January 19, 1853 at the Teatro Apollo in Rome. The Italian Salvador Cammarano wrote the libretto that was based on the Spanish play El trobador by Antonio García Gutierez. It is one of the most famous operas of Verdi and was 21st most represented opera between 2007 and 2012.

Francesco Esposito did the staging decided to modernize the opera that takes place in the fifteenth century. The bigger problem is that the text is full of references to situations and things do not translated to modern times: wars between counts, swords, castles sieges, etc. Metal structures were used to make concrete buildings. Cout’s men were turned men into warriors with lot of guns. The castle was transformed in a military dormitory with bunk beds. Gypsy Azucena is an alcoholic with military medals feared by the military. In short, it can be said that although the storyline is followed, the scenario was totally inadequate to the fifteenth century and there was no real effort to adapt it to modern times.

The Portuguese Symphony Orchestra was not in good plan. Martin André had an interpretation very irregular in tempo, with frequent clashes with the soloists and bet on apotheotic finales…

The soloists were not brilliant.
The Italian soprano Rachele Stanisci was Leonora. The voice has a timbre slightly dirty and not especially beautiful. She had an acceptable scenic interpretation, although the direction of the actors has done her to be hysterical: always pointing a gun up to her head. But the vocal interpretation was far from the shrillness, shouting pitch notes a lot.
The Italian mezzo-soprano Agostina Smimmero was Azucena. Scenically she was in good plan, managing to convey the feelings of the tragic opera, particularly when tells Manrico her mother and son deaths. Vocally, despite not having a powerful voice and dark tone throughout the vocal range of typical Verdian mezzo, she was regular.
The tenor Manrico was Serbian Ivan Momirov. Although after the 2nd intermission has been announced that the tenor was unwell and that he still will continue, he had an insufficient vocal interpretation. He has vocal power and was always audible, but his timbre is not pleasant, he was always in effort to reach the high notes and has a plaintive tone.
The Latvian baritone Valdis Jansons was Il Conte di Luna. Scenically he was slightly static and vocally was regular, although with some difficulties in vocal projection at the beginning.
The Italian bass Giovanni Furlanetto was Ferrando. Scenically he had an effective interpretation and vocally, although regular, he did not charmed.
The remaining elements have roles too minor to make an assessment.

Thus, it can be said that there has been a regular performance uniform, but guided by faulty quality at orchestral and vocal levels with a staging not adapted to text. Given the scarcity of resources, it is still not understandable why to invest in foreign singers and not the Portuguese who neither have the opportunity to show them. The same applies to directors. Why not pick up on TNSC’s archives an old good stage?

6 comentários:

  1. Discordo em relação a quase tudo--gostei muito do espectáculo!! Tenho de acabar umas coisas urgentes, mas já escrevi a crítica. Mais logo, depois de reler, publico-a! Cumprimentos aos amigos fanáticos!

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  2. Também estive presente e é com tristeza que deixo as seguintes notas:
    Pôr em cena o Trovador é um acto arrojado que exige, entre outras coisas, cantores capazes para os papeis principais.
    Não posso estar mais de acordo consigo, camo_opera, quando sugere que a maioria das interpretações deveria ter sido entregue a cantores portugueses. atendendo ao que vimos e ouvimos nestes estrangeiros.

    O soprano começou muito mal, mais a gritar que a cantar, embora tenha melhorado ao longo da récita, mas revelou fragilidades marcantes nas notas mais agudas. O baixo não tinha graves e o barítono ouvia-se mal sempre que a orquestra soava um pouco mais forte. O tenor nem vou comentar, mas vamos admitir que a sua prestação foi por que estava "indisposto", como nos comunicaram. O mezzo foi, ainda assim, a melhor, apesar de a encenação não a ter ajudado nada (nem a nenhum dos outros!)..
    Mas, para mim, o pior de tudo foi o maestro André. Os desencontros foram constantes, o ritmo que imprimiu foi, por vezes, excessivamente rápido, causando dificuldades aos cantores e tirando beleza à obra musical (o melhor exemplo foi na "Stride la vampa!!" da Azucena, mas houve outros) e fez uma direcção tão ruidosa que quase dava vontade de dizer um schiiii! em plena actuação!

    Na situação actual em que termos a possibilidade de assistir a uma ópera encenada é um presente raro, é com muita mágoa que escrevo estes comentários mas, com todos os condicionalismos actuais, confesso que esperava muito melhor!

    E confiem nos canotres portugueses e dêem-lhes papéis mais relevantes!

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  3. Assisti à récita de Domingo. Concordo plenamente com a crítica inicial. Para quê gastar dinheiro com cantores estrangeiros de 2ª categoria, em vez de dar oportunidade aos cantores portugueses, os quais ficam sempre com os papéis menores. Ou então, se não há dinheiro para fazer um programa com qualidade, porque não fazer uma só ópera, em vez de três, mas com com interpretes de 1º plano. Depois de ouvir um Manrico e uma Leonora tão más, não falando do resto, saí desta récita extremamente desiludido, a desejar que as próximas duas sejam melhores. 15/04/2013 M. Mourato

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  4. A título de curiosidade, refira-se que Ivan Momirov já havia cantado este mesmo papel em São Carlos, designadamente, na produção levada à cena em 2002, protagonizada pelo malogrado Salvatore Licitra.

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  5. Também estive presente e concordo com o que foi dito pelo camo_opera. Pessoalmente não tenho nada contra encenações modernas de óperas, aliás já assisti a algumas muito bem conseguidas e de enorme sucesso. Porquê?! Porque assentaram na história e nos seus personagens como base. Penso que este caso é um daqueles crassos onde se parte de um conceito estético para depois se adaptar o drama o que na minha opinião é logo um mau começo. Bem sei que partir do drama para depois lhe aplicar um conceito de estética é bem mais difícil pois a base de uma produção é feita a partir da direcção de actores e não num superficial "modelling" que, estou certo, deve resultar muito bonito no papel mas que realmente deixam ao espectador as incoerências citadas acima. Quanto ao canto, que é (ou deveria ser) sempre o factor principal de uma ópera, como extensão da voz falada e como veículo condutor do drama fico-me apenas também pela constatação que aos portugueses não são dadas oportunidades. Realmente este país é cruel com a sua gente e de facto, depois de algumas boas prestações por cantores nacionais nos últimos tempos, percebe-se que o grande problema dos cantores portugueses em Portugal é terem nacionalidade portuguesa. Nenhum serve para papeis de relevência, mas qualquer badameco pode vir estrear-se em S. Carlos que, mesmo sendo mediocre, já não há problema!. Não é só no canto, o provincianismo d' "o que vem de fora é que é bom" está no ADN nacional, o mesmo que apenas contrata estrangeiros para os lugares decisores da nossa Cultura.

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  6. E preparam-se para o que vem aí para o Rigoletto. Mais arrojado era impossível. E mais não posso dizer.

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