(text in english below)
La Rondine é uma
ópera (commedia lirica) de G. Puccini com libretto de A.M. Willner e Heinz Reichert. É mais uma história de
um amor que acaba mal mas, neste caso, sem a morte da protagonista.
A obra musical, de grande beleza melódica, insere-se no verismo, os protagonistas são pessoas
simples, o amor é mundano. Tem muitas semelhanças com La Bohème: o café Bullier
(Momus), o casal principal Magda e Ruggero (Mimí e Rodolfo) “apoiado” no
secundário Lisette e Prunier (Musetta e Marcello).
A encenação de Nicola
Raab é vistosa e curiosa. A acção foi transportada para o início do Século
XX. Recorre-se à evocação do passado, Magda escreve as suas memórias e revive
cenas passadas ao longo da acção. O primeiro acto passa-se num salão na sua
casa. Há inúmeras caras pintadas em panos suspensos, que permanecerão ao longo
de toda a récita. Possivelmente evocam personagens da vida de Magda. O segundo
acto, no café Bullier, é muito semelhante ao 2º acto de La Bohéme, no café
Momus. A encenação é muito bem conseguida e a intervenção do coro é, aqui,
notável. No último acto, na Côte d’Azur, o palco aparece despido, apenas com
uma cadeira de praia e um gurada-sol e, suspensos, vários objectos (mesa,
cadeiras, piano, bicicleta, janelas). De novo as memórias do passado.
O soprano Dora
Rodrigues interpretou Magda com sobriedade e boa presença cénica. O papel é
extenso e a cantora manteve a qualidade de interpretação ao longo da récita. Contudo,
não conseguiu transmitir a leveza e doçura necessárias em certas partes e,
nomeadamente, não brilhou na belíssima aria Chi
il bel sogno di Doretta.
Recomendo também a leitura do texto do Plácido Zacarias no blogue Opera Lisboa.
Em tempos de crise, um espectáculo como este é digno,
repito, e satisfaz as necessidades do público (que não compareceu em peso) e
dos músicos envolvidos. Tudo se deveria fazer para, pelo menos, manter
produções como esta no nosso único teatro nacional de ópera. A opção pela não
programação (ou corte acentuado) de uma temporada lírica seria uma morte
cultural anunciada, indígna de um País como o nosso.
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La Rondine, Teatro de São Carlos, Lisbon, May 2012
La Rondine is an opera (commedia lirica) by G. Puccini with libretto by A.M. Willner e Heinz Reichert. It's a story of a love
that ends badly, but in this case without the death of the protagonist. The
musical work is of great melodic beauty and belongs to the verismo. The characters are simple people, love is mundane. It has
many similarities with La Bohème: café
Bullier (Momus), the main couple Magda and Ruggero (Mimi and Rodolfo) "backed"
on the secondary couple Lisette and Prunier (Musetta and Marcello).
The action
is set in Paris
in the nineteenth century. Magda is a courtly lover of Rambaldo, a banker.
Prunier, a poet, compares her to a swallow (La Rondine) in search of love. He falls
in love with her maid Lisette. A young man, Ruggero, arrives and everyone will
celebrate in café Bullier. Magda, disguised as Paulette, goes to the café and
falls in love with Ruggero. She is recognized by all and tells Rambaldo she
found true love. He attempts reconciliation, but in vain. Ruggero, passionate,
says Magda that his mother gave him permission to marry. Magda refuses and
walks away, afraid to reveal her past and with it, ruining the live of Ruggero.
The staging by Nicola Raab is showy and curious. The action was taken to the early twentieth century. Drawing on evocation of the past, Magda writes her memories and relives past episodes along the performance. The first act is set in a room in her home. There are numerous faces painted on suspended panels, which will remain throughout the performance. Possibly they reflect past people in the life of Magda. The second act, in café Bullier, is similar to the 2nd act of La Bohème, in café Momus. The staging is very efficient and the intervention of the chorus is remarkable here. In the last act, in the
Argentine
maestro José Miguel Esandi directed
superiorly the Orquestra Sinfónica
Portuguesa which had one of its best performances this season. Also
the Chorus of the Teatro Nacional de São
Carlos was very good.
In relation to the soloists, we had a full interpretation by Portuguese singers, a fact which deserves appreciation. I have had the privilege of hearing live the greatest singers of our time and in fact there is a considerable difference. But the performance was nice and decent.
In relation to the soloists, we had a full interpretation by Portuguese singers, a fact which deserves appreciation. I have had the privilege of hearing live the greatest singers of our time and in fact there is a considerable difference. But the performance was nice and decent.
Soprano Dora Rodrigues played Magda with
sobriety and good stage presence. The singing demand is big and the artist has
kept the quality of interpretation throughout the performance. However, she did
not manage to convey the lightness and sweetness required in certain parts, and
in particular, she was not brilliant in the beautiful aria Chi il bel sogno di Doretta.
Soprano Carla Caramujo’s Lisette was more irregular, alternating interesting interventions with others where she could barely be heard. On stage she was also credible.
Baritone Luís Rodrigues was a good quality Rambaldo. The role is small but the voice has a nice timbre and was always well audible.
Soprano Carla Caramujo’s Lisette was more irregular, alternating interesting interventions with others where she could barely be heard. On stage she was also credible.
Baritone Luís Rodrigues was a good quality Rambaldo. The role is small but the voice has a nice timbre and was always well audible.
Ruggero was
played by tenor Mario João Alves. He
was the weakest performer of the night. He had great problems in projecting the
voice, which often was not audible. When he sung top notes, he lost quality. Artistically
he was very static.
Tenor Marco Alves dosSantos , as Prunier, was the best singer of
the night. He sowed a remarkable vocal power, nice tone and good stage
presence.
Other singers on stage had short but dignified interpretations: Cristiana Oliveira, Sofia de Castro, Ana Ferro, Bruno Almeida, Hugo Oliveira, Nuno Dias, Daniel Paixão, Filipa Lopes, Nuno Cardoso and CostaCampos .
In times of crisis, a performance like this is worthy, I repeat, and meets the needs of the public and of the musicians. Everything should be done to, at least, keep productions like this one in our only national opera theater. The option of not programming (or sharp cutting) of an opera season would be an announced cultural death, unworthy of a country like ours.
Tenor Marco Alves dos
Other singers on stage had short but dignified interpretations: Cristiana Oliveira, Sofia de Castro, Ana Ferro, Bruno Almeida, Hugo Oliveira, Nuno Dias, Daniel Paixão, Filipa Lopes, Nuno Cardoso and Costa
In times of crisis, a performance like this is worthy, I repeat, and meets the needs of the public and of the musicians. Everything should be done to, at least, keep productions like this one in our only national opera theater. The option of not programming (or sharp cutting) of an opera season would be an announced cultural death, unworthy of a country like ours.
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Ainda não tive oportunidade de assistir a "La Rondine". Obrigado pela sua opinião.
ResponderEliminarConquanto, dramaticamente, pouco consequente, a orquestração é absolutamente primorosa no estabelecimento de uma paisagem sonora consentânea com os estertores da "belle époque", tornando-se, igualmente, possível entrever uma subtil deferência ao impressionismo característico de Debussy.
ResponderEliminarEm termos vocais, Dora Rodrigues exibiu-se em bom plano, pese embora a tessitura do papel extravasasse, amiúde, as suas capacidades vocais, designadamente, no registo agudo.
Em Ruggero, Mário João Alves sucedeu em debelar, parcialmente, uma insistente fragilidade na coluna de som que comprometeu, em última instância, uma projecção optimizada, bem como a integral consistência da linha de canto.
Superior Marco Alves dos Santos em Prunier, ostentando um instrumento de timbre prazenteiro, homogéneo e eivado de notável lirismo numa abordagem de manifesto engajamento dramático. Porventura, um Ruggero preferencial.
Agradável Carla Caramujo na esfuziante “coquetterie” de Lisette, em eficaz contracena com Prunier.
Os demais intérpretes exibiram-se em plano razoável, avultando Luís Rodrigues numa sólida assunção do papel de Rambaldo.
Nota: as observações precedentes reportam-se à audição da transmissão radiofónica.
Destaque-se ainda, em forma de adenda, a belíssima direcção orquestral a cargo de José Miguel Esandi, hábil na extracção do jorro dúctil que brota copiosamente da grácil e sacarívora melodia pucciniana.
ResponderEliminarObrigado pela sua cuidada critica com a qual estou de inteiramente de acordo. Estive ontem no SC. Tive a oportunidade de ouvir ao vivo no MET uma excelente LA Rondine em Janeiro de 2009 com Angela Gheorghiu no papel principal e a cenografia de Nicolas Joel. São mundos diferentes. Mas Lisboa não é NY. Sublinho a sua conclusão de não aceitar o fechar a programação futura. Para onde foi a assistência do São Carlos ?
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