sexta-feira, 10 de agosto de 2012

LA FORZA DEL DESTINO, Ópera Bastilha, Paris, Dezembro de 2011



Após uma encomenda do teatro imperial de São Petersburgo, G. Verdi compôs La Forza del Destino, com libretto de Francesco Maria Piave, baseado na peça Don Álvaro, o la forza del sino de Ángel de Saavedra.

A acção passa-se em Espanha e Itália no século XVIII. Leonora, filha do Marquês de Calatrava, decide fugir com o amante, o sul americano Don Alvaro. Este, após ser desafiado pelo marquês, atira a sua pistola para o chão e mata-o acidentalmente. Don Carlo di Vargas, filho do marquês, procura numa estalagem um estrangeiro que matou o pai e raptou a irmã. Uma cigana prevê-lhe um futuro terrível. Leonora refugia-se, incógnita, num mosteiro e torna-se num hermita. Alvaro, que se alistou no exército espanhol, salva Carlo numa batalha em Itália e ambos juram amizade eterna. Carlo encontra um retrato de Leonora nos pertences de Álvaro após este ter sido ferido. Desafia-o para um duelo e diz que também ela tem de morrer. O duelo é interrompido e Alvaro vai para um convento. Carlo desafia Alvaro para novo duelo e é ferido. Leonora reconhece Alvaro no seu refúgio mas sai em auxílio de Carlos. Aparece pouco depois mortalmente ferida pelo irmão, no seu acto de vingança. Perdoa Alvaro e morre.

Com um dos argumentos mais inverosímeis, esta ópera de Verdi tem na música o seu maior interesse, dado que tanto na parte orquestral como na coral e em algumas intervenções dos solistas existem trechos de assinalável beleza.


Diz-se que esta ópera dá azar e está amaldiçoada. O barítono americano Leonard Warren morreu durante uma récita, Pavarotti recusou cantá-la devido à maldição que sobre ela existe, Franco Corelli cantava-a com uma forquilha para protecção e, num concerto em New Jersey, após terminar a principal ária do tenor, as luzes apagaram-se, o que foi atribuído a um problema ocorrido no cemitério ao lado.
 Nesta noite o início teve um percalço porque as legendas não funcionaram (terá sido da maldição??). Conheço bem a ópera e, quando assim é, não leio as legendas (ou pensava que as não lia…), mas foi curioso ter sentido a sua falta.


 A encenação foi de Jean-Claude Auvray. Muito sóbria, clássica, palco sempre bastante vazio, iniciou-se na casa do Marquês de Calatrava, com uma longa mesa simples ao centro e com panos simulando paredes com quadros de membros da família pintados. Posteriormente dominaram as diferentes cenas ou a mesa ou um enorme Cristo sem cruz. A mesa, com bancos corridos, sobre e à volta da qual tudo se passa, está na estalagem da aldeia de Hornachuelos em Espanha e no campo militar de Velletri em Itália. O Cristo, que ocupa o centro do palco, está no mosteiro da Madonna degli Angeli e, já por terra, no local ermo perto do convento onde Leonora vive como eremita. Apesar da simplicidade, achei uma encenação conseguida.

O jovem maestro suíço Philippe Jordan dirigiu de forma exemplar a Orquestra Nacional e Coro da Ópera de Paris. Foi o melhor da récita. A abertura foi excelente e ao longo de todo o espectáculo assim se manteve. O Coro teve, igualmente, intervenções de elevada qualidade.




 O soprano lituano Violeta Urmana foi uma Donna Leonora de qualidade. A voz é forte, bem audível, mantém um registo médio de grande qualidade, mas as notas mais agudas já são cantadas em esforço e o vibrato é, por vezes, excessivo.



Vladimir Stoyanov, barítono búlgaro, foi um Don Carlo di Vargas que cumpriu sem deslumbrar. A voz é banal, como a de tantos outros, apesar de ter tido intervenções interessantes. Quando a orquestra tocava forte foi, por vezes, afogado. Também gritou com regularidade.


Don Alvaro foi cantado pelo tenor argentino Marcelo Alvarez. Mais uma vez mostrou ser um bom tenor verdiano. Ofereceu-nos uma voz potente, afinada e bem projectada, com agudos de grande qualidade. Foi sempre bem audível sobre a orquestra, mesmo quando esta tocava mais alto. Cenicamente esteve aquém do desejável, mas foi o melhor cantor em palco.


 Nadia Krasteva, mezzo búlgaro, foi uma Preziosilla vulgar, aquém das minhas expectativas. Não conseguiu impor a sua voz que esteve sem cor e sem alma. Cenicamente foi melhor que vocalmente.


 O Padre Guardiano do baixo coreano Kwangchoul Youn esteve bem. Contudo, confesso que também neste caso esperava melhor, dado que já ouvi grandes interpretações a este cantor. A voz é bonita, grave e audível, mas faltou-lhe uma colocação mais eficaz que a tornasse mais dominadora.


 Mario Luperi, baixo italiano, cumpriu como Il Marchese di Calatrava mas merece um destaque positivo o barítono italiano Nicola Alaimo que fez um Fra Melitone de muita qualidade, tanto vocal como cénica.















Como já referi anteriormente, considero a Bastilha um teatro excessivamente grande para se poder desfrutar adequadamente da ópera. Talvez esta circunstância tenha contribuído para o que aqui relatei em relação aos solistas.



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La FORZA DEL DESTINO, Opera Bastille, Paris, December 2011

From a commission from the Imperial Theater in St. Petersburg, G. Verdi composed La Forza del Destino, with libretto by Francesco Maria Piave, based on the play Don Álvaro, o la forza del sino by Angel de Saavedra.

