(review in english below)
O modo como Mozart relativiza o eventual sucesso ou fracasso
da sua última Ópera é, no mínimo, brilhante: se falhasse acabava por não ser
inesperado porque ele nunca havia escrito uma ópera mágica.
Podemos ver A Flauta Mágica de dois modos: como uma história
simples, onde comédia se entrelaça com momentos mais sérios, num misto de
emoções, sentimentos e valores simples tidos como o bem, em oposição a tudo o
que no nosso íntimo sabemos ser o mal; ou então mergulhar nos valores da
Maçonaria e das ideias do Iluminismo ao mais alto pormenor. Não sou nem nunca
serei um especialista pelo que não me vejo capaz de vos falar sobre esta última
maneira de abordar a obra mas convido-vos a ler a página do seguinte link,
entre as muitas que podem ser encontradas na internet: http://foundation.ctfreemasons.net/index.php/assorted-masonic-writings/53-die-zauberflote-masonic-elements-within-the-libretto-and-the-music.html
René Jacobs voltou à Fundação Calouste Gulbenkian pelo 3º
ano consecutivo e com Mozart. Se o ano passado La Finta Giardiniera já havia
possibilitado uma récita que, embora em versão de concerto, expandia este
conceito ao transportar aquilo que de mais é importante numa boa produção
operática – a capacidade cénica de cada interveniente (além da capacidade e
interpretação vocal), este ano as coisas foram muito mais além e com uma
qualidade a que a Flauta Mágica se
predispõe talvez por, no fundo, ser mágica...
Com a Orquestra Akademie für Alte Musik Berlim em absoluta
sintonia com o espírito mozartiano, em perfeita sintonia com Jacobs, e
transpondo um som equivalente ao triplo do seu tamanho, com uma precisão
notável, acabou por ser abraçada por cantores de excelente qualidade que
aproveitaram o espaço anterior e posterior para uma interpretação como se de
uma casa de ópera clássica se tratasse, com os maravilhosos jardins da
Gulbenkian como fundo. Se escutarem a brilhante gravação desta obra por Jacobs
que saiu em 2010, imaginarão, se não estiveram presentes, os diversos efeitos
especiais da mesma que pudemos escutar igualmente e ajudaram, com tudo o resto,
a criar um ambiente teatral apaixonante.
É difícil destacar alguém de um elenco que esteve
globalmente a um nível de qualidade superior mas não se pode deixar de referir
alguns aspectos mais positivos e negativos. O Papageno de Daniel Schmutzhard
foi magnífico, altamente cómico, fazendo o contraste esperado em relação a
Tamino, e a sua interação com a Papagena de Sunhae Im foi deliciosa de se ver.
As três damas, Inga Kalna, Anna Grevelius e Isabelle Druet, foram sublimes
vocalmente. Kurt Azesberger fez um
Monostatos clássico. Burçu Uyar prometeu muito no primeiro acto, na célebre
ária “O zitt’re nicht, mein lieber Sonn” ao revelar excelência na articulação,
potência vocal e fraseado mas na grande prova da ópera para esta personagem e
talvez para todo o soprano na História da Música, na ária do 2º acto “Der Holle
Rache kocht in meinem Herzen” não chegou aos
célebres Fás agudos de forma a se
ouvirem, o que deixou um ligeiro sentimento de desilusão que invariavelmente não
pode deixar de assombrar tudo o resto que fez com uma qualidade acima da média.
Topi Lehtipuu esteve muito bem, embora com alguma insegurança nos agudos e um
timbre que se espera mais cristalino para o papel (o meu preferido da
actualidade: Pavel Breslik). Miah Persson,
Markus Fink, Thomas E. Bauer e Joachim Buhrmann estiveram excelentes, com o papel de Pamina a não
ter suficientes agudos que destacassem o vibrato da cantora sueca. Uma palavra de incentivo para os 3 rapazes que estiveram muito bem. O RIAS-Kammerchoir esteve magnífico.
Acho que assistimos a mais um dos maiores momentos da
Fundação dos últimos anos e esperemos que Jacobs volte na próxima temporada. Eu
gostaria que trouxesse “Il Re Pastore” mas, outros preferirão possivelmente outra
obra do génio de Salzburgo?
THE MAGIC FLUTE - Calouste Gulbenkian Foundation - November
25, 2012
The way Mozart relativizes the eventual success or failure
of his last opera is at least brilliant: if it failed would eventually not be
unexpected because he had never written a magical opera.
