sábado, 18 de fevereiro de 2012

MAGDALENA, de Villa-Lobos, para Europeu ver, Theatro Municipal de São Paulo, Brasil

Mais um texto de Ali Hassan Ayache do blogue brasileiro MÚSICA OPERA & BALLET que publicamos na íntegra, agradecendo ao Ali mais esta contribuição:



Magdalena, obra musicada por Villa-Lobos é de difícil definição. Superior e mais elaborada que os musicais da Broadway e mais simples que as óperas contemporâneas. Alguns a definem como uma opereta moderna. Estreou, em 1948 nos Estados Unidos, ficou três meses em cartaz, andou por cidades importantes como Los Angeles, São Francisco e Nova Yorque e caiu no esquecimento.
  Bernstein com sua West Side Story ou Candide fez algo parecido, trazer a linguagem e a complexidade da ópera para a Broadway. A diferença é que um era americano e louvado na América e o outro é brasileiro.
   Villa-Lobos utiliza vários trechos de composições anteriores suas em Magdalena. Bachianas Brasileiras número 4, Impressões Seresteiras , trechos da ópera Izath e  marchinhas de carnaval inspiradas no cotidiano brasileiro. A peça tem bons achados musicais, as duas árias de Teresa são interessantes, os duetos entre Pedro e Maria mostram um belo lirismo romântico. 
   Magdalena é apresentada pela primeira vez no Theatro Municipal de São Paulo em comemoração aos 90 anos da Semana de Arte Moderna. A produção é originária do Theatre du Chatelet- Paris - 2010. Cenários exuberantes, feitos no capricho, que abusam do clichê sul americano: Belas jovens usando roupas carnavalescas, pássaros com penas coloridas e toda a exuberância dos trópicos. Quando a ação se transfere para a cidade luz a coisa muda, vemos e sentimos toda a efervescência de Paris. Os figurinos são corretos e condizentes com a obra. A luz é destaque, realça o colorido orquestral e transfere uma beleza aos cenários. O Padrão europeu de produção é elevado, podemos constatar nessa obra.
   A produção do Theatro Muncipal de São Paulo optou, mais uma vez, por usar microfones em cantores e orquestra. Esta virando moda microfonar tudo, uma perigosa rotina. A equalização esteve um horror, ouvia-se a orquestra e a voz dos solistas desaparecia por completo em diversas cenas. Trechos com orquestração forte, coro e solistas soavam alto demais, incomodavam a pestana dos senhores de terceira idade. Solistas encobertos pelo barulhão da orquestra, ninguém merece uma sonoridade dessas. É preciso repensar a necessidade de usar esse tipo de recurso.
   Os solistas, todos eles profissionais tarimbados da ópera, tiraram de letra. Não comento vozes que cantam com microfones. O Coral Lírico Municipal esteve em bom nível, fato esse já rotineiro. Os dançarinos executaram com facilidade as simples coreografias. A Orquestra Sinfônica Municipal nas mãos de Luís Gustavo Petri soou sempre alta, os erros na equalização prejudicaram e distorceram a sonoridade.
   Magdalena é uma obra interessante, uma curiosidade musical. Não é o principal trabalho de Villa-Lobos, é uma colcha de retalhos de composições anteriores. Vale a pena ser vista pela beleza da produção vinda da França, que realça o exótico das terras da América do Sul. Pena que os erros de equalização atrapalharam toda a musicalidade.

Ali Hassan Ayache


3 comentários:

  1. The great pianist Arthur Rubinstein was a fan of Lobos. Me, either. I especially adore his pieces for the guitar. Many thanks to you for the presenting of the Lobos' opera which is almost unknown in Europe.

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  2. É difícil ir de encontro a uma tendência modernizante. Mas o fato é que no caso das óperas encenadas em bons teatros por bons artistas isso nunca foi necessário. Parece alguém que podendo andar com as próprias pernas se utiliza de muletas!
    Villa Lobos está sendo cada vez mais reconhecido e valoriz
    ado, isso na minha opinião e no meio onde circulo que não é exatamente o musical, mas o artístico em geral.
    Fiquei muito impressionado com a solução do problema da troca de solistas no teatro de Londres ( descrito na última crônica ) isso é que é organização!
    Parabéns pelas crônicas e pelo compromisso com a arte e o bom gosto!
    Um grande abraço

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