segunda-feira, 7 de maio de 2012

LA CENERENTOLA, Palácio Garnier, Paris, Dezembro de 2011


(review in english below)

La Cenerentola é uma ópera de Gioacchino Rossini com libreto de Jacopo Ferretti, baseado no conto Cendrillon de Charles Perrault.


 É a história da Cinderela com algumas modificações, incluíndo nas personagens. A madrasta é aqui um padrasto (Don Magnífico) e em vez de uma fada é Alidoro, o preceptor do príncipe Don Ramiro, que assegura essa função. Também em vez do sapato, é uma pulseira o objecto de identificação da rapariga.


 Angelina (Cenerentola) sonha que casará com um rei mas é ridicularizada pelas meias-irmãs Clorinda e Tisbe. Alidoro, preceptor do príncipe, bate à porta disfarçado de pedinte, é rejeitado pelas irmãs, mas Angelina recolhe-o e alimenta-o. É anunciado que o príncipe Don Ramiro vai escolher a noiva num baile. As duas irmãs preparam-se e acordam o pai, Don Magnífico, que sonha com a ascensão social por uma das filhas se vir a tornar rainha. Don Ramiro aparece disfarçado de criado, vê Angelina e apaixonam-se. O criado, Dandini, disfarçado de príncipe, é cortejado pelas irmãs. Don Magnífico recusa a ida ao baile de Angelina mas ela é convidada por Alidoro. No baile aparece uma mulher deslumbrante que é reconhecida pelo príncipe e também são notadas as suas semelhanças com Angelina pelo padrasto e meias-irmãs. O criado Dandini, ainda disfarçado de príncipe, declara-se a Angelina mas ela diz-lhe que está apaixonada pelo “criado”. Antes de partir, Angelina dá uma pulseira ao “criado”. Tudo volta ao habitual em casa. A carruagem do príncipe avaria-se perto e Dandini, já não disfarçado, anuncia a entrada de Don Ramiro. Este, ao ver a pulseira no braço de Angelina, declara-lhe o seu amor, para desespero das meias-irmãs e do padrasto. Tudo acaba em bem, com o perdão generalizado de Angelina e promessas de vida feliz.


 A recuperação da encenação de Jean-Pierre Ponnelle foi uma homenagem póstuma que a Ópera de Paris fez a este encenador francês já falecido. É clássica, simples e funciona bem. Está muito dentro do que é habitual ver nesta ópera. Os cenários são maioritariamente feitos de pano pintado. Os quartos das irmãs estão nos lados, o de Don Magnifico em cima, com acesso ao centro da acção através de uma escada. Tudo se passa aqui, com encerramento e abertura de algumas partes mas sem grandes variações.


 O experiente maestro italiano Bruno Campanella assegurou uma direcção musical de qualidade e que ajudou a minimizar algumas limitações dos cantores. A Orquestra Nacional e o Coro da Ópera de Paris estiveram muito bem.


 Don Ramiro foi interpretado pelo tenor mexicano Javier Camarena. Cenicamente não esteve bem porque foi muito notória a sua quase exclusiva preocupação com o canto. A voz tem um timbre agradável mas o cantor não interpretou o papel sem mácula. A coloratura foi esforçada e o fraseado, por vezes, imperceptível. No registo mais agudo foi onde esteve melhor. Na ária Si, ritrovarla io giuro no início do 2º acto, “safou-se”, muito com a ajuda do maestro.


 Dandini, o seu criado, foi o excelente barítono italiano Riccardo Novaro, o melhor cantor da noite. A voz é cheia, bem projectada e afinada. Sempre que cantava era claramente audível sobre a orquestra e, em cena, foi muito convincente, não obstante o tipo de encenação.


 Karine Deshayes, mezzo francês, foi uma Angelina digna. Começou à defesa, quase sem se ouvir, mas foi melhorando. A voz não é particularmente bela mas, sobretudo no 2º acto, foi bem audível e cumpriu vocal e cenicamente. Na cena final esteve bem na Nacqui all’affanno… Non più mesta apesar de ter omitido algumas notas nas partes de coloratura mais exigente.


 O baixo-barítono espanhol Carlos Chausson foi um Don Magnifico interessante, de voz cheia e boa presença em palco, mas não foi magnífico.

Muito bem esteve o outro baixo, o italiano Alex Esposito que foi um Alidoro sem mácula, apesar de ter um papel pequeno. A par do seu compatriota Novaro, foi outro dos grandes cantores da noite.

As irmãs Clorinda (Jeannette Fischer) e Tsibe (Anna Wall) estiveram bem, cantaram, mas não encantaram.








Apesar de ter sido um bom espectáculo, faltou algo que o fizesse sair da mediania espectável. De facto, Rossini não é para todos.

***


LA CENERENTOLA, Palais Garnier, Paris, December 2011

La Cenerentola is an opera by Gioacchino Rossini with a libretto by Jacopo Ferretti, based on the tale Cendrillon by Charles Perrault.

It is the story of Cinderella with some modifications, including the characters. The stepmother is here a stepfather (Don Magnifico) and instead of a fairy is Alidoro, the preceptor of the prince Don Ramiro, which provides this function. Also instead of a shoe, a bracelet is the purpose of identifying the girl.

Angelina (Cenerentola) longs to marry a king but is ridiculed by the stepsisters Clorinda and Thisbe. Alidoro, tutor to the prince, knocks on the door disguised as a beggar, is rejected by the sisters, but Angelina collects him and feeds him. It is announced that prince Don Ramiro will choose his bride at a ball. The two sisters prepare for the ball. Their father, Don Magnifico dreams of having a higher position in society as one of the daughters might become queen. Don Ramiro appears disguised as a servant, sees Angelina and falls in love. The valet, Dandini, disguised as a prince, is courted by the sisters. Don Magnifico does not give permission to Angelina to go to the ball but she is invited by Alidoro. At the ball a stunning woman appears who is recognized by the prince and also her similarities to Angelina are noted by her stepfather and half-sisters. The servant Dandini, still disguised as a prince, declares himself to Angelina but she tells him she is in love with the valet. Before leaving, Angelina gives a bracelet to the valet Everything goes back to normal at home. Dandini, at  Don Magnifico’s home, no longer disguised, announces the