We can see The Magic Flute in two ways: as a simple story
where comedy is intertwined with more serious moments, a mix of emotions,
feelings and values simply taken as good, as opposed to all that we know in
our hearts to be evil , or dive in the values of Freemasonry and ideas of the
Enlightenment to the highest detail. I am not nor ever will be an expert so do
not see myself able to talk to you about this latest approach to the work but I
invite you to read the next link among the many that can be found on the
internet:
René Jacobs returned to the Calouste Gulbenkian Foundation
for the 3rd consecutive year and again with Mozart. If last year's La Finta
Giardiniera had enabled a night that while in concert version, expanded this
concept to carry more of what is important in a good operatic production - the
scenic ability of each singer (despite the ability and vocal interpretation)
This year things were much further and with a quality that the Magic Flute predisposes
because, deep down inside, it is magic...
With the Akademie für Alte Musik Orchestra Berlin in
absolute harmony with the Mozartian spirit, in perfect harmony with Jacobs, and
transposing a sound equivalent to three times its size, with outstanding
accuracy, was embraced by singers who took advantage of the excellent quality
space in front and back to an interpretation as in a classical opera house,
with the beautiful Gulbenkian gardens as background. If you listen to the
recording of this brilliant work by Jacobs from 2010, you can imagine the live
aspects of the various special effects that we just listen and also helped with
everything else, to create a fascinating theatrical environment.
It is difficult to highlight someone in a cast who was at a
generally higher level of quality but one can not fail to mention some positive
and negative aspects. The Papageno by Daniel Schmutzhard was magnificent, highly
humorous, making the contrast expected in relation to Tamino, and his
interaction with Papagena of Sunhae Im was delightful to watch. The three
ladies, Inga Kalna, Anna Grevelius and Isabelle Druet, were vocally sublime. Kurt Azesberger did a classic Monostatos. Burçu Uyar promised much in the first
act, in the famous aria "O zitt're nicht, mein lieber Sonn" to prove
excellence in articulation, phrasing and vocal power but in the opera greatest
test for this character and maybe for any soprano in the History of Music, in
the aria of the 2nd act "Der Holle Rache kocht in meinem Herzen" she
did not not reach the famous high Fs and we did not hear any sound, which left
a slight sense of disappointment that invariably can not but haunt everything
else that she made in an above the average quality. Topi Lehtipuu sang very
well, albeit with some uncertainty in the high notes and a less crystalline pitthc
than expected for the role (my favorite in presente days: Pavel Breslik). Miah
Persson, Markus Fink, Thomas E. Bauer and Joachim Buhrmann were excellent, with the role of Pamina
not having enough high notes to highlight the Swedish singer's less pretty vibrato. A special note for the delightful 3 boys. The RIAS-Kammerchoir was magnificent.
I think we have witnessed one of the greatest moments of the
past years at the Calouste Gulbenkian Foundation and I hope Jacobs returns next
season. I would like him to bring “Il Re Pastore” but possibly others prefer
another work of the Genius from Salzburg?
Caro wagner_fanatic,
ResponderEliminarTambém tive o privilégio de assistir a este espectáculo. Foi, para mim, excelente. A orquestra e o coro, sem mácula. Nos solistas, de qualidade superior, tenho pequenas discordâncias.
Achei o Tamino, de Lehtipuu, ocasionalmente frágil, embora possuidor de um timbre bonito.
A Rainha da Noite de Uyar foi uma revelação. Uma cantora de voz encorpada, marcante e possuidora de um soprano que sai da norma mais habitual para a personagem, em que é nas notas mais agudas que brilha. Uyar fez mais do que "cantar" as notas, sobretudo no primeiro acto, concordo, e ofereceu-nos uma interpretação diferente mas, para mim, marcante. Sunhae Im, a Papagena de serviço, tem o tipo de soprano que se coaduna com os agudos mais habituais da Rainha da Noite, mas não é a mesma coisa...
No computo global, para mim, o primeiro espectáculo da temporada em que atribuo *****
If you did not heard the F notes to Burcu Uyar, you must have a big problem in your ears... I was there and she was spectacular, exceptional...
ResponderEliminarPerhaps you understood wrongly what I said... She definitely failed the ones after the arpeggios - the highest pitch notes of the aria. I am sorry, but she did fail there...
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