quinta-feira, 3 de maio de 2012

Renato Bruson, Theatro São Pedro, São Paulo, Abril de 2012

Publicamos na íntegra mais um texto do nosso colaborador brasileiro mais regular, Ali Hassan Ayache, do blogue Música, Ópera &Ballet:

UM PUXÃO DE ORELHA EM TODOS OS CANTORES LÍRICOS DE SÃO PAULO - RENATO BRUSON NO PROJETO GRANDES VOZES/ THEATRO SÃO PEDRO.
 Theatro São Pedro /SP

 O barítono italiano Renato Bruson cantou diversas vezes em São Paulo, tive a oportunidade de vê-lo na ópera La Traviata de Verdi em 2001 no Theatro Municipal de São Paulo. Naquela oportunidade pude perceber o talento vocal desse grande cantor. Uma voz com belo fraseado e graves pujantes. Sempre quando assisto a La Traviata lembro de Renato Bruson, uma referência no papel de Giorgio Germont.

 Renato Bruson

A apresentação do grande barítono no Projeto Grandes Vozes no Theatro São Pedro, no último dia 27 de Abril, só confirmou a impressão que tive em 2001. Bruson não é mais um menininho, já passa dos setenta anos e canta bem, sabem por quê? Sua técnica é primorosa, entende do assunto como ninguém. Nunca cantou papéis que não se adequassem ao seu tipo de voz, soube se conservar e até os dias de hoje é convidado para cantar em diversos teatros do mundo.
Iniciou o recital com uma bela canção de Tosti , L'ultima Canzone, uma canção que lembra uma grande ária de ópera, emocionante do começo ao fim. Cantou ao lado de Mere Oliveira, Reverenza...buon giorno, buona donna... Alice è mia da ópera Falstaff, onde mostrou seu lado cômico. Após o intervalo tivemos Madamigella Valery....pura siccome un angelo...siate felice da ópera La Traviata uma de suas grandes especialidades, e fechou com uma das mais emotivas árias de Verdi, Di Provenza il mare, il suol da ópera La Traviata. Em todas as aparições Bruson mostrou uma voz uniforme, com graves excelentes e vigorosos. Um cantor a moda antiga, onde a voz era a excelência, a técnica preponderante e com o tempo aprendeu a interpretar os personagens, um barítono completo.
Um grande estilista da capital paulistana cedeu os vestidos para as cantoras, soube pelas redes sociais e foi anunciado antes da apresentação. Estilista nenhum faz alguém cantar bem, mas convenhamos, uma propaganda não faz mal a ninguém. Tati Helene entrou com o vestido cedido pelo tal estilista, eu achei sem graça, gosto é que nem nariz, cada um tem o seu. O soprano me surpreendeu, cantou Senza mamma da ópera Suor Angélica de Puccini e L`altra notte in fondo al mare da ópera Mefistofele de Boito. Sua voz mostrou excelente projeção, munida de um belo timbre e um lirismo sedutor. Seus agudos mostraram potência e realçaram todos os coloridos das árias. Sustentou as notas no limite na ária de Boito, não teve medo de correr esse risco, simplesmente arrebentou! Ao lado de Bruson fez bonito como Violetta, não é qualquer soprano que canta ao lado de Bruson.

 Tati Helene

Mere Oliveira também usou o vestido do tal estilista, esse não tão feioso. Na difícil ária Acerba voluttà da ópera Adriana Lecouvreur de Cilea a moça encontrou dificuldades. Sua voz carece de técnica para árias complexas, que exigem grande interpretação dramática. Possui graves interessantes e agudos fracos. Seu melhor momento foi Reverenza...buon giorno, buona donna... Alice è mia da ópera Falstaff de Verdi ao lado de Bruson. Uma cantora que não empolgou.

 Mere Oliveira

O tenor Rinaldo Leone esteve em grande noite. Na ária E lucevan le stelle da ópera Tosca de Puccini mostrou belos agudos, voz com belo timbre e técnica sólida. Ao lado de Bruson mostrou grande lirismo em Ah Mimi tu più non torni da ópera La Bohème de Puccini. O tenor me surpreendeu. Bravo Leoni!

 Rinaldo Leone

Um puxão de orelha a todos os cantores líricos de São Paulo e adjacências. Na récita vi poucos cantores na platéia. Todos eles têm a obrigação de estar presentes e ver a técnica de um dos grandes barítonos. Aprenderiam muito se fizessem isso e não cometeriam muitas barbaridades que andam cometendo por aí.

2 comentários:

  1. Brasil is one place I have never been, but I will visit one day. Wonderful Theatro!

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  2. Gostei desta crónica do Ali Hassan Ayache, onde fala de tudo o que é importante. E tem razão, não é o vestido, ou a maquilhagem, ou a beleza física, que fazem um bom cantor de ópera mas sim uma boa voz e estudo, muito estudo.
    Bem haja, Ali.

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