quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

NIXON IN CHINA – Met Live em HD, Fundação Gulbenkian, Fevereiro de 2011


(Review in English below)

Nixon in China é uma ópera de John Adams, com libreto de Alice Goodman, sobre a visita do Presidente Richard Nixon, sua mulher Pat Nixon e Henry Kissinger à China comunista em 1972, depois de várias décadas de isolamento ao ocidente.

A encenação do Peter Sellars é despojada, de bom gosto e eficaz. Os diferentes cenários mudam harmoniosamente e tudo o que se passa no palco é explícito.

A direcção da orquestra, que teve uma excelente prestação, foi do próprio John Adams que recebeu um enorme aplauso. Li no passado algumas críticas muito negativas à qualidade musical da ópera. Não concordo. A música é muito agradável ao ouvido, com partes bastante interessantes, mesmo não tendo a grandiosidade e complexidade instrumental de outros compositores do Sec. XX que, para mim, nem sempre são de fácil audição. O coro também esteve muito bem.

(Fotografia de  Sara Krulwich do New York Times)


Os solistas eram todos bons e reinou o equilíbrio interpretativo.

O barítono James Maddalena foi Richard Nixon, o elo mais fraco que, apesar de globalmente aceitável, teve falhas vocais, sobretudo nas primeiras intervenções. A voz revela sinais evidentes de desgaste. Cenicamente credível, sem deslumbrar.

Pat Nixon foi interpretada pelo soprano Janis Kelly. A voz foi regular ao longo da récita e, na sua grande ária do 2º acto, sempre segura nos agudos, esteve muito bem no canto e na interpretação cénica. Uma boa surpresa para quem nunca a tinha ouvido, como foi o meu caso.

Richard Paul Fink, baixo-barítono, foi um Henry Kissinger que não esmoreceu, apesar de o seu papel não se prestar a grandes voos e de ser ridicularizado na ópera.

Mao Tse-tung foi interpretado pelo tenor Robert Brubaker que nos deu uma boa personagem com voz forte, heróica e bem timbrada. A representação foi credível para a personagem.

Também o barítono Russell Braun foi um excelente Chou En-lai. A voz é poderosa, afinada e com nuances muito interessantes que enriqueceram a interpretação. Um dos melhores da tarde.

Finalmente, a melhor em cena foi o soprano Kathleen Kim que encarnou Chian Ch’ing, mulher de Mao. Cenicamente excelente, ofereceu-nos um belo soprano lírico de coloratura que trouxe grande brilho ao espectáculo.

(Fotografia de Sara Krulwich do New York Times)


O Met ao seu nível, mesmo numa ópera de menor impacto, mas que originou um espectáculo agradável


***


NIXON IN CHINA - Met Live in HD, the Gulbenkian Foundation, February 2011

Nixon in China is an opera by John Adams, with libretto by Alice Goodman, on the visit by President Richard Nixon, his wife Pat Nixon and Henry Kissinger to communist China in 1972, after several decades of isolation.

The staging by Peter Sellars was simple, pleasant and effective. The different scenarios change smoothly and everything that happens on stage was explicit.

John Adams directed the orchestra, which had an excellent performance, and received a loud applause. I read some very negative reviews of the opera, due to its musical poor quality. I disagree. The music is very pleasant, despite not having the impact and complexity of other instrumental composers of the XX century who, for me, are not always easy to listen to. The choir was also very good.

The soloists were all good and interpretive balance was the rule.

Baritone James Maddalena was Richard Nixon who, despite a good presence, had vocal fragilities, especially in the early interventions. The voice reflects his extensive previous work. He was artistically credible, but without dazzle.

Pat Nixon was interpreted by soprano Janis Kelly. The voice was steady throughout the performance, with good top notes, and, in her aria in Act 2, she was excellent both vocally and artistically. She was a nice surprise for those who had never heard her, as was my case.

Richard Paul Fink, bass-baritone, was Henry Kissinger. His intervention is not a major one and he is ridiculed at the opera.

Mao Tse-tung was played by tenor Robert Brubaker who had an excellent performance, strong heroic voice and he was credible artistically.

Also, the baritone Russell Braun was an excellent Chou En-lai. His voice is powerful, in tune and showed very interesting nuances that have enriched the interpretation. He was one of the best.

Finally, the best performer was soprano Kathleen Kim who played Chiang Ch'ing, the wife of Mao. Artistically excellent, she gave us a beautiful lyric coloratura soprano.

The Met as usual, even with an opera with less impact, but which originated a nice performance.


***

4 comentários:

  1. I would love to see this one! I would think the historical significance alone must stir emotion. If I get the chance.....

    ResponderEliminar
  2. Finalmente alguem escreveu a dizer o que achou desta ópera! andava aqui ansioso por ler qualquer coisa.

    Eu só ouvi isto pela antena 2, com muita pena minha, porque gostava muito de ter estado na gulbenkian para assistir.

    Do que ouvi, pareceu-me uma ópera relativamente interessante, dentro daquilo que o minimalismo me permite gostar. Tinha passagens bastante interessantes e uma história pelo menos curiosa. Ao menos não é de faca e alguidar :)

    No entanto, tal como mencionas no teu post, pareceu-me notar algumas debilidades a nivel vocal por parte de alguns cantores.

    Espero pacientemente que coloquem está opera no Metplayer para eu poder ver e dizer o que achei.

    A produção levada a cena no Met já havia sido levada noutros lugares, pelo que andei a ver umas coisas pelo youtube e gostei bastante do que vi.

    Gosto bastante da cena da chegada do avião.

    Voces não perdem uma :)

    ResponderEliminar
  3. @JJ
    If you go to NY, you have the chande to see it live. I think it is an excellent choice.

    @blogger
    Seja bem vindo de novo aos comentários a este blogue. Já há meses que o não fazia!
    Vale a pena ver esta ópera, é também a minha opinião. São vários os momentos cenicamente bem conseguidos, para além da chegada do avião.
    Infelizmente perdemos muitas, mas prometo que, nos próximos tempos, vão haver diversas entradas com novas óperas. Estamos no período aureo das temporadas!
    Volte sempre. E vá também escrevendo no seu blog, que muito gostamos.
    Cumprimentos musicais.

    ResponderEliminar
  4. Musicalmente as ópera de Adams são fracas. Não consigo deglutir suas modernidades, questão de gosto. Ópera boa é ópera velha. Com mais de 50 anos de existência , pelo menos.

    ResponderEliminar