The action is set in Spain and Italy in the eighteenth century. Leonora, daughter of the Marquis of Calatrava, decides to escape with her lover, Don Álvaro. After being challenged by the Marquis, Don Alvaro throws his pistol to the ground and accidentally kills him. Don Carlo di Vargas, son of the Marquis is in an inn looking for a stranger who killed his father and kidnapped his sister. A gypsy guesses him a terrible future. Leonora, desguised, seeks refuge in a monastery and becomes a hermit. Alvaro, who joined the Spanish army, saves Carlo in a battle in Italy and both swear eternal friendship. Carlo finds a portrait of Leonora in Alvaro's belongings after he had been wounded. He challenges him to a duel and says that she too must die. The duel is interrupted and Alvaro goes to a convent. Carlo finds Álvaro and challenges him again to a duel and he is wounded. Leonora recognizes Alvaro in her refuge, but leaves to aid Carlo. She reappears shortly after being mortally wounded by her brother, in his act of revenge. She forgives Alvaro and dies.

With one of the most unlikely libretto, this Verdi opera has it’s best interest in the music (orchestral, choral and some interventions of the soloists) which includes parts of remarkable beauty.

It is said that this opera is cursed. The American baritone Leonard Warren died during a performance, Pavarotti refused to sing it due to the curse, Franco Corelli sang it with a crotch for protection and at a concert in New Jersey, after finishing the main tenor aria, the lights went out, what was attributed to a problem that occurred in the cemetery nearby.
Tonight there was a mishap in the beginning because the subtitles did not work (was it the curse?). I know the opera well, and when it is so, I do not read the subtitles (or I thought I did not...) but curiously, I noted its absence and I missed them.

The staging was by Jean-Claude Auvray. It was very sober, classic, always with a pretty empty stage. It starts in the house of the Marquis of Calatrava, with a simple long table in the centre and simulating cloth walls with paintings of family members. Subsequently, the different scenes are dominated either by the table or by a huge Christ without the cross. The table, with bench seats, over and around which everything happens, is in the inn in the village of Hornachuelos in Spain, and in the military camp of Velletri in Italy. The Christ is hanging and dominates the central stage in the monastery of the Madonna degli Angeli and later is on the ground, in the place near the convent where Leonora lives as a hermit. Despite the simplicity, it works.

The young Swiss maestro Philippe Jordan conducted in a fantastic way the National Orchestra and Chorus of the Paris Opera. It was the best of the performance. The opening was excellent and so it remained throughout the performance. The Choir also had high quality moments.

Lithuanian soprano Violeta Urmana was a good Donna Leonora. The voice is strong and could always be heard. She has a medium register of great quality, but the high notes were sung under stress and the vibrato was sometimes excessive.

Vladimir Stoyanov, Bulgarian baritone, was a regular Don Carlo di Vargas. The voice is banal, like many others, although he had an interesting performance. However, when the orchestra played forte, he was sometimes drowned by the sound and he also shout regularly.

Don Alvaro was sung by the Argentine tenor Marcelo Alvarez. Once again he proved to be a good verdian tenor. He gave us a powerful voice in tune and with high quality top notes. He was always well audible over the orchestra, even when it played louder. Artistically he was not so exciting, but he was the best singer on stage.

Nadia Krasteva, Bulgarian mezzo, was a Preziosilla short of my expectations. She was vulgar and unable to impose her voice. It had no colour and no soul. Artistically she was better than vocally.

Father Guardiano was sung by Korean bass Kwangchoul Youn. He was good but I confess I expected better from him too, since I've heard excellent interpretations of this great singer. The voice is beautiful, the lower register impressive and audible, but he lacked a more effective vocal projection to become more imposing.

Mario Luperi, Italian bass, was a regular Marchese di Calatrava. Italian baritone Nicola Alaimo was a high quality (vocal and artistic) Fra Melitone.

As I mentioned earlier in this blog, I consider the Bastille too large a theatre to properly enjoy opera. Perhaps this circumstance has contributed to some limitations of the soloists that I reported here.

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4 comentários:

  1. Excelente início de crónica mas realmente comecei a ficar triste para o final, uma vez que parece que os cantores não estiveram ao seu melhor nível e ao que esperava. Também eu tive algumas desilusões no início da temporada, como já postei.

    Em relação à Bastilha, o teatro é realmente grande mas não o considero assim tão mau para se ver ópera. Valem claramente mais os bilhetes nas primeiras filas ou então escolher os mais laterais à frente, que são mais económicos e vê-se bem. Mas o problema é escolher lugares. O sistema de reserva online é horrível porque praticamente não permite escolher lugares. Além de a venda ir sendo faseada ao longo do ano.

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  2. Hola. Muy interesante tu blog. Te envío muchos saludos y abrazos desde México. Raul, de Clasicos a tu alcance.

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  3. @ wagner_fanatic,
    Para mim, de entre as grandes casas de ópera europeias (e as poucas norte americanas que conheço) Paris é, de longe, a pior para se comprarem bilhetes online. Nunca se sabe bem o que se compra Pior, numa vez que comprei dois bilhetes, eram muito afastados um do outro.

    Em relação à Bastilha, o fosso da orquestra é enorme e raramente (na minha experiência) se conseguem comprar bilhetes à frente. E, mesmo aqueles que "parecem" à frente, são na realidade muito distantes. Não é, de todo, o meu teatro de ópera favorito. Já o Palácio Garnier é muito melhor como teatro, mas enferma dos mesmos problemas relativos à compra dos bilhetes online.

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  4. Verdi...Place de la bastille,history...
    Greetings from "La mer du nord"
    Willy

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