quinta-feira, 8 de maio de 2014

LA CENERENTOLA, METropolitan OPERA, Nova Iorque, Maio de 2014 / New York, May2014

(review in English below)

La Cenerentola de G Rossini é uma ópera que já vi várias vezes, não que a procure activamente, mas por que está ocasionalmente em cena em cidades onde me desloco profissionalmente (mas nesta situação a medalha de ouro vai, destacada, para o Rigoletto!).


 A encenação de Cesare Lievi foi a pior que vi até à data. É muito feia e desinteressante. Os cenários têm mobilidade fácil mas esta não leva a nada. A comicidade é excessivamente exagerada e quase nunca conseguida. Uma falta de ideias confrangedora. Como não havia nada interessante para ver, poderia ouvir-se de olhos fechados.



 O maestro foi Fábio Luisi que, mais uma vez, nos ofereceu uma óptima sonoridade e também um notável respeito pelos cantores.


 As irmãs Clorinda  (Rachelle Durkin) e Tisbe (Patrícia Risley) tiveram interpretações banais, muito prejudicadas pela encenação.


 Don Magnifico, interpretado pelo experiente barítono italiano Alessandro Corbelli, esteve bem, sem impressionar. Atrapalhou-se nas partes vocalmente mais exigentes e não projectou a voz como seria necessário.


 O baixo-barítono venezuelano Luca Pisaroni foi muito bom como Alidoro. Boa presença cénica, voz segura, bonita e sempre sobre a orquestra.


 A estreia do barítono italiano Pietro Spagnoli não poderia ter corrido melhor. Foi excelente como Dandini. Voz poderosa, afinada e interpretação sempre controlada e de bom gosto.


 O Don Ramiro de Juan Diego Flórez foi, mais uma vez, excelente. Os leitores deste blogue sabem que tenho uma enorme admiração por este cantor e não vou repetir aquilo que já escrevi várias vezes sobre ele. Tenho tido a sorte de o ouvir ao vivo com regularidade e nunca me desiludiu. Não há ninguém como ele capaz de cantar estes papeis rossinianos. Nesta noite repetiu o final da sua ária Si, ritrovarla io giuro, para deleite do público, que o aplaude sempre com enorme generosidade.


 Joyce DiDonato, a Angelina de serviço, foi a melhor da noite. Também ela canta Rossini como poucas e, mais uma vez, não desiludiu. DiDonato associa a qualidade superior do canto à da representação, pertencendo àquele grupo escasso de intérpretes que cantam e representam de forma excepcional. Foi óptima ao longo de toda a récita e arrasadora no final Nacqui all’affanno que, nesta ópera, é mesmo o grande momento do mezzo soprano.




 Uma Cenerentola com solistas de primeiríssima água mas com uma encenação deplorável.









*****


LA CENERENTOLA, Metropolitan Opera, New York , May 2014 

La Cenerentola by G. Rossini is an opera I've seen several times, not that I look for it actively, but because it is occasionally on stage in cities where I travel professionally (but in this situation the gold medal goes, by far, for Rigoletto!) .

The staging of Cesare Lievi was the worst I've seen to date. It is very ugly and uninteresting. The scenarios have easy mobility but this leads nowhere. The comic playing is overly exaggerated and almost never achieved. An appalling lack of ideas. Since there was nothing interesting to see, one could hear with the eyes closed.

Conductor Fabio Luisi, once again, offered us a great sound and a remarkable respect for the singers.

Sisters Clorinda (Rachelle Durkin) and Tisbe (Patricia Risley) had banal performances, not at all helped by the staging.

Don Magnifico, played by experienced Italian baritone Alessandro Corbelli was ok but not impressive. He lost the pace in the vocally more demanding part and the voice ws not projected as expected.

Venezuelan bass-baritone Luca Pisaroni was a very good as Alidoro. He had good stage presence, and the voice was firm, beautiful and always above the orchestra.

The debut of the Italian baritone Pietro Spagnoli could not have been better. He was . great as Dandini. Powerful, controlled and refined voice, and an impressive performance on stage.

Juan Diego Flórez was Don Ramiro. Again he was excellent. The readers of this blog know that I have a huge admiration for this singer and I will not repeat here what I've written several times about him. I have been lucky enough to hear him live regularly and he never disappointed me. There is no one able to sing these rossinian roles like him. This night he repeated the end of his great aria Si, ritrovarla io giuro, to the delight of the audience, who always applauds him with great generosity.

Joyce DiDonato was the best of the night as Angelina. She also sings Rossini as few others are able to, and again she did not disappoint. DiDonato joins the superior quality of her singing to na identical acting capability, belonging to that small group of opera singers who sing and play at an outstanding level. She was excellent throughout the performance and astonishing at the end, Nacqui all’affanno ,that is the greatest moment of the mezzo soprano in this opera.


A Cenerentola with soloists of the highest quality but with a deplorable staging.

*****

7 comentários:

  1. Admirava muito mais a DiDonato antes dela participar em encenações deste mau gosto. Tem voz, mas não tem critérios.

    A melhor Cenerentola que conheço foi com a Cecilia Bartoli e a direcção de Chailly. e um fantástico Matteuzzi. Mas a gravação foi só audio...

    ResponderEliminar
  2. Mário, acha que uma cantora pode dar-se ao luxo de recusar cantar no Met, seja qual for a encenação?

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Claro que pode, com o estatuto da DiDonato. As divas têm justamente esse privilégio - tinha a Callas, tem a Georghiu, tem a João Pires. Mas o que mais me irrita é que a DiDonato 'gosta' daquilo, do kitsch. Cada vez mais prefiro ouvi-la a vê-la.

      Eliminar
  3. A DiDonato é uma das cantoras que mais aprecio. Tem voz e tem uma excelente presença em palco, o que é relativamente raro em ópera. A Bartoli também as tem e é, igualmente, outra das minhas cantoras favoritas. Vi ambas há poucos meses em encenações más, mas admito que haja algum limite na capacidade das cantoras para as recusar... Até porque poderão achar-lhes algum interesse.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Apenas quero dizer que como o Sr. fanático Um, sou um enorme admirador de Juan Diego Florez. Para mim é o maior tenor de belcanto da actualidade, Vi-o só uma vez ao vivo no São Carlos. Foi um dos melhores concertos a que assiti na minha vida. Tenho quase todas as gravações audio e vídeo dele. Vou vê-lo e ouvi-lo à Gulbenkian no próximo Sábado e não me importo se a encenação é boa ou má. Desde que assisto às transmissões do MET, mais de metade das encenações achei-as más, valem pela qualidade dos cantores, músicos e maestros que apresentam e que infelizmente não podemos actualmente ver no São Carlos, pois neste país não há dinheiro para estas coisas da cultura. Manuel Mourato

      Eliminar
  4. Aproveite ao máximo PZ e depois diga o que achou.

    ResponderEliminar