(review in English below)
Capriccio é a última ópera, em um acto, de Richard Strauss com libretto de Clemens Krauss e Richard Strauss. Aborda a relação entre a música e as palavras, tema que sempre interessou Strauss e que lhe foi sugerido como assunto para uma ópera pelo libretista Stefan Zweig depois de analisar o libretto da ópera de António Salieri Prima la musica e poi le parole.
Várias personagens reúnem-se na mansão da Condessa Madeleine por ocasião do seu aniversário. Ouve-se um sexteto para cordas do compositor Flamand. O poeta Olivier escreveu uma peça que será encenada por La Roche e interpretada pela actriz Clairon e pelo Conde, irmão de Madeleine. Debate-se o que é mais importante, a música ou as palavras. Tanto o compositor como o poeta declaram, secretamente, o seu amor à condessa. Dois cantores italianos cantam um dueto de amor. A condessa sugere a composição de uma ópera contemporânea, sobre eles próprios. Olivier pede à condessa para dizer como deverá terminar a obra. Ela reflecte sobre as qualidades da música e da poesia e, também, sobre de quem gosta mais, Flamand ou Olivier. Não consegue decidir e sai para o jantar cantando uma música de Flamand, inspirada num soneto de Olivier.
(algumas fotografias são da Metropolitan Opera / some photos are from Metropolitan Opera)
A encenação de John Cox transportou a acção do século XVIII para as primeiras décadas do século XX. Foi eficaz, sem deslumbrar.
O maestro Andrew Davis deu-nos uma leitura muito correcta da obra, proporcionando um equilíbrio notável entre a orquestra e os cantores.
Renée Fleming, soprano norte americano, cantou de forma soberba o papel da condessa. De entre as interpretações que tenho visto à Fleming, penso que esta é uma das melhores e mais notáveis (a este nível, só as de Thais e Rusalka). Esteve quase sempre em palco e, quando a partitura o permitia, foi resplandecente e impregnou a interpretação de grande lirismo.
Flamand foi cantado pelo tenor canadiano Joseph Kaiser. Cumpriu o papel com qualidade mas cenicamente esteve aquém do desejável. Nunca foi credível na expressão do seu amor pela condessa. A voz, contudo, é de beleza apreciável e o cantor conseguiu impregná-la de nuances interessantes e bem enquadradas no papel.
O barítono canadiano Russell Braun foi um Olivier que também não impressionou na expressão da sua paixão pela condessa. Contudo, a voz é decente e foi bem projectada.
O baixo britânico Peter Rose foi La Roche. Possuidor de uma voz grande e escura, deu-nos uma das melhores interpretações masculinas da tarde.
Clairon esteve a cargo do mezzo-soprano Sarah Connolly e o Conde foi interpretado pelo barítono Morten Frank Larsen. Ambos tiveram boas interpretações, contribuindo para o bom nível do espectáculo.
Muito bem esteve o par de cantores italianos, o soprano russo Olga Makarina e o tenor britânico Barry Banks. Os papéis foram pequenos mas a qualidade de ambos foi notável. Transbordaram alegria, afinação e boa movimentação em palco.
Um espectáculo muito agradável que primou pela boa qualidade dos intérpretes.
****
Capriccio - Met Live in HD, Gulbenkian Foundation, April 2011
Capriccio is the last opera in one act by Richard Strauss with libretto by Clemens Krauss and Richard Strauss. It is about the relationship between music and words, a topic that always interested Strauss. The theme was suggested as a subject for an opera by librettist Stefan Zweig after reviewing the libretto of the opera by Antonio Salieri Prima la musica poi le parole.
Various people gather at the mansion of the Countess Madeleine at the time of her birthday. A string sextet by the composer Flamand is heard. The poet Olivier wrote a text that will be staged by La Roche and played by actress Clairon and by the Count, brother of Madeleine. A debate arises about what is most important, music or words. Both the composer and the poet declare, secretly, their love for the countess. Two Italian operas singers sing a love duet. The countess suggests the composition of a contemporary opera about themselves. Olivier asks the Countess to decide how the opera should end. She reflects on the qualities of music and words, and also about who she loves best, Flamand or Olivier. She can not decide and leaves singing a music by Flamand inspired on a sonnet by Olivier.
The production by John Cox transported the action from the eighteenth century to the early decades of the twentieth century. It was effective, without being fascinating.
Conductor Andrew Davis gave us a very accurate reading of the work, providing a remarkable balance between orchestra and singers.
Renée Fleming, North American soprano, sung superbly the role of the Countess. Among the interpretations I have seen by Fleming, I think this was one of the best and most remarkable (at this high quality, only Rusalka and Thais). She was almost always on stage and whenever the score allowed she was brilliant, with great lyrical interpretation.
Flamand was sung by Canadian tenor Joseph Kaiser. He sung with quality but artistically he was below my expectations. He has never been credible in the expression of his love for the countess. The voice, however, was of considerable beauty and the singer managed to impregnate interesting nuances.
Canadian baritone Russell Braun was an Olivier who also failed to impress in expressing his love for the countess. However, his voice was decent and he could be well heard.
British bass Peter Rose was La Roche. A great and dark voice, one of the best male performances of the afternoon.
Clairon was sung by mezzo-soprano Sarah Connolly and the Count was interpreted by baritone Morten Frank Larsen. Both had nice interpretations, contributing to the overall good level of performance.
Excellent was the pair of Italian singers, Russian soprano Olga Makarina and British tenor Barry Banks. The roles were small but the quality of both was remarkable. They were joy, in perfect tune, and with excellent movement on stage.
A very nice performance mostly due to the uniform good quality of the singers.
****
Thank you so much for the review.
ResponderEliminarIt's first time for me to read about this opera.
Strauss is quite difficult to play. Once I accompanied a soprano on piano. One of her repertoires was "Morgen" by Strauss. It's a short piece, but I struggled a lot to creat the right atmosphiere of the music.
Years later I heard Helmut Deutsch playing this piece in Jonas Kaufmann's recital. Frankly, I couldn't concentrate on Kaufmann, because I was so touched by the way Deutsch played. Kaufmann is lucky to have such a great pianist as accompanist.
Dear lotus-eater,
ResponderEliminarI agree, Strauss is very difficult. Capriccio, for me, is not one of his best operas, despite the marvelous final 20 minutes of the soprano.
I have heard Helmut Deutsch a couple of times befora and I agree, he is an excellent pianist.