quarta-feira, 10 de novembro de 2021

JOYCE DiDONATO, IL POMO D’ORO, Fundação Gulbenkian, Novembro / November 2021


(review in English below)

Joyce DiDonato é uma das minhas cantoras favoritas e, mais uma vez, esteve ao mais alto nível. Este foi o melhor espectáculo a que assisti na Gulbenkian nos últimos tempos, graças não só à DiDonato mas também à excelente orquestra Il Pomo d’Oro.



A COVID-19 foi um acontecimento terrível para todos nós mas, no que respeita aos espectáculos ao vivo na Gulbenkian, teve uma consequência muito boa – acabaram as tosses! Antes da pandemia, parecia que uma parte significativa dos selectos espectadores da Gulbenkian tinham tuberculose ou algo similar, tal era a frequência e intensidade com que tossiam deliberadamente durante os concertos. Agora, não se atrevem, porque seriam logo olhados e incriminados como potenciais infectados pelo vírus. Mas, infelizmente, em relação aos telemóveis, não se melhorou. Continuam a tocar ao longo de todo o espectáculo, uma vergonha, mas o selecto publico da Gulbenkian não aprende a colocá-los no silêncio. É pena!
 
Mas voltemos ao concerto de ontem. A Orquestra, Il Pomo D’Oro foi excelente! É uma verdadeira orquestra barroca, formada por músicos jovens, e tocou de forma imaculada. Foi um prazer ouvir (e ver) a forma empolgada e eficaz com que tocaram.



A Joyce DiDonato, mais uma vez de entre as várias que tive o privilégio de a ouvir, esteve ao mais alto nível. Tem uma voz belíssima, de grande extensão, timbre único e potencia invejável, que sabe usar com maestria. E domina o vibrato e as ornamentações  na perfeição. 



Expressou alegria e felicidade (“Illustratevi, o cieli” de Il Ritorno d’Ulisse in patria de Monteverdi e “Dopo notte” de Ariodante de Händel),  tristeza, raiva e dor (“Addio Roma, addio patria” de L’incoronazione di Poppea de Monteverdi, “Piangerò la sorte mia” de Giulio Cesare in Egitto de Händel). Também houve arias de bravura como “Morte, col fiero aspetto” de Antonio e Cleopatra de Johann Adoph Hasse, e um maravilhoso dueto entre alaúde e voz em “Come again, sweet love doth now invite” de John Dowland. 
Dois “encores” excelentes completaram um dos melhores concertos a que assisti nos últimos tempos na Gulbenkian.




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JOYCE DiDONATO, IL POMO D’ORO, Gulbenkian Foundation, November / November 2021

Joyce DiDonato is one of my favorite singers and, once again, she was at the highest level. This was the best show I've seen at the Gulbenkian in recent times, thanks not only to DiDonato but also to the excellent Il Pomo d’Oro orchestra.

COVID-19 was a terrible event for all of us, but when it comes to live shows at the Gulbenkian, it had a very good consequence – no more coughing! Before the pandemic, it appeared that a significant proportion of the distinguished Gulbenkian audience had tuberculosis or something similar, such was the frequency and intensity with which they deliberately coughed during concerts. Now, they don't dare, because they would soon be looked at and accused of being potentially infected by the virus. But, unfortunately, with regard to mobile phones, it has not improved. They continue to ring throughout the entire performance. A shame, but the distinguished Gulbenkian's audience doesn't learn to silence them. It's a pity!
 
But let's go back to yesterday's concert. The Orchestra, Il Pomo D’Oro, was excellent! It is a true baroque orchestra, formed by young musicians who played immaculately. It was a pleasure to hear (and see) the excited and effective way they performed.

Joyce DiDonato, once again, among the many occasions that I had the privilege of listening to her, was at the highest level. She has a beautiful voice, with great extension, unique timbre and enviable power, which she knows how to use with mastery. And she masters vibrato and ornamentation to perfection.

 She expressed either joy and happiness (“Illustratevi, o cieli” from Il Ritorno d'Ulisse in patria by Monteverdi and “Dopo notte” from Ariodante de Handel), or sadness, anger and pain (“Addio Roma, addio patria” from L' incoronazione di Poppea by Monteverdi, “Piangerò la sorte mia” from Giulio Cesare in Egitto by Handel). There were also bravura arias like “Morte, col fiero aspetto” from Antonio and Cleopatra by Johann Adoph Hasse, and a wonderful duet between lute and voice in “Come again, sweet love doth now invite” by John Dowland.
Two excellent encores completed one of the best concerts I've attended at the Fundação Gulbenkian.

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4 comentários:

  1. Que bom ler este seu relato, que reconfortante ! Fui duas vezes à Gulbenkian ouvir a Didonato, A.P. (Antes da Pandemia), e foi sempre tão bom como agora descreve. A Pomo d'Oro é a pureza barroca no seu mais límpido e despojado registo, enquanto a voz da Didonato é esfuziante nos vários registos. Magnífico contraste. Imagino (é só o que me resta) que ficaria arrepiado com o Paingerò ou o Come Again do Dowland. Obrigado, fiquei bem disposto com a leitura !

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  2. Não sei se deu conta: o Mezzo está a transmitir o concerto da Didonato com o Pomo d'Oro em Bayreuth que deve ter tido o mesmo programa que o da Gulbenkian. A aria de Handel em 'encore', "As with rosy steps the morn", é absolutamente divinal, sublime.

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    1. Obrigado pela informação. Não sabia, cada vez vejo menos televisão. Vou tentar ver se ainda consigo ver.

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  3. Manuel da Conceição Picado Mourato25 de novembro de 2021 às 08:53

    Também já a vi por mais de uma vez na Gulbenkian mas desta vez não pude ir com muita pena minha. Tive de dar o bilhete. Uma excelente cantora com uma força e presença em palco só comparável à Bartoli que também já vi na Gulbenkian. Sempre que a vi ao vivo ou nas transmissões do MET saí com o coração cheio. Uma senhora e excelente cantora.

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