Juntando ao Simão Boccanegra de dia 28 de Maio, a minha visita a Berlim permitiu também, no dia anterior,
estrear-me na mítica sala da Filarmónica de Berlim e com Wagner.
Christian Elsner foi
Siegmund. É um excelente cantor, com uma voz de timbre bonito mas falta-lhe
algum lirismo interpretativo que nos faça transparecer o herói que é Siegmund e
o quanto a sua vida muda com Sieglinde. Falta-lhe alguma garra nas passagens de
herói. Esteve melhor no segundo acto mas
pouca foi a entrega a e afirmação vocal, por exemplo, no duelo com Hunding.
Eva-Maria Westbroek foi
sublime com Sieglinde - potência vocal brutal, sentido interpretativo exímio,
uma verdadeira fera wagneriana, no bom sentido.
Mikhail Petrenko foi um
Hunding perfeito - excelente nas nuances interpretativas da personagem, voz
cavernosa quanto baste e uma presença física concordante.
Terje Stensvold espanta pela
qualidade e pureza tímbrica da sua voz que conta já com 68 anos de idade.
Apesar de excelente sentido dramático global, faltou-lhe, em alguns momentos, a
profundidade necessária para a personagem de Wotan. Isso ficou patente, por
exemplo, no final do segundo acto, onde foi claramente abafado pela Orquestra.
Evelyn Herlitzius surgiu com
o mesmo fato com que havia feito Brunnhilde em Barcelona em 2008. Já não a
ouvia neste papel desde essa altura. Entrou com o seu histerismo vocal que me
fez odiar a sua voz da primeira vez que a ouvi nas transmissões de Bayreuth
através da Antena 2, há vários anos. Os seus Hoiotohoos foram tecnicamente não
como está escrito e a estridência gritada dos seus agudos incomodativa,
emanando um som gutural sempre que mudava de sílabas nos agudos. Contrastando
com isto, o canto no seu registo mais grave foi bastante melhor.
A Fricka de Lilli
Paasikivi foi de grande qualidade, muito
sentida e com uma voz de qualidade acima da média.
As Valquírias estiveram, no
seu todo, em excelente forma vocal.
Mas os Reis da Noite foram
Simon Rattle e a Filarmónica de Berlim. Esta foi a maior (e talvez insuperável)
prestação orquestral de A Valquíria a que alguma vez assisti. Virtualmente sem
erros, e principalmente com uma secção de metais irrepreensível, a sonoridade
wagneriana foi do outro Mundo, em consonância com a fantástica acústica da
sala. A dinâmica, potência, coesão e sincronismo de cada elemento e de cada
naipe foi absolutamente arrepiante. A sensação transmitida era que a Orquestra
funcionava como um elemento único, como que personificando um único músico.
Momentos como o acorde final após a escala descendente depois do “Geh” de Wotan
que cair por terra Hunding, ou a entrada da Orquestra após o “Der Gott” no
monólogo final de Wotan foram de uma precisão sublime, (passagens de elevada
dificuldade de sincronismo de naipes). Eu que habitualmente evito falar da clássica
“Cavalgada das Valquírias” (porque parece sempre para aqueles que não gostam de
ópera, e para alguns que a criticam, a única coisa a que se resume esta obra
monumental de Wagner), tenho o maior prazer em dizer que encheu a sala com um
poderio imenso.
Foi a minha estreia na
famosa sala da Filarmónica de Berlim e vai ficar, para sempre, na minha memória
com um marco interpretativo orquestral brutal.
Die Walküre (concert
version) - Berliner Philharmoniker - May 27, 2012
Along with the Simon Boccanegra on the 28th, my visit to Berlin also allowed me to debut in the legendary hall
of the Berlin Philharmonic and with Wagner.
Christian Elsner was
Siegmund. He is an excellent singer, with a beautifull soundly voice but lacks
some lyrical touch. He was better in the second act was but missing some
interpretative strength in his vocal posture as, for example, in the duel with
Hunding.
Eva-Maria Westbroek was
sublime as Sieglinde – superb vocal power, expert interpretive sense, a true
wagnerian beast, in the good sense.
Mikhail Petrenko was a
perfect Hunding - excellent in the interpretive nuances of the character, cavernous
voice and a coherent physical presence.
Terje Stensvold surprised by
the quality and purity of his voice which already has 68 years of age. Despite an
overall excellent dramatic sense, he lacked, in some passages, the necessary
depth to the character of Wotan. This was evident, for example, in the end of
the second act, in which he was clearly muffled by the Orchestra.
Evelyn Herlitzius came up
with the same suit with which she had done Brunnhilde in Barcelona in 2008.
Have not heard her in this role since then. she entered with her hysterical
voice which had made me hate her the first time I heard it in the Bayreuth
broadcasts on our classical radio some years ago. Her Hoiotohoos were not
technically as it is written and the stridency of her shouting in the high
notes was disturbing, emitting a guttural sound when moved between the acute
syllables. In contrast with this, her voice in a lower pitch was much better.
The Fricka of Lilli
Paasikivi was of great quality, very experienced and with a voice quality above
average.
The Valkyries were on the
whole, in excellent vocal form.
But the Kings of the Night
were Simon Rattle and the Berlin Philharmonic. This was the best (and perhaps
insurmountable) orchestral performance of The Valkyrie I have ever listen to.
Virtually no errors, and especially with a blameless metal section, the
wagnerian sound was from another world, in line with the fantastic acoustics of
the room. The dynamic power, cohesion and timing of each elemento was
absolutely chilling. The feeling was that the Orchestra worked as a single
element, as if embodying a single musician. Moments like the final chord after the
sliding scale ending the "Geh" by Wotan which makes Hunding die, or
after the entry of the Orchestra after the "Der Gott" in the final
monologue of Wotan was of a sublime precision. I usually avoid talking of the
classic "Ride of the Valkyries" (because it seems always to those who
do not like opera, and to some who criticize it, the only thing that comes down
from this monumental work of Wagner), I have great pleasure in say that it
filled the room with an immense power.
It was my debut in the
famous room of the Berlin Philharmonic and this concert will stay forever in my
memory manily due to a superb orchestral performance.
Caro wagner_fanatic,
ResponderEliminarConstacto que a sua ida a Berlim lhe encheu totalmente as medidas!
Confesso que gostaria muito de ter assistido a esta Valquíria, na reputada sala da Filarmónica de Berlim, que também não conheço.
No próximo ano tenho programada uma estadia de vários dias em Berlim e espero poder colmatar esta minha falha!
Die Walkure,the composer,and the power of classical music!
ResponderEliminarGreetings from Bayreuth lovers,Will and Jack.