Nos tempos áureos vinham cantar ao nosso teatro de ópera os
grandes nomes da cena lírica internacional de então, consagrados ou promissores,
e as produções eram assinaláveis. Contaram-me amigos que viveram intensamente
esses períodos que, em início de carreira, quem não triunfasse em São Carlos,
não teria grande projecção internacional. E, pelo contrário, quando as
actuações eram memoráveis, outras portas se abriam mais facilmente por essa
Europa fora. Também o público era então mais conhecedor e exigente.
Apenas um exemplo, as produções de La Traviata e os nomes
que cantaram a Violetta Valéry após a reabertura do teatro em 1940 e até à
revolução de Abril: Maria Caniglia em 48, Renata Tebaldi em 50, Marguerita
Carosio em 52, Virgínia Zeani em 57, Maria Callas em 58, Mary Costa em 64,
Renata Scotto em 68 e Joan Sutherland em 74 (estava em Lisboa quando foi o 25
de Abril e há histórias deliciosas sobre a sua saída do País, mas não é isso
que agora recordamos).
A montagem de uma produção esplendorosa da Madama Butterfly
na sala principal, repleta de público, é do melhor que se pode ver neste tipo
de exposições em qualquer parte do mundo.
Vai-se a São Carlos, assiste-se em São Carlos. Apesar de haver
quem considere uma forma elitista e snob de o dizer, só o Teatro de São
Carlos é assim referido!
A magnífica exposição agora disponível é imperdível! Numa
viagem guiada (para iniciados) ao passado glorioso do Teatro podemos também visitar áreas
interessantes que habitualmente não estão acessíveis ao público (palco,
bastidores, camarins) e ver “apenas” uma pequena parte do seu espólio
valiosíssimo e único.
Mas. tal como a ópera, ao
vivo é que é! Por isso, “corram” a São Carlos porque a oportunidade é única
e termina já no dia 4 de Setembro. Não se vão arrepender.
Espero que os responsáveis pela cultura no nosso País também
visitem a exposição. As instituições têm, ao longo da sua existência, momentos
altos e outros menos bons. Aqui podemos admirar quão grande foi o São Carlos e,
olhando para a realidade actual, no que se transformou.
Esperemos que, mesmo em tempos de crise, os responsáveis
pelo nosso único teatro nacional de ópera tenham o engenho e a arte para voltar
a prestigiá-lo com programações dignas da sua história e, sobretudo, de um
teatro de ópera de uma capital europeia, neste início do Século XXI.
Um óptimo elenco internacional, uma que outra vez, será
excelente mas, como já aqui escrevi várias vezes, recorrendo ao que é nacional,
desde que de qualidade (e há muita por cá e pelo estrangeiro, basta saber
identificá-la e ter a coragem de dar oportunidades), penso que se poderá e deverá fazer
muito melhor!
Excelente texto, FanaticoUm!!!
ResponderEliminarPossivelmente não terei oportunidade para assistir a esta exposição...
Faz bem em reforçar tudo o que diz em relação ao apoio ao ÚNICO Teatro de Ópera Nacional.
Tantos nomes no passado, tantas produções memoráveis, tanto... tanto... e a única coisa que parece manter-se é aquilo que nos mostra na última foto: uma fachada de um edifício que, orgulhoso, e sem aparentemente mostrar que os anos por ele passam, se mantém alegre e imponente nesse Largo de São Carlos.
Ainda bem que também gostou, Fanático_Um. Imagine o que eu tenho sonhado com a montagem da Butterfly com aquele guarda-roupa. Cantora para ela, temos.
ResponderEliminarE que tal voltar a utilizar os telões históricos que lá estão guardados, em vez de importar encenadores e novas produções sempre que se apresenta uma ópera?
É verdade Paulo, gostei muito. Por razões estivais, só pude ir agora, mas a exposição é de grande dignidade.
EliminarAquele guarda-roupa da Butterfly é uma maravilha, mas a possibilidade que agora nos é dada de o ver a poucos centímetros é uma oportunidade única. Há tantos pormenores que, de outra forma, escapariam.
E claro que não posso estar mais de acordo com a sugestão da utilização das dezenas de telões históricos que por lá estão guardados. Serão seguramente melhores do que muitas das produções que recentemente se têm feito, algumas delas muito más e mais caras do que recuperar o que há de bom! Opção de "novo rico" que, sobretudo no período que atravessamos, é totalmente despropositada.
Ainda há poucas semanas o Hugo Santos publicou um texto neste blogue sobre a Aida de Barcelona em que são recuperados os telões de Mestres Cabanes da década de 40 do século passado, creio. Também já vi essa produção e é fantástica. Pelo pouco que vimos da cenografia da Aida de São Carlos, não lhe fica atrás!
E quanto aos cantores, temos portugueses, consagrados ou em início de carreira, capazes de cantar grande parte das óperas "de reportório" que, em minha opinião, serão aquelas que voltarão a levar o público ao teatro.
Com produções decentes, mecenato operacional e dirigentes competentes, usando um pouco do muito que há no espólio do teatro, é uma obrigação fazer muito mais e melhor do que se tem feito nos últimos tempos.
Ainda uma nota final para mais um apontamento que também me agradou. A justa homenagem a um cantor português ainda no activo (e não apenas aos do passado ou já retirados) - Elisabete Matos, com o guarda-ruopa que usou no óptimo Don Carlo da última temporada e tantos outros objectos interessantes no camarim que lhe é dedicado, incluíndo o Grammy.
Mais uma vez, obrigado pelo seu magnífico texto.
Considerando os devastadores efeitos infligidos pelas actuais constrições económicas, encaro, em larga medida, a recuperação do extensíssimo acervo cenográfico do teatro como um elementar acto de gestão, por intermédio, quer da reposição integral, como de uma efectiva adaptação dos elementos e materiais existentes.
ResponderEliminarPor favor, perdoe minhas habilidades de língua portuguesa. Talvez, poderia ser muito melhor, mas a apresentação parece maravilhoso como ele é. Excelente texto.
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