sexta-feira, 22 de junho de 2012

Rigoletto, Royal Opera House, Londres, Abril 2012



 Rigoletto, de G. Verdi, com libretto de Francesco Maria Piave, baseado na obra Le Roi s’Amuse de Victor Hugo, foi já comentada várias vezes neste blogue.

A Royal Opera apresentou novamente nesta temporada a produção de David McVicar, que gostei. A abordagem é ousada, de época, e revela explicitamente a corrupção na corte de Mantua. Logo no início, os seus frequentadores, ricamente vestidos, incluíndo o Duque, participam numa orgia sexual, com cenas de nudismo. O aspecto de Rigoletto é inspirado num insecto grotesco. Mais tarde, também imperará a crueldade no tratamento de Rigoletto e da sua filha. O palco é rotativo, simples e eficaz. Num lado aparece um interior de palácio ducal, em total contraste com a simplicidade da casa de Rigoletto ou a estalagem de Sparafucile que surgem no outro.


 A direcção musical foi do conceituadíssimo maestro britânico John Eliot Gardiner mas a orquestra não esteve perfeita. Embora raros, houve desencontros e notas falhadas. Já o Coro esteve irrepreensível.


 Dimitri Platagias, barítono grego (que foi o Rodrigo no Don Carlo do Ano passado no Teatro de São Carlos em Lisboa), foi um Rigoletto eficaz. A voz tem um belíssimo timbre e grande potência.Foi capaz de transmitir as diferentes emoções, embora tenha apresentado poucas alterações no tom de voz . Em cena foi também perfeito.


 O Duque de Mantua é a imagem de marca de Vittorio Grigolo, muito acarinhado por estas bandas. O cantor é um tenor italiano típico, com um timbre muito próprio, voz máscula e bem colocada. Contudo, no registo médio, por vezes, ouviu-se mal. É novo, tem uma boa figura e excelente mobilidade cénica, tornando a sua representação muito credível.


O soprano russo Ekaterina Siurina foi uma Glida convincente, de voz doce e bonita embora excessivamente sofisticada para a personagem. Em certos momentos faltou-lhe alguma potência mas, nas alturas cruciais, esteve bem. Também é jovem e com uma bela figura, o que muito a ajudou na caracterização da personagem.


 Matthew Rose, baixo britânico, foi um Sparafucile de voz profunda e forte, e também excelente presença cénica. Um dos melhores cantores masculinos, apesar de o papel ser curto.

A Maddalena do mezzo britânico Christine Rice foi forte e sedutora, tanto vocal como cenicamente. Foi a melhor cantora em palco.


 Gianfranco Montresor é um barítono italiano que canta frequentemente o Conde de Monterone. Hoje esteve vocalmente aquém das outras vezes que o ouvi neste papel. Foi o mais fraco de todos os intérpretes.

Merece uma palavra de apreço a presença do soprano português Susana Gaspar, como Condessa Ceprano. Teve uma interpretação curta e digna. Participa, desde Setembro, no Jette Parker Young Artists Programme da Royal Opera House. Parabéns Susana!






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Rigoletto, Royal Opera House, London, April 2012

Rigoletto by G. Verdi, with libretto by Francesco Maria Piave, is based on Le Roi s'Amuse by Victor Hugo. The opera was already mentioned several times in this blog.

The Royal Opera presented again this season the production by David McVicar, that I liked. The approach is audacious and explicitly reveals corruption in the court of Mantua. Early on, their members, richly dressed, including the Duke participate in a sex orgy with nude scenes.
The appearance of Rigoletto is inspired by a grotesque insect. Later, cruelty will dominate the management of Rigoletto and his daughter. The rotary stage is simple and effective. On one side we see the insideof the ducal palace, in stark contrast to the simplicity of Rigoletto's house or of  Sparafucile’s inn that arise in the other.

Musical direction was by the reputated British conductor John Eliot Gardiner but the orchestra was not perfect. Although rare, there have been some wrong notes. The choir was blameless.

Dimitri Platagias, Greek baritone (who was Rodrigo in last year’s Don Carlo at the Teatro de São Carlos in Lisbon), was an effective Rigoletto. The voice has a beautiful timbre and great power. He was able to convey different emotions, although he had little change in voice tonality. On stage he was also perfect.

The Duke of Mantua is the trademark of Vittorio Grigolo, much cherished in this opera houses. The singer is a typical Italian tenor, with a very particular timbre, with a strong male voice. However, in the mid register, sometimes he was difficult to be heard.. He is young, has a good figure and excellent stage mobility, making his performance very credible.

Russian soprano Ekaterina Siurina was a convincing Glida. She has a sweet and beautiful voice but, occasionally, too sophisticated for the character. At certain times she lacked some power, but in crucial moments she was good. Shi is also a young and beautiful figure, which greatly helped her on stage.

Matthew Rose, British bass, was a Sparafucile of deep and strong voice, and also an excellent stage presence. He was one of the best male singers, although the role is short.

Maddalena of British mezzo Christine Rice was strong and seductive, both vocal and artistically. She was the best singer on stage.

Gianfranco Montresor is an Italian baritone who sings often the role of Count Monterone. Today he was vocally below other times I heard him in this role. He was the weakest of all singers.

A word of appreciation is deserved to the presence of the Portuguese soprano Susana Gaspar, as Countess Ceprano. She had a short and dignified interpretation. She participates, since September, in the Jette Parker Young Artists Programme of the Royal Opera House. Congratulations Susana!
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5 comentários:

  1. O mais incrível é o som que emana deste texto!
    Um grande abraço de todos do atelier

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  2. Como se há-de lembrar, Fanático_Um, eu também vi (outra récita d')este Rigoletto e até já conversámos sobre o tema. Gostei de ler agora em mais detalhe a sua opinião.

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  3. É verdade Gi, ainda bem que aqui o recordou. Como na altura falámos, assistimos a récitas diferentes e isso pode explicar interpretações diversas porque, os mesmos cantores na mesma produção com o mesmo maestro, proporcionam quase sempre espectáculos diferentes. Pelo menos é essa a minha experiência nas vezes em que assisti a mais de uma ´recita da mesma ópera. Mas estamos globalmente de acordo sobre o que se viu em Londres. Mais uma vez, obrigado pelo seu comentário.

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  4. Pelo que deixa relatado, deverá ter sido uma muito agradável récita, embora sem encher o olho.
    Quanto a Ekaterina Siurina creio que, se não o é já, será uma das melhores vozes a actuar por esses palcos fora, embora confesse nunca a ouvi ao vivo e apenas em gravações, o que, logicamente, introduz alguns vieses de análise.

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  5. Sempre me questionei o porquê de Gardiner em conduzir Verdi, algo que parece sair um pouco do seu registo habitual... E sempre esperei que a Royal Opera permitisse a Domingo fazer um pouco mais do que o último acto na celebração de Outubro de 2011 e que esta produção seria uma hipótese. Assim não aconteceu e, se calhar, pelo melhor...

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