quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Akademie für Alte Musik Berlin, Quatro Elementos (Jean Féry Rebel) - Quatro Estações (Antonio Vivaldi) / Four Elements - Four Seasons

(review in English below)

Confesso que foi com alguma curiosidade e desconfiança que aguardei por este concerto. No barroco, que tanto gosto, juntava uma das melhores orquestras mundiais a Akademie für Alte Musik de Berlim e uma das mais belas obras, as Quatro Estações, de Vivaldi. Mas, um concerto coreográfico, deixou-me de “pé atrás”.



O início do espectáculo foi de grande impacto. Após um atraso de mais de 10 minutos (penso que deliberado) com a presença de apenas um instrumentista no palco, a sala foi escurecendo e o concerto iniciou-se com um belo e suave solo de alúde, bruscamente interrompido por um intenso som dissonante tocado pela orquestra, subitamente visível com o acender das luzes do palco.


Assim se iniciou a suite Les Éleménts de Jean Féry Rebel, uma peça interpretada também por um bailarino solista (director e coreógrafo), Juan Kruz Diaz de Garaio Esnaola. Confesso que não sou grande apreciador deste tipo de coreografias e, em determinado momento, foram reproduzidas na perfeição posturas e comportamentos gestuais característicos de doenças humanas de elevada gravidade, o que muito me perturbou.


Chegámos depois às Quatro Estações. A presença de dois escadotes e a entrada dos músicos, descalços, fez-me recordar que, também esta peça, nos seria oferecida de forma distinta do convencional. Dizia o programa que a produção coreografada desloca a atenção do público, focada no solista, direccionando-a para os aspectos programáticos da música no seio da orquestra, actuando os músicos simultaneamente como actores. Foi, de facto, um espectáculo diferente. Como principal nota positiva deve salientar-se que a magnífica peça de Vivaldi foi integralmente respeitada, como já o Paulo do blogue Valkirio salientou, e que a orquestra a tocou ao mais alto nível. Merece relevo a violinista solista, Ariadne Daskalakis que foi soberba mas, na qualidade da interpretação musical, os restantes elementos estiveram ao seu nível.


Já a “coreografia”, apesar de alguns apontamentos interessantes, não foi, para mim, uma mais valia. Desconcentrou-me, teve elementos que perturbaram a audição (como, por exemplo, os baldes metálicos com água) e não foi fantasticamente interessante.

O texto de Bárbara Villalobos no programa dizia que nos era apresentada uma versão coreografada e com várias pequenas alterações na instrumentação, facto que não colide com a essência da obra em si, indo antes ao encontro da obsessão barroca pelo teatral e pela vontade de surpreender, maravilhar e deliciar o espectador.

Enfim, surpreendido, fiquei, mas maravilhado e deliciado, não. Confesso que prefiro a versão concerto…

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Akademie für Alte Musik Berlin, the Four Elements (Jean Fery Rebel) – Four Seasons (Antonio Vivaldi)


I confess that I waited for this concert with some curiosity and suspicion. I am a great fan of the Baroque and in this concert we could listen to one of the world's leading Baroque orchestras, Akademie für Alte Musik Berlin, playing one of the most beautiful musical works of the time, the Four Seasons by Vivaldi. But, a choreographic concert, let me suspicious.

The beginning of the concert was impressive. After a delay (I think deliberate) of more than 10 minutes, only one performer was on stage, the room was dark and the concert began with a beautiful and soft lute solo, sharply interrupted by a dissonant and intense sound played by the orchestra, suddenly visible with the lightening of the stage.

Thus began Les Éleménts by Jean Féry Rebel, a work also interpreted by a solo dancer (choreographer and director), Juan Kruz Diaz de Garaio Esnaola. I confess I am not very fond of this kind of choreography, and at one point the dancer reproduced perfectly gestural attitudes and behaviors characteristic of serious human diseases, which greatly disturbed me.

Then, the Four Seasons. The presence on stage of two ladders and the entrance of the musicians without shoes indicated immediately that also this musical work would be presented in an unconventional way. The room program mentioned that the choreography shifts the attention of the public from the soloist to the programmatic aspects of music within the orchestra, the musicians acting also as actors. It was indeed a different performance. As the main positive note it should be mentioned that the magnificent work of Vivaldi was fully respected, as Paulo from the blog Valkirio pointed out, and that the orchestra played it at the highest level. The violin soloist, Ariadne Daskalakis was superb, but the high quality of musical interpretation was identical among the other members of the orchestra.

But the "choreography", despite some interesting notes, was not a big plus. It made me loose the concentration on the music, included some elements that disturbed the hearing (for example, metal buckets with water) and was not fantastically interesting

The text by Barbara Villalobos in the room program mentioned that the choreographed version had several small changes in instrumentation, which is consistent with the essence of the work itself, and meets the baroque obsession of desire to surprise, amaze and delight the spectator.

Well, I was surprised, but not thrilled or delighted. I confess that I prefer the concert version ...

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7 comentários:

  1. Perfeitamente de acordo. Gostei, sem ter ficado fascinado pelas coreografias.
    Apreciei o humor e a boa disposição dos músicos e a proposta diferente de apresentação da obra. Não me senti distraído da música, salvo, também, pelos baldes de água.

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  2. Caro FanaticoUm,

    Como já tive a oportunidade de referir neste blog, e em relação a encenações operáticas, "reinventar o que já foi reinventado é complicado" mas, no fundo, esta expressão não se pode bem aplicar ao espectáculo que assistiu e que tão bem comentou.

    Confesso que é a primeira vez que oiço falar das Quatro Estações de Vivaldi coreografadas (acredito que já tenha existido outros momentos no passado e em outros locais que não Lisboa). Aqui, mantendo-se a obra de Vivaldi como o próprio a escreveu, trata-se de inventar o que ainda não foi (re)inventado e, pelo que nos transmite, a opção talvez não seja muito positiva.

    É claro que arte é arte, pode ser transmitida de diversas maneiras e não temos todos de apreciar o mesmo mas, se eu tivesse ido assistir a este concerto, penso que me sentiria do mesmo modo: surpreso mas não agradado.

    Cumprimentos musicais.

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  3. Hi,
    I can imagine what kind of performance it was.
    Experimental dance performance and Vivaldi don't match at all, especially not in the concert hall. I would have felt distracted, as well.

    The lute on the picture is called "renaissance lute", isn't it? I've recently seen and heard this instrument in a Vivaldi's opera. It sounded wonderful.

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  4. hello my dear friend...I wish HAPPY NEW YEAR and BEAUTİFUL DAYS...
    ..best regards...

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  5. @lotus-eater
    Yes, you are right! Experimental dance and Vivaldi, in my opinion, do not match. But Akademie für Alte Musik, Berlin, and Vivaldi do match!! It is an extraordinary orchestra playing an extraordinary piece of work form the Baroque.

    @Sonsprinter
    Thank you for your mail. We wish you also an Excellent Year of 2011, with a lot of happiness and goos posts in the blogs.

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  6. Interesting. I also appreciate Baroque orchestras, and I love Vivaldi. Thank you for a terrific post.

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  7. I've got a chance to watch this concert on Arte-TV. The musicians were excellent, but I didn't like the physical performance that much. The musicians in the orchestra pit and dancers on stage would be better.

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