sexta-feira, 25 de agosto de 2017

PARSIFAL, Bayreuth, Agosto / August 2017


(text in English below)

O wagner_fanatic concretizou este ano um objectivo de sempre – assistir ao Parsifal em Bayreuth. Aqui ficam alguns dos seus comentários a essa experiência única:



Numa palavra: Mágico! A acústica é fenomenal! A sensação que se sente é que as vozes têm uma projecção maior do que noutros teatros e a orquestra, que como se sabe, não se vê, preenche sonoramente a sala quer quando em forte quer quando em piano, nunca abafando as vozes. Parece que há uma harmonia incapaz de ser quebrada entre a orquestra e as vozes. 


E que récita! O Zeppenfeld foi insuperável, a Pankratova também - os agudos são de tirar o nosso fôlego, sem gritar e conseguindo colocar na voz a emoção de uma maneira que arrepia – que Kundry! E o Andreas Schager, meu Deus, é sublime! O 2º acto foi claramente o melhor que assisti de algum tenor a cantar este papel. Ele é o Parsifal! Tudo lhe sai da alma e sente-se isso, mesmo para alguém que não conheça a obra.


O ritual do festival também é interessante. Tem as fanfarras a anunciar que faltam 10min para começar o acto. Lá dentro o carreiro de luzes por cima das colunas desligam... passado um pouco ouve-se uma campainha, os assistentes fecham as portas que ficam entre as colunas, correm cortinas sobre as portas, as outras luzes nas colunas fecham e começa a magia!



As cadeiras é que são muito desconfortáveis – são mesmo de madeira e, embora tenham um revestimento de veludo, este é muito fino e não ajuda. Tomei um paracetamol antes e acho que me ajudou um pouco mas, mesmo assim, ainda me doeu no final dos actos. 



E, embora eu ache que assim é que fica como Wagner quereria, podia ter legendas... por muito que se conheçam as obras, às vezes perde-se um pouco por não se saber alemão. No Parsifal não sinto tanto isso porque já sei praticamente todas as falas mas, num Tristão ou num Siegfried ou Crepúsculo, perde-se muita informação.






PARSIFAL, Bayreuth, August 2017

Wagner_fanatic has made this year an all-time goal - to watch Parsifal in Bayreuth. Here are some of his comments on this unique experience:

In one word: Magical! The acoustics are phenomenal! The feeling is that the voices have a larger projection than in other theaters and the orchestra, which, as we all know, can not be seen, fills the room either when it is forte or when in piano, never muffling the voices. It seems that there is a harmony that can not be broken between the orchestra and the voices. And what a performance! Zeppenfeld was insurmountable, Pankratova as well - the top notes are to take our breath, without shouting and managing to put the emotion in a voice in a way that shivers – what a Kundry! And Andreas Schager, my god, is sublime! He was clearly the best that I saw among tenors singing this role. He is the Parsifal! It all comes out of his soul and you feel it, even for someone who does not know the opera.

The festival ritual is also interesting. There are fanfares to announce that they have 10 min to start the act. Inside the path of lights above the columns turn off ... after a little bell is heard, the assistants close the doors that remain between the columns, curtains run over the doors, the other lights in the columns close and the magic begins!


The chairs are very uncomfortable - they are really made of wood and although they have a velvet lining, this is very thin and does not help. I took a paracetamol before and I think it helped me a bit, but it still hurt me at the end of the acts. And although I think that's how it goes as Wagner would want it, it could have subtitles ... no matter how much the works are known, sometimes we get lost a little because we do not know German. In Parsifal I do not feel that much because I already know practically all the speeches but in Tristan or Siegfried or Götterdämmerung, much information is lost.

11 comentários:

  1. Caro Fanático_Um,

    durante este Verão a RTP 2 transmitiu os 30 episódios (terminaram hoje) da série This is Opera, uma série de divulgação do pianista/barítono catalão Ramon Gener. Deixei a gravar e já vi os 30. Não é primordialmente destinado ao público melómano, pois o que "ensina" os melómanos tipicamente sabem, mas a série tem momentos magníficos e mesmo assim ainda se aprender aqui e ali algo mais (https://thisisopera.store). A série que passou é a versão em que ele fala em Inglês mas ele também filmou exactamente o mesmo conteúdo em duplicado numa versão em que fala em Castelhano.

    Há um episódio dedicado ao Parsifal e outro dedicado ao O Anel do Nibelungo. O do Ring é bastante bom. O que me leva a escrever é que numa parte desse episódio o Ramon Gener descreve-nos e mostrar-nos com enorme emoção a arquitectura dos meandros do teatro Festspielhaus, vai dentro dos bastidores, dentro do palco, mostra a invenção do fosso da orquestra (a que a tradução da RTP legendou por duas vezes como "cavidade para orquestra"!), a invenção da diminuição das luzes, o ritual do fechar de portas e não permitir que se entre depois, e como Wagner projectou os mais ínfimos pormenores e deliberadamente optou pela eliminação das coxias na plateia (com intenção de eliminar conversas), a eliminação de camarotes (para todos terem o mesmo tipo de experiência), e... a opção por cadeiras estreitas, duras, deliberadamente desconfortáveis.
    O Ramon Gener chega mesmo a dizer acerca delas algo muito próximo do que ao Fanático_Um descreveu. Se bem me lembro ele diz que 5 horas nelas é quase uma tortura.
    Bom, fui verificar a gravação e foi isso mesmo. As palavras exactas são estas (o inglês do Ramon não é perfeito mas aqui fica - sic - um excerto da descrição):
    "(...) Wagner wanted nothing to distract the spectators, that's why he hid the musicians - he placed them below the stage, in a pit. Now pits are found in all opera houses, but Wagner was the first - pretty smart! He made a real impression when it came to the main floor. Wagner wanted to get away from the Italian-style theatres with the horseshoe shape and took inspiration in classical theatres. That's why all the seats are exactly the same - no boxes! - all spectators are equal and from any spot in the house you've got a perfect view of the stage. He also removed the aisles so that people could't greet one another - if came to Bayreuth you're here to see opera. The seats are narrow and unconformable, and there's hardly any legroom - seating here for 5 hours its close to torture! But I think that Wagner did it in purpose so that people could't fall asleep; because Wagner was also the first one to do something else that seems do basic today: he turned out the house lights. Up until then people went to the opera to socialise, to chat, to eat. Wagner made sure to put an end to all that. Hew was also the first to prohibit people from entering once the opera has begun. (...)"

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    1. Obrigado pelo comentário Francisco, mas quem escreveu este texto (e teve a experiência!!) foi o wagner_fanatic. Vi também a maioria dos episódios da série que refere e concordo consigo, não sendo para melómanos, por vezes tem partes magníficas. Mas, poucas vezes, também tem opções que não resultam, na tentativa de envolver o público.

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  2. Que inveja. Sempre sonhei ir a Bayreuth, mas desde que me falaram das cadeiras, desisti. Não aguento. Prefiro estar de pé.

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  3. Que maravilha, wagner_fanatic! Também espero um dia poder ir a Bayreuth.
    Uma pergunta: não será possível levar uma almofadinha discreta, se necessário camuflada?

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    1. Antigamente podia-se levar uma almofada (muitos hotéis disponibilizavam aos seus hóspedes almofadas para o efeito), mas actualmente a regras de segurança em vigor proíbem que os espectadores tragam almofadas do exterior. Todavia, o bengaleiro empresta gratuitamente adequadas almofadas a quem o solicitar.

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  4. Em resposta a Gi: segundo o que é descrito (e com fotografias) em http://intermezzo.typepad.com/intermezzo/2010/08/bayreuth-seats.html, podem alugar-se almofadas. Apesar disso muitos dos espectatores levam-nas de casa. O relato indica: "Nevertheless, around a quarter of the audience - wimps - do insist on bringing the traditional cushions. Some look as if they've been whipped off the sofa at home, but most are thin foam pads, a little smaller than the seats. Many bear Bayreuth or Wagner designs. Just in case. They are left wedged into the seats during the long intervals, where you can see them in the photos below."

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  5. Parece que, sem nos (re)conhecermos, estivemos ambos em Bayreuth na mesma altura! Eu assisti ao Ring entre os dias 8 e 13 de Agosto, juntamente com um grupo português de melómanos wagnerianos, e sobre o qual pretendo escrever proximamente.
    Mas posso já adiantar que concordo inteiramente consigo quanto à acústica da sala, que é única e fenomenal, bem como ao ambiente que se vive durante o Festival.
    Não sou tão severo com as cadeiras. É certo que não são nenhum primor de conforto, mas promovem uma boa postura (ajuda até a combater o cansaço físico ao longo das várias horas que nelas permanecemos sentados) e só senti alguma dureza na parte das costas. Mas nada que não se resolva facilmente com as práticas almofadas que se podem requisitar no bengaleiro.

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  6. Que inveja eu não ter possibilidades de ir a Bayreuth como o Francisco e demais Fanáticos. Se pudesse lá ir com certeza que o meu problema não seria o desconforto das cadeiras, aliás até nem me importaria de me sentar chão. Considerem-se previlegiados. Já agora, como conseguiram obter os bilhetes? Tenho lido e ouvido que obtê-los é muito difícil.
    Manuel Mourato

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  7. Queria só retificar o meu comentário anterior quando refiro o Francisco, devendo referir isso sim o João Baptista e restantes melómanos que estiveram na récita em causa. Volto a questionar e a agradecer a quem souber ou quiser explicar a maneira de obter bilhetes para a ópera em Bayreuth. Obrigado . Manuel Mourato

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    1. Eu estava lá nessa altura, mas não assisti ao Parsifal. Este ano “apenas” assisti ao Ring.
      Quanto aos bilhetes, com perseverança e paciência conseguem-se arranjar.
      Os métodos seguintes são elencados por ordem de rapidez na obtenção dos bilhetes, desde os mais demorados aos mais expeditos.
      O método tradicional é o de solicitar bilhetes através do próprio site do Festival de Bayreuth. Normalmente demora vários anos até serem concedidos, sendo que todos os anos o pedido deve ser renovado, sob pena de se voltar para o fim da lista. A primeira vez que fui a Bayreuth, em 2011, foi o culminar de 9 anos de espera. Desta vez, aguardei mais 6 anos. Para além disso, o Festival tem vendido bilhetes on-line para cada ano, embora a venda ocorra num único dia e é muito difícil conseguir aceder ao site e concluir a compra, pois são milhões de pessoas por todo o mundo a tentar o mesmo em simultâneo.
      Pode fazer-se associado de uma sociedade wagneriana, que também receba bilhetes e distribua pelos associados. Em Portugal tem o Círculo Richard Wagner.
      Pode fazer-se associado da Gesellschaft der Freunde von Bayreuth. Paga uma jóia anual, mas recebe bilhetes muito mais facilmente através da dotação a que a associação tem direito por ser uma das proprietárias e patrocinadoras do Festival.
      Finalmente, há algumas agências que vendem pacotes turísticos com bilhetes incluídos. Todavia, os preços são proibitivos.
      Há muita informação disponível na net sobre o assunto e possivelmente outras formas de obter bilhetes que me estejam a escapar.

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  8. Muito obrigado ao João Baptista pela útil informação. Estou a ver que vai ser difícil ir a Bayreuth nos anos próximos. Vou tentar e ter esperança. Mais uma vez, obrigado.

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