quarta-feira, 2 de novembro de 2011

FAUST, Liceu, Barcelona, Outubro de 2011

(review in English below)

Faust no Liceu de Barcelona – Canto de elevada qualidade, mas amputado e em versão concerto.

Foi uma pena a ópera não ter sido encenada, dado que contou com um conjunto de solistas de primeira água. Vi o Faust há poucas semanas em Londres e em Paris e, apesar de algumas opções cénicas mais discutíveis, esta é uma daquelas óperas que, sem encenação, fica ferida de morte. Mas, pior ainda, o Liceu não apresentou a ópera na íntegra, amputou-a, e foram tocadas e cantadas apenas algumas partes. Em vez de “Fragmentos em versão concerto”, como está escrito no programa, foram “estilhaços” ou “cacos” de uma bela obra de Gounod. Lamentável!


 E o público de Barcelona não deixou de dar um sinal negativo. Estavam bastantes lugares vagos, talvez um terço, facto que nunca havia constatado nas minhas anteriores visitas a este teatro.


 A orquestra estava sobre o palco e os solistas cantavam à frente mas sempre de um dos lados, sem qualquer interacção eficaz entre eles. Apenas entravam e saíam. Uma lástima!


 A direcção musical do maestro francês Pierre Vallet foi deficiente. Não empolgou e não teve em conta o facto de a orquestra estar sobre o palco, abafando os solistas quando cantavam em mezza voce ou em piano.

Piotr Beczala, tenor polaco, foi um Faust excepcional. É um dos tenores actuais que mais aprecio e, mais uma vez, esteve ao mais alto nível. O timbre é belíssimo, a voz poderosa, os agudos de belo efeito e aparentemente alcançados sem esforço. São ainda notáveis o legatto e a mezza voce. Foi muito aplaudido na cavatina “Salut! Demeure chaste et puré” que foi impressionante mas foi igualmente fantástico em todas as outras intervenções.


 Outro intérprete de excepção foi o soprano búlgaro Krassimira Stoyanova como Marguerite. A voz é forte, sempre afinada, capaz de transmitir emoção tanto nos momentos mais líricos como nos mais dramáticos. Na ária “Ah! Je ris de me vois si belle” esteve muito bem e mostrou uma coloratura de elevada qualidade, mas foi ainda melhor nos duetos com Faust “Il se fait tard, adieu!” e “Oui, c’est toi! Je t’aime!” e, sobretudo, na ária “Il ne revient pas”.


Erwin Schrott, baixo-barítono uruguaio, foi o elemento menos forte de entre os solistas. Apesar de nos ter dado uma boa interpretação, foi um Mefistófeles irregular, ora com momentos de qualidade superior, ora com intervenções banais. O timbre é muito agradável e o registo baixo poderoso, mas foi inconstante.


 O Valentin do barítono francês Ludovic Tézier foi irrepreensível. Nunca lhe tinha presenciado uma interpretação de tão elevado nível. A voz é de qualidade apreciável, o registo médio e, sobretudo, o grave, são notáveis. A cavatina “Avant de quitter ces lieux” foi um dos momentos altos da noite, devidamente reconhecido pelo público.


 Também estiveram bem o Siebel do mezzo francês Karine Deshayes e a Marthe do mezzo Julia Juon.








 Em Barcelona, um Faust de grande potencial, mas amputado e ferido de morte!

***


 FAUST, Liceu, Barcelona, ​​October 2011

Faust at the Liceu in Barcelona – High quality singing, but amputated and in concert version.

It was a pity the opera was not staged. The soloists were of first quality. I saw Faust a few weeks ago in London and in Paris and, despite some questionable staging choices, this is one of those operas that becomes fatally wounded without staging.. But, even worse, the Liceu did not present the whole opera. It was amputated and only a few parts were played and sung. Instead of "Fragments in concert version," as it is written in the program, it should be mentioned "shattered" or "shards" of a beautiful work of Gounod. Regrettable
!

And the Barcelona audience gave a clear negative sign. There were plenty of vacant seats, perhaps a third. This I had never seen in my previous visits to this theatre.

The orchestra was on stage and the soloists sang in the front, but always on one side, without any effective interaction among them. They just came inand went out. It was a pity!

The musical direction of French maestro Pierre Vallet was deficient. He did not achieve musical excitement and he did not take into account the fact that the orchestra was on the stage, drowning out the soloists when they sang in mezza voce or piano.

Polish tenor Piotr Beczala was an exceptional Faust. He is one of  my favourite current tenors and, again, he was at his highest level. The timbre is beautiful, the voice powerful, the top notes are of  beautiful effect and seemingly effortless. Still outstanding in mezza voce and the legatto. He was very applauded in the cavatina "Salut! Demeure chaste et pure" which was impressive but he was also fantastic in all other of his interventions.

Another outstanding singer was Bulgarian soprano Krassimira Stoyanova as Marguerite. The voice is strong, always in tune, able to convey emotion both in the most lyrical as well as in the most dramatic parts. In the aria "Ah! Je ris de me vois si belle" she was very well and showed a high quality coloratura, but she was even better in duets with Faust “Il se fait tard, adieu!” and “Oui, c’est toi! Je t’aime!” and, especially, in the aria “Il ne revient pas”.

Uruguayan bass-baritone Erwin Schrott was the least strong element among the soloists. Although he has always given a good interpretation, he was an irregular Mephistopheles, either with moments of superior quality or with banal interventions. The timbre is very nice, the low register powerful, but he was inconsistent.

Valentin, by French baritone Ludovic Tézier, was blameless. I never had seen him at such a high level of interpretation. The voice quality is appreciable, the medium and, especially, the low register are remarkable. The cavatina “Avant de quitter ces lieux” was one of the highlights of the evening, duly recognized by the public.

There were also good interpretations of French mezzo Karine Deshayes as Siebel and of mezzo Julia Juon as Marthe.

In Barcelona,
​​a Faust of great potential, but amputated and deadly wounded!
***

8 comentários:

  1. Thank you for this review! Stoyanova is a great soprano, i heard her as desdemona. It was wunderful!
    I hope this performace will be on dvd or cd.

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  2. Grande crônica!
    O não ter muito o que dizer foi muito bem dito!
    Um grande abraço

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  3. Thanks for the first line information!
    Greetings from Gent,Willy

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  4. Grande elenco! Pena ter sido em versão concerto e não semi-encenada com bom gosto... Vale a música.
    Cumprimentos musicais.

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  5. Obrigato, FanaticoUm.
    Indeed, with all great singers it should have been staged.
    Liceu de Barcelona is the theater where I'd like to(or have to) visit. Maybe next fall.

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  6. @ wotan, Antonio Machado, Willy, wagner_fanatic,

    Thanks for your comments.

    @ lotus-eater,
    Liceu de Barcelona is one of the most beautiful opera houses in Europe, you should not miss the oportunity to visit it. And the opera seasons in Barcelona are ussualy of high quality.

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  7. A ópera é um espectáculo encenado. Ópera em versão concerto não é ópera, é oratória. Devia ser proibido (não as oratórias).
    Xico

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  8. @Xico,
    Tem toda a razão! Por vezes ouvimos excelentes composições operáticas em versão concerto, mas a ópera é, como muito bem refere, um espectáculo encenado!
    Cumprimentos

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