Há cerca de um
ano assisti à pior interpretação do Requiem
de Verdi na insuspeita Fundação Gulbenkian, como aqui relatei. Esta é uma
das minhas obras favoritas do compositor, pela sua musicalidade ímpar e força
telúrica avassaladora. A apresentação no Teatro Nacional de São Carlos, não nos transportando para uma desejada dimensão
transcendental, foi um espectáculo incomparavelmente melhor que a experiência
do ano passado.
O maestro
italiano Gianpaolo Bisani, trajado
de forma pouco convencional, foi responsável por uma direcção eficaz que, em
vários momentos, evidenciou o sentimento introspectivo de que a obra está
imbuída.
A soprano Daniela Schillaci (que substituiu
Rachele Stanisci) tem uma voz potente, sempre sobre o coro e a orquestra, mas
com tendência para a estridência, o que foi muito evidente nas intervenções
iniciais. Contudo, melhorou muito ao longo da récita e, no Agnus Dei, foi irrepreensível.
Enkelejda Shkosa, meio-soprano,
foi uma das melhores da noite. A voz é ponderosa, bonita e muito expressiva. O Liber scriptus foi de grande qualidade e
assim continuou até ao final.
O tenor Massimiliano Pisapia cumpriu sem destoar.
O baixo Nicola Ulivieri, possuidor de uma voz de belo timbre e sempre bem
colocada, ofereceu-nos uma interpretação de elevada qualidade.
***
MESSA DA REQUIEM Verdi, Teatro São Carlos, May 2016
About a year ago I attended the worst interpretation of Verdi's Requiem in the unsuspected
Gulbenkian Foundation, as reported here. This is one of my favorite works of
the composer, for its unique musicality and overwhelming telluric force. The
presentation at the Teatro de São Carlos,
not transporting us to a desired transcendental dimension, was a far better performance
that the experience of last year.
Italian maestro Gianpaolo
Bisani, dressed in an unconventional way, was responsible for an effective
direction. He showed the introspective feeling that the work is imbued. The Choir of the
Teatro São Carlos, under the direction of Giovanni Andreoli was very good. The Portuguese Symphony Orchestra fulfilled.
Soprano Daniela
Schillaci (replacing Rachele Stanisci) has a powerful voice, always over
the choir and the orchestra, but with a tendency to shrillness, which was very
evident in the early interventions. However, she improved in the second half,
and the Agnus Dei, was
irreproachable.
Enkelejda Shkosa,
mezzo-soprano, was one of the best of the night. The voice is powerful,
beautiful and very expressive. Liber
scriptus was of great quality and she remained so until the end.
Tenor Massimiliano
Pisapia fulfilled without clash.
Bass Nicola Ulivieri,
with a beautiful voice timbre and always on tune, offered us an interpretation
of high quality.
***
Assisti ontem a esta récita e devo dizer que gostei bastante, apesar do senão da acústica demasiado "seca" do S. Carlos e dos beijinhos mandados a alguém através do telemóvel que se ouviu em todo o teatro! Sem perceber o suficiente para fazer juízos de valor, a soprano pareceu-me não conciliar o seu timbre com os demais cantores do quarteto dos solistas. Havia um desequilíbrio que incomodava por vezes. Mas foi uma noite que guardarei com agrado na memória. O fato do maestro faz jus à sua cidade, Milão. Acho bem que o faça.
ResponderEliminarSe esteve na sessão de Sábado estava sentado muito perto de mim (eu estava no G18), tendo em conta o ângulo das suas fotografias.
ResponderEliminarE quando o maestro cala de repente a orquestra e se ouve p.e.r.f.e.i.t.a.m.e.n.t.e alguém - uma voz feminina -, que acabava uma conversa com o companheiro do lado, a dizer "...beijinho.". Tal explosão de vergonha alheia... Foi a minha estreia no São Carlos e nunca pensei que, até aí, o público se portasse mal. Palmas entre segmentos também não podiam faltar, não é? Não sei se reparou, mas da primeira vez (entre o Kyrie e o Dies Irae) até o tenor, de bom humor, fez "xiu" para os incautos. Incrível.
Ainda assim adorei o espectáculo. Poderosíssimo. Receei que os sopros metálicos não estivessem à altura e não desiludiram. Não sou perito, mas gostei bastante da prestação orquestral. Só um contrabaixo é que parecia ter uma corda mal afinada. De resto, uma noite muito bem passada.
Não ser perito e ouvir a corda desafinada de um contrabaixo é obra. Não pude deixar de sorrir. Sem malícia.
EliminarSubscrevo, João Alves!
EliminarTambém lá estive no Sábado e, como todos os outros, ouvi perfeitamente os "beijinhos" mandados pela senhora e as inusitadas palmas!
ResponderEliminarDepois de o São Carlos ter batido no fundo há poucos anos no que à qualidade dos espectáculos (e dos cantores!) respeita, estamos agora a viver o período em que é a qualidade de algum público que bate no fundo! Talvez a primeira situação tenha levado à segunda.
João Alves, concordo com tudo o que escreveu.
Sérgio SG, espero que esta sua estreia seja auspiciosa. Esperemos que melhores tempos regressem ao São Carlos (mas já há muitos anos que o esperamos). Foi um bom espectáculo, também gostei, mas o principal responsável pelo impacto que sempre nos causa é Verdi! Para mim, repito, é uma das suas obras mais marcantes.
Caríssimos amigos, também estive presente no sábado 7 e também sofri portanto o comportamento lamentável de algum público, aqui assinalado por João Alves e Sérgio SC.
EliminarA esse propósito não posso estar mais de acordo com o que diz Fanático_Um. Eu diria o mesmo por outras palavras: os públicos de teatro conquistam-se ou perdem-se, educam-se ou desperdiçam-se, e cada teatro tem portanto o público que merece...
JAM
Caríssimo Fanático_Um,
ResponderEliminarestimo reportar, de acordo com informação veiculada pelo próprio teatro, que a apresentação inicial será alvo de difusão por intermédio da rádio pública. Um sinal, potencialmente, indiciador de uma retoma da parceria entre ambas as instituições no que à transmissão das temporadas lírica e sinfónica do singular teatro lírico nacional concerne, cobertura suspensa desde Dezembro de 2012.
Uma excelente notícia Hugo! Espero que a transmissão não seja às 2h00 de qualquer madrugada.
ResponderEliminarTenho uma secreta esperança de ouvir esses "beijinhos" na rádio! Hehe
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