Passando à análise sempre modesta e humilde deste Parsifal:
Começo por enaltecer o grande senhor (aliás é já Sir) John Tomlinson. Já nos seus 60s ainda me consegue entusiasmar. Tive a oportunidade de ver o seu Hagen em 2006 e o seu Wotan em 2007 (substituíndo Terfel no célebre Anel da Royal Opera House). Sempre foi dotado de um timbre especial e característico, que o tempo se encarregou de acentuar, dificultando os agudos. As suas tentativas de o som não se perder neste timbre e nos agudos leva-o a fazer posturas e caretas profundamente hilariantes para mim mas que me fazem adorar ouvi-lo em qualquer momento. Esteve muito bem como Gurnemanz. A encenação contudo não previligiou a evolução da personagem em termos cénicos. No fundo passam-se vários anos entre o 1º e 2º acto e Gurnemanz permaneceu igual: aspecto idoso dos 60s de Tomlinson... Quando ele acordou a Kundry no 3º acto e ela grita olhando-o na face ficou como que em transe, em período de ausência epiléptica ao qual não pude deixar, tal como quase todos, de rir. Vá lá Petra Lang, o Tomlinson está velho mas não tem mau aspecto :)
E por falar em Kundry e Petra Lang, esta é uma das melhores mezzos para Wagner na actualidade. Uma Brangane soberba em Novembro 2009 em Berlim, voltou a surpreender neste Parsifal. De voz firme e quente, sem gritar (ao contrário de Waltraud Meier hoje em dia neste papel...), é talvez a melhor Kundry que podemos ouvir hoje me dia. Não é particularmente bonita (aí prefiro Meier) mas não se pode ter tudo...
Christopher Ventris foi Parsifal. Tendo-o visto em Paris em 2008, bem como o DVD com a produção de Zurich (soberba) acho-o mais entrosado com o papel. Não pareceu irritavelmente inocente no primeiro acto e foi capaz de ir sentindo profundamente o que cantava. Tem ainda períodos em que a voz não supera a orquestra e em que parece que se defende embora também aqui ache que está melhor - arriscou mais e não perdeu.
Falk Struckmann também, em linha da Petra Lang, deve ser um dos melhores Amfortas que se pode desejar ouvir. No meu ponto de vista tem o timbre perfeito para o papel. Não exagerou na imagem de sofrimento e cenicamente um grande actor. Vocalmente perfeito.
Ainda estive para falar com os responsáveis da Ópera de Viena, e também com o encenador (estou a brincar claro...) porque deviam ter dado algum retorno do valor do bilhete por me obrigarem a ver Wolfgang Bankl nú da cintura para cima. Celulite em tudo quanto é sítio e um perímetro abdominal adivinhando uma insulinorresistência marcada estragaram visualmente um início do 2º acto, numa encenação que só melhorou quando ficou mais minimalista, por incrível que pareça. Vocalmente o senhor até cumpriu.
A encenação foi minimalista a partir do dueto Parsifal-Kundry no 2º acto e até ao fim. Foi a melhor parte. No início da ópera, umas paredes com lavatórios, uma música da transformação com alusões incomprensíveis (pelo menos para mim), e um início do 2º acto com um "camera man" a filmar em cima de Klingsor e Kundry, sendo a imagem projectada no fundo do cenário, com algumas alusões hitlerianas. Profundamente horrível. Ainda não vi um Parsifal ao vivo em que achasse a encenação aceitável. A cena com as mulher-flor até foi aceitável; vestidas de vermelho, com uma daquelas bolas espelhadas "muito disco"... um autêntico bordel, pelo que dizem.
Peter Schneider dirigiu a orquestra muito bem, embora com umas 5 ou 6 "gafes" minor. Andamento racional e ao meu gosto.
Este Parsifal pode ser revisto na próxima temporada e na mesma altura (Páscoa) com Waltraud Meier como Kundry, Franz-Josef Selig como Gurnemanz, mantendo-se Christopher Ventris como Parsifal e Falk Struckman como Amfortas.
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