(review in English below)
No Teatro Nacional de São Carlos pudemos assistir à ópera Faust de Charles Gounod numa produção originária da Ópera de Las Palmas, encenada por Alfonso Romero Mora, sob a direcção do maestro Antonio Pirolli.
Foi o melhor espectáculo de ópera desta temporada, ao nível dos grandes espectáculos de ópera internacionais. Tanto o Coro do Teatro de São Carlos como a Orquestra Sinfónica Portuguesa estiveram muito bem.
A encenação foi fantástica! Foi a prova que, com imaginação e competência, conseguem criar-se espectáculos de grande qualidade cénica com poucos recursos. Saliento alguns aspectos: Logo no início, um pêndulo enorme marca o ritmo da vida, que é parado pelo Mefistófeles quando chega a acordo com o velho Faust e o transforma num jovem. No final da ópera, quando tudo termina, o pêndulo volta a aparecer e a retomar o seu curso.
Há também logo no início uma banheira antiga, (objecto purificador?), onde o velho Faust é lavado por uma enfermeira no lar onde está. A banheira voltará a aparecer quando Marguerite surge com o filho abandonado por Faust. Mais tarde, será aí que a criança morrerá afogada pela mãe, enlouquecida.
Para mim a cena de maior impacto é a cena da igreja do IV acto, quando Marguerite reza a Deus em frente a uma estátua da Pietá e rodeada de um grupo de religiosos. O diálogo é estabelecido com Mefistófeles que manipula um padre (morto) que canta e faz os gestos condenatórios. Mais tarde Mefistófeles coloca-se sobre a estátua e, nesse momento, vê-se que as figuras são vivas porque se movimentam. O efeito é magnífico e de uma beleza invulgar.
Muito mais se poderia destacar. Também houve pequenos apontamentos que não gostei como, logo no início, a lavagem do velho Faust. Não teria sido necessário um nu integral do figurante. Felizmente que, mais tarde, com a criança, esta ficou de cuecas.
Mas foi uma encenação excelente, a melhor de todas as que vi desta ópera!
Quanto aos cantores solistas, também estiveram muito bem. Faust foi o tenor Mario Bahg de voz com timbre agradável e bem audível. Foi pouco emotivo na componente cénica, mas esteve bem.
Anunciaram antes do início do espectáculo que o barítono Rubén Amoretti não estaria fisicamente bem. Mas foi um Méfistófeles excelente com voz bonita, potente e sempre afinada, aliada a uma excelente presença cénica, muito ajudada pela caracterização.
A soprano Irina Lungu fez uma Marguerite de qualidade superior, tanto na vertente cénica como na vocal, onde mantém um voz de qualidade assinalável, afinada e muito bem colocada.
O barítono André Baleiro foi um Valentin de excepção. Para mim o melhor cantor da noite. É jovem, a figura ajuda muito, e tem uma voz enorme e sabe utilizá-la na perfeição. Foi um privilégio assistir à sua interpretação. E o público reconheceu-o no final.
A Mezzo Cátia Moreso este ano já nos ofereceu interpretações de topo. Não foi o caso hoje. Esteve bem mas, frequentemente, as notas saíram mais gritadas que cantadas, o que prejudicou a actuação.
A terminar, Luís Rodrigues (Wagner) e Patrícia Quinta (Marthe) cumpriram sem destoar.
Um excelente espectáculo de ópera!
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FAUST, Teatro Nacional de São Carlos, Lisbon May 2022
At the Teatro Nacional de São Carlos we were able to watch the opera Faust by Charles Gounod in a production originally from the Opera de Las Palmas, directed by Alfonso Romero Mora, under the direction of conductor Antonio Pirolli.
It was the best opera performance this season, at the level of the great international opera shows. Both the São Carlos Theater Choir and the Portuguese Symphony Orchestra performed very well.
The staging was fantastic! It was a proof that, with imagination and competence, it is possible to create shows of great scenic quality with few resources. I emphasize some aspects: Right at the beginning, a huge pendulum marks the rhythm of life, which is stopped by Mephistopheles when he comes to terms with the old Faust and transforms him into a young man. At the end of the opera, when everything is over, the pendulum reappears and resumes its course.
There is also at the very beginning an old bathtub, (purifying object?), where old Faust is washed by a nurse in the nursing home where he is. The bathtub will reappear when Marguerite appears with her son abandoned by Faust. Later, it will be there that the child will be drowned by the mother, maddened.
For me, the scene with the greatest impact was the scene in the church of the IV act, when Marguerite prays to God in front of a statue of the Pietá and surrounded by a group of religious. The dialogue is established with Mephistopheles who manipulates a (dead) priest who sings and makes the condemning gestures. Later Mephistopheles places himself on top of the statue and, at that moment, it is seen that the figures are alive because they move. The effect is magnificent and of an unusual beauty.
Much more could be highlighted. There were also minor points that I didn't like, such as, right at the beginning, the washing of the old Faust. A full nude of the extra would not have been necessary. Fortunately, later on, with the child, he was left in his underwear. But it was an excellent staging, the best I've ever seen of this opera!
As for the soloist singers, they were also very good. Faust was the tenor Mario Bahg with a pleasant and audible voice. He was less emotional in the scenic component, but he was fine.
They announced before the start of the show that baritone Rubén Amoretti would not be physically well. But he was an excellent Mephistopheles with a beautiful, powerful and always in tune voice, combined with an excellent stage presence, greatly helped by the figure.
Soprano Irina Lungu was a Marguerite of superior quality, both in the scenic and vocal aspects, where she maintains a voice of remarkable quality, in tune and very well placed.
Baritone André Baleiro was an exceptional Valentin. For me the best singer of the night. He is young, the figure helps a lot, and he has a huge voice and knows how to use it perfectly. It was a privilege to watch his performance. And the audience recognized him in the end.
Mezzo Cátia Moreso this year has already offered us top interpretations. That was not the case today. She was ok, but often the notes were more shouted than sung, which hampered the performance.
Luís Rodrigues (Wagner) and Patrícia Quinta (Marthe) were ok in their short roles.
An excellent opera show!
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Olá,
ResponderEliminarVi o espectáculo no dia 20, foi fantástico quer vocal como cenico. As vozes foram de uma grande classe, mas o que mais me impressionou foi o barítono André Baleiro, que grande cantor, o fraseio, a dicção, a voz muito bem colocada.O maestro esteve com elegância a dirigir a Sinfónica e o coro excelente! Parabéns ao São Carlos!
Estou vendo que assistimos à mesma récita. De uma maneira geral estou de acordo. Já há muito tempo que não assistia no São Carlos a espectáculo tão bom. Também gostei muito da
ResponderEliminarencenação e tal como diz, achei a cena da igreja uma beleza.
Quanto aos cantores estiveram todos bem mas a Irina, o Baleiro e o Amoretti
foram os melhores. Também gostei do tenor que faz de Fausto mas cenicamente poderia ter sido melhor. Esperemos pela Adriana no fim da temporada!
Esqueci-me de me identificar no comentário anterior. Para que conste.
ResponderEliminarManuel Mourato