segunda-feira, 26 de novembro de 2012

A FLAUTA MÁGICA / DIE ZAUBERFLÖTE– Fundação Calouste Gulbenkian – 25 de Novembro 2012


(review in english below)




O modo como Mozart relativiza o eventual sucesso ou fracasso da sua última Ópera é, no mínimo, brilhante: se falhasse acabava por não ser inesperado porque ele nunca havia escrito uma ópera mágica.

Podemos ver A Flauta Mágica de dois modos: como uma história simples, onde comédia se entrelaça com momentos mais sérios, num misto de emoções, sentimentos e valores simples tidos como o bem, em oposição a tudo o que no nosso íntimo sabemos ser o mal; ou então mergulhar nos valores da Maçonaria e das ideias do Iluminismo ao mais alto pormenor. Não sou nem nunca serei um especialista pelo que não me vejo capaz de vos falar sobre esta última maneira de abordar a obra mas convido-vos a ler a página do seguinte link, entre as muitas que podem ser encontradas na internet: http://foundation.ctfreemasons.net/index.php/assorted-masonic-writings/53-die-zauberflote-masonic-elements-within-the-libretto-and-the-music.html

René Jacobs voltou à Fundação Calouste Gulbenkian pelo 3º ano consecutivo e com Mozart. Se o ano passado La Finta Giardiniera já havia possibilitado uma récita que, embora em versão de concerto, expandia este conceito ao transportar aquilo que de mais é importante numa boa produção operática – a capacidade cénica de cada interveniente (além da capacidade e interpretação vocal), este ano as coisas foram muito mais além e com uma qualidade a que a Flauta Mágica se predispõe talvez por, no fundo, ser mágica...

Com a Orquestra Akademie für Alte Musik Berlim em absoluta sintonia com o espírito mozartiano, em perfeita sintonia com Jacobs, e transpondo um som equivalente ao triplo do seu tamanho, com uma precisão notável, acabou por ser abraçada por cantores de excelente qualidade que aproveitaram o espaço anterior e posterior para uma interpretação como se de uma casa de ópera clássica se tratasse, com os maravilhosos jardins da Gulbenkian como fundo. Se escutarem a brilhante gravação desta obra por Jacobs que saiu em 2010, imaginarão, se não estiveram presentes, os diversos efeitos especiais da mesma que pudemos escutar igualmente e ajudaram, com tudo o resto, a criar um ambiente teatral apaixonante.

É difícil destacar alguém de um elenco que esteve globalmente a um nível de qualidade superior mas não se pode deixar de referir alguns aspectos mais positivos e negativos. O Papageno de Daniel Schmutzhard foi magnífico, altamente cómico, fazendo o contraste esperado em relação a Tamino, e a sua interação com a Papagena de Sunhae Im foi deliciosa de se ver. As três damas, Inga Kalna, Anna Grevelius e Isabelle Druet, foram sublimes vocalmente. Kurt Azesberger fez um Monostatos clássico. Burçu Uyar prometeu muito no primeiro acto, na célebre ária “O zitt’re nicht, mein lieber Sonn” ao revelar excelência na articulação, potência vocal e fraseado mas na grande prova da ópera para esta personagem e talvez para todo o soprano na História da Música, na ária do 2º acto “Der Holle Rache kocht in meinem Herzen” não chegou aos  célebres  Fás agudos de forma a se ouvirem, o que deixou um ligeiro sentimento de desilusão que invariavelmente não pode deixar de assombrar tudo o resto que fez com uma qualidade acima da média. Topi Lehtipuu esteve muito bem, embora com alguma insegurança nos agudos e um timbre que se espera mais cristalino para o papel (o meu preferido da actualidade: Pavel Breslik). Miah Persson, Markus Fink, Thomas E. Bauer e Joachim Buhrmann estiveram excelentes, com o papel de Pamina a não ter suficientes agudos que destacassem o vibrato da cantora sueca. Uma palavra de incentivo para os 3 rapazes que estiveram muito bem. O RIAS-Kammerchoir esteve magnífico.

Acho que assistimos a mais um dos maiores momentos da Fundação dos últimos anos e esperemos que Jacobs volte na próxima temporada. Eu gostaria que trouxesse “Il Re Pastore” mas, outros preferirão possivelmente outra obra do génio de Salzburgo?





THE MAGIC FLUTE - Calouste Gulbenkian Foundation - November 25, 2012


The way Mozart relativizes the eventual success or failure of his last opera is at least brilliant: if it failed would eventually not be unexpected because he had never written a magical opera.

We can see The Magic Flute in two ways: as a simple story where comedy is intertwined with more serious moments, a mix of emotions, feelings and values ​​simply taken as good, as opposed to all that we know in our hearts to be evil , or dive in the values ​​of Freemasonry and ideas of the Enlightenment to the highest detail. I am not nor ever will be an expert so do not see myself able to talk to you about this latest approach to the work but I invite you to read the next link among the many that can be found on the internet:



René Jacobs returned to the Calouste Gulbenkian Foundation for the 3rd consecutive year and again with Mozart. If last year's La Finta Giardiniera had enabled a night that while in concert version, expanded this concept to carry more of what is important in a good operatic production - the scenic ability of each singer (despite the ability and vocal interpretation) This year things were much further and with a quality that the Magic Flute predisposes because, deep down inside, it is magic...

With the Akademie für Alte Musik Orchestra Berlin in absolute harmony with the Mozartian spirit, in perfect harmony with Jacobs, and transposing a sound equivalent to three times its size, with outstanding accuracy, was embraced by singers who took advantage of the excellent quality space in front and back to an interpretation as in a classical opera house, with the beautiful Gulbenkian gardens as background. If you listen to the recording of this brilliant work by Jacobs from 2010, you can imagine the live aspects of the various special effects that we just listen and also helped with everything else, to create a fascinating theatrical environment.

It is difficult to highlight someone in a cast who was at a generally higher level of quality but one can not fail to mention some positive and negative aspects. The Papageno by Daniel Schmutzhard was magnificent, highly humorous, making the contrast expected in relation to Tamino, and his interaction with Papagena of Sunhae Im was delightful to watch. The three ladies, Inga Kalna, Anna Grevelius and Isabelle Druet, were vocally sublime. Kurt Azesberger did a classic Monostatos. Burçu Uyar promised much in the first act, in the famous aria "O zitt're nicht, mein lieber Sonn" to prove excellence in articulation, phrasing and vocal power but in the opera greatest test for this character and maybe for any soprano in the History of Music, in the aria of the 2nd act "Der Holle Rache kocht in meinem Herzen" she did not not reach the famous high Fs and we did not hear any sound, which left a slight sense of disappointment that invariably can not but haunt everything else that she made in an above the average quality. Topi Lehtipuu sang very well, albeit with some uncertainty in the high notes and a less crystalline pitthc than expected for the role (my favorite in presente days: Pavel Breslik). Miah Persson, Markus Fink, Thomas E. Bauer and Joachim Buhrmann were excellent, with the role of Pamina not having enough high notes to highlight the Swedish singer's less pretty vibrato. A special note for the delightful 3 boys. The RIAS-Kammerchoir was magnificent.

I think we have witnessed one of the greatest moments of the past years at the Calouste Gulbenkian Foundation and I hope Jacobs returns next season. I would like him to bring “Il Re Pastore” but possibly others prefer another work of the Genius from Salzburg?




3 comentários:

  1. Caro wagner_fanatic,
    Também tive o privilégio de assistir a este espectáculo. Foi, para mim, excelente. A orquestra e o coro, sem mácula. Nos solistas, de qualidade superior, tenho pequenas discordâncias.
    Achei o Tamino, de Lehtipuu, ocasionalmente frágil, embora possuidor de um timbre bonito.
    A Rainha da Noite de Uyar foi uma revelação. Uma cantora de voz encorpada, marcante e possuidora de um soprano que sai da norma mais habitual para a personagem, em que é nas notas mais agudas que brilha. Uyar fez mais do que "cantar" as notas, sobretudo no primeiro acto, concordo, e ofereceu-nos uma interpretação diferente mas, para mim, marcante. Sunhae Im, a Papagena de serviço, tem o tipo de soprano que se coaduna com os agudos mais habituais da Rainha da Noite, mas não é a mesma coisa...
    No computo global, para mim, o primeiro espectáculo da temporada em que atribuo *****

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  2. If you did not heard the F notes to Burcu Uyar, you must have a big problem in your ears... I was there and she was spectacular, exceptional...

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  3. Perhaps you understood wrongly what I said... She definitely failed the ones after the arpeggios - the highest pitch notes of the aria. I am sorry, but she did fail there...

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