quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

O OURO DO RENO (DAS RHEINGOLD) – Royal Opera House, Londres – 26 Outubro 2012



Cinco anos depois, precisamente no mesmo dia do mês de Outubro, 370 dias depois de comprar os bilhetes, voltei a iniciar um Ciclo completo do Anel do Nibelungo. O local? O mesmo, a eterna Royal Opera em Londres. A produção? A mesma, da dupla Keith Warner e  Stefanos Lazaridis, o último infelizmente falecido há 2 anos, sem poder assistir e participar mais activamente nesta reposição.

Este Ouro do Reno (do quarto e último ciclo) foi sublime! A encenação sempre me fascinou pela preocupação pelo detalhe e pelo respeito pelos leitmotiv e pelo texto. De particular prazer foi rever como as maças de Freia estão visualmente presentes, principalmente após esta ser levada pelos gigantes. Quando Wotan e Loge estão em Niedelheim, Wotan enfraquece fisicamente por momentos e pede a Loge que lhe dê uma das maças que restou para trincar. Também interessante o facto de Alberich beijar o anel na mão de Wotan quando o amaldiçoa e, igualmente, beija a ponta da lança depois como que procurando ser duplamente eficaz na premonição. O respeito pelos leitmotiv é identificado quando Wotan cumprimenta a fortaleza no final da ópera e se ouve, pela primeira vez, o tema da espada Notung. Aqui Fricka dá a espada a Wotan e ele expõe a mesma durante esta passagem. No final, ao contrário de todos os deuses que seguem para Walhalla, subindo escadotes, Wotan não o faz e atira-se para um buraco central do palco onde, pouco tempo antes, surgiu Erda a avisar da maldição do anel.

Antonio Pappano continua a conseguir um som excelente e um pace perfeito. Realço o calcanhar de aquiles de qualquer orquestra wagneriana e que são os metais. Desta vez estiveram superlativamente bem.

Nos cantores, a grande afirmação, para mim, foi o Alberich de Wolfgang Koch. Excelente interpretação, com presença de palco e expressividade emocional a um nível tocante e inspirador. A terceira cena da ópera e a passagem da maldição forma momentos operáticos acima da média.


Sarah Connolly foi outra afirmação de nível. Com a sua já mais que conhecida e exaltada voz de mezzo, fez uma Fricka emotiva, principalmente em relação com o dilema de Freia.


Bryn Terfel, visivelmente mais magro, em muito bom momento vocal, e imponente como o Rei dos Deuses.


Iain Paterson e Eric Halfvarson estiveram marcantes vocal e cenicamente, destacando-se a emotividade/humanidade de Paterson e a voz autoritária de Halfvarson que eu julgava perdida  depois de a não ter sentido no seu Gurnemanz em Barcelona.


Gerhard Siegel esteve bem como Mime mas o seu grande papel será em Siegfried.


Stig Anderson fez um Loge simples mas com presença, ficando talvez só a faltar aquele timbre especial que pede a personagem.



Peter Coleman Wright tem postura pouco máscula em palco o que tornou, a par com pouca assertividade vocal, um Donner pouco credível.


Andrew Rees cumpriu com qualidade o papel de Froh assim como Ann Petersen como Freia.



Um excelente início de ciclo!


As restantes óperas neste blog nos próximos dias.



DAS RHEINGOLD – Royal Opera House, London – October 26, 2012

Five years later, precisely on the same day of October, 370 days after purchase tickets, I took another great operatic adventure for the second time in my life: to start a full cycle of the Ring of the Nibelung. The venue? The same, the eternal Royal Opera in London. The production? The same, the one by the duo Keith Warner and Stefanos Lazaridis, the latter who sadly died 2 years ago, unable to attend and participate more actively in this reinstalment.


This Das Rhinegold (of the fourth and last cycle) was sublime! The staging has always fascinated me by the concern for the detail and respect for the text and the leitmotives. Of particular delight was to review how the apples of Freia are visually present, especially after she is taken away by the giants. When Wotan and Loge are in Niedelheim, Wotan physically weakens momentarily and asks Loge which gives him one last apple that has remained in order to give him strenght. Also interesting is the fact that Alberich kisses the ring on the hand of Wotan when he curses it and also kisses the tip of the spear as doubling the curse. The respect for the leitmotives is identified when Wotan greets the fortress at the end of the opera and is heard, for the first time, the theme of the sword Notung. Here, Fricka gives the sword to Wotan and he exposes the same during this passage. In the end, unlike all the gods who follow to Walhalla, climbing ladders, Wotan does not and throws himself into a hole in the center stage where, shortly before, Erda appeared to warn about the curse of the ring.

Antonio Pappano still gets a great sound from the Orchestra and is capable of a perfect pace.

In singers, a great affirmation for me was the Alberich of Wolfgang Koch. Excellent interpretation, stage presence and emotional expressiveness to a touching and inspiring level. The third scene of the opera and the passage of the curse form operatic moments above average.



Sarah Connolly was another superb present. With her more than already known and exalted voice of mezzo, she made an emotional Fricka, mainly in relation with the dilemma of Freia.


Bryn Terfel, noticeably slimmer, in a very good vocal moment and impressive as the King of the Gods.


Iain Paterson and Eric Halfvarson were vocal and scenically striking, highlighting the emotions / humanity of Paterson and the authoritative voice of Halfvarson which I thought lost after not having felt it in his Gurnemanz in Barcelona.


Gerhard Siegel as Mime was quite good but his moment in the role will be in Siegfried.


Stig Anderson made a simple but with presence Loge, perhaps just missing that special timbre that the character asks.


Peter Coleman Wright has little manly posture on stage in what became, along with low vocal assertiveness, a unreliable Donner.


Andrew Rees has fulfilled the role of Froh with quality and Ann Petersen as well as Freia.



A great beginning of Cycle!


The other operas in the upcoming days.


4 comentários:

  1. Caro wagner_fanatic,
    Obrigado por este seu expressivo relato e pelas excelentes fotografias!
    Assistir a um Anel completo é sempre um marco nas nossas vidas.
    Se tudo correr como espero, terei também esse privilégio em Janeiro, em Munique.

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  2. Quando é que os Fanáticos vão a Bayreuth?!

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  3. Caro Plácido Zacarias,

    Só começamos a pedir bilhetes o ano passado... e a espera e oportunidade é sempre escassa, como sabe.

    Bayreuth fascina-me pessoalmente mais por ser o Festival. Na minha humilde opinião (e não é mecanismo de defesa do Ego por não conseguir bilhete), acho que não estamos numa época áurea em Bayreuth e isso pode-se ir vendo pelos DVDs e pelas produções transmitidas na rádio. Acho que existe bom e melhor Wagner noutros teatros.

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    1. Caro Wagner_fanatic,
      Pelas minhas pesquisas, se forem persistentes ao solicitar bilhetes por correio, dentro de 6 anos serão chamados! Parece que a lista de espera chegou a ultrapassar uma década--nos ditos períodos áureos. Todavia, segundo Katharina Wagner, tem ocorrido diminuição da procura de bilhetes.
      Conheço um estudante de música que me disse que um amigo conseguiu um bilhete para este passado festival por via de amigos da orquestra. Tenho de perguntar-lhe sobre as novidades!
      Pelo que tenho lido, estou convencido que o espírito da Festspielhaus reside no culto wagneriano como se de uma religião se tratasse; a acústica, a estética concebida pelo próprio mestre e todo o ambiente da mais honesta admiração, aliada às tradições rígidas e protocolos de cada representação e intervalos, etc, criam o ambiente perfeito.
      Muitas vezes, queixamo-nos das tosses. Ora aí está: coisas tão irrelevantes nos causam más impressões tão significativas. Em Bayreuth, esses obstáculos são ultrapassados e, independentemente do que está no palco, a qualidade da música e do ambiente é garantida (excepto os assentos, que parecem muito desconfortáveis).
      Por outro lado, pensando da extensão dos intervalos e na importância que lhes dão, faz sentido pensar que o espírito wagneriano é de discussão, argumentação--e não só fruição da arte--, o que justifica aquilo que nós, que não estamos na festsplielhaus, pensamos ser um período menos positivo.
      Estou convencido de que, por esses motivos, Bayreuth deve ser uma experiência única. Mais ano, menos ano, começarei a encomendar bilhetes na esperança de os receber 6 anos depois!

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