IL TRITTICO (I de IV) – Royal Opera House, Londres, Setembro de 2011

(review in English below)

Il Trittico, de G. Puccini, é um conjunto de três óperas em um acto, Il Tabarro com libretto de Giuseppe Adami, Suor Angelica com libretto de Giovacchino Forzano, e Gianni Schicchi também com libretto de Giovacchino Forzano, segundo um episódio da Divina Comédia (Inferno) de Dante. Puccini pretendia que Il Trittico fosse sempre apresentado na íntegra, mas tal não acontece frequentemente. Das três óperas, Gianni Schcchi é a que goza de mais popularidade e é a mais vezes apresentada e Suor Angelica é considerada a menos interessante. Totalmente diferentes, as três abordam aspectos distintos da morte.

 Il Tabarro, passado em Paris no início do século XX, é uma opera verista sobre ciúme, vingança e morte. Michele, dono de uma barcaça de transporte no Sena, suspeita que a sua mulher Giorgetta o trai com um dos estivadores. Luigi é, de facto, seu amante. Combinam um encontro e, quando o marido a tenta abraçar, ela repele-o. Luigi vê luz no barco, pensa ser o sinal para se encontrar com Giorgetta mas depara-se com Michele que o mata e cobre com um capote (tabarro). Quando Giorgetta se aproxima o marido mostra-lhe o corpo do amante.

 Suor Angelica passa-se num convento de freiras em Itália, no século XVII. O elenco é exclusivamente feminino. A irmã Angelica vive atormentada porque foi mandada para o convento por ter tido um filho ilegítimo que mal conheceu. Recebe a visita de uma princesa, sua tia, que a recorda da vergonha que trouxe à família e pede-lhe que assine um documento em que prescinde da sua parte da herança. Informa-a que o filho morreu e Angelica cai inanimada. A sós, bebe uma poção venenosa mas, sabendo que o suicídio é pecado mortal, pede à Virgem a salvação. Dá-se o milagre, ouvem-se as vozes dos anjos e aparece a Virgem com a criança, conduzindo-os ao céu.

É nesta ópera que Puccini escreveu Senza Mamma, uma das mais belas e comoventes árias para soprano.

 Gianni Schicchi passa-se em Florença, no século XIII. É a única ópera cómica (bufa) do compositor. A família do abastado Buoso Donati, que acaba de morrer, “chora” a sua morte mas, quando sabe que deixou a fortuna a um mosteiro, tenta alterar a situação. Rinuccio confirma o testamento mas aceita tentar alterar a situação se lhe for permitido o casamento com Lauretta, filha de Gianni Schicchi. Este, apesar da oposição da família, é chamado para ajudar a resolver o problema e, por insistência da filha Lauretta, aceita, na condição de nenhum dos familiares contestar o seu plano. Faz-se passar por Donati moribundo que, face a um notário, dita um novo testamento em que deixa ao “seu amigo” Gianni Schicchi todos os bens.

Também esta ópera tem momentos de grande beleza musical, incluindo a ária de Rinuccio Avete totó!... Firenze è come um albero fiorito e, claro, O mio babbino caro de Lauretta.

 O maestro titular, Antonio Pappano, dirigiu de forma impoluta a excelente Orquestra da Royal Opera. Foi determinante para o sucesso da noite. Também o Coro da Royal Opera, mais notado na Suor Angélica, foi excelente.

A encenação, de Richard Jones, foi magnífica e de bom gosto.

Nos próximos dias colocarei a minha opinião sobre cada uma das três óperas a que assisti na Royal Opera House.

Il Trittico (I of IV) - Royal Opera House, London, September 2011

Il Trittico, by G. Puccini, is a set of three one-act operas, Il Tabarro with libretto by Giuseppe Adami, Suor Angelica with libretto by Giovacchino Forzano, and Gianni Schicchi also with libretto by Giovacchino Forzano, the last one based on an episode of the Divine Comedy (Inferno) by Dante. Puccini wished Il Trittico to be always displayed in full, but this does not happen often. Of the three operas, Gianni Schcchi is enjoying more popularity and is most often presented, and Suor Angelica is considered the least interesting. Totally different, the three address different aspects of death.

Il Tabarro, set in Paris in the early twentieth century, is a verismo opera about jealousy, revenge and death. Michele, the owner of a transport barge on the Seine, suspects that his wife Giorgetta betrays him with one of the stevedores. Luigi is in fact her lover. They arrange to meet, and when her husband tries to embrace her, she repels him. Luigi sees light at the boat, thought to be the signal to meet Giorgetta but faces Michele who kills him and covers him with a cloak (tabarro). When Giorgetta approaches her husband, he shows her lover's body.

Suor Angelica is set in a convent in Italy in the seventeenth century. The cast is exclusively feminin. Sister Angelica lives tormented because she was sent to the convent for having an illegitimate child who she barely saw. She is visited by a princess, her aunt, who reminds her of the shame she brought to the family and asks her to sign away her share of her father’s heritage. Her aunt informs her that her son died two years ago and Angelica collapses. Alone, she drinks a poisonous potion but knowing that suicide is a mortal sin, she prays the Virgin for salvation. The miracle happens, she hears the voices of angels and she sees the Virgin with her child as she dies.
It is in this opera that Puccini wrote Senza Mamma, one of the most beautiful and touching arias for soprano.

Gianni Schicchi is set in Florence in the thirteenth century. It is the only comic (buffa) opera of the composer. The family of the wealthy Buoso Donati, who has just died, "mourns" his death, when they know he left his fortune to a monastery. They try to change the situation. Rinuccio confirms the will but accepts to try to change the situation if he is allowed to marry Lauretta, daughter of Gianni Schicchi. Gianni Schicchi, despite the opposition of the family, is called to help resolve the problem and, at the insistence of his daughter Lauretta, accepts it, provided that none of the family members will oppose his plan. He pretends to be the dying Donati who dictates a new will to a notary, leaving all his goods the his friend "Gianni Schicchi”.
This opera has also moments of great musical beauty, including Rinuccio’s tenor aria Avete totó!... Firenze è come um albero fiorito and, of course the soprano aria, O mio babbino caro by Lauretta.

The conductor was the Music Director of Royal Opera House Antonio Pappano. He directed superbly the excellent Orchestra of the Royal Opera. This was decisive for the success of the performance. The Choir of the Royal Opera, most noticeably in Suor Angelica, was also excellent.
The staging by Richard Jones was magnificent.

Over the next days I will post my opinion on each of the three operas I attended at the Royal Opera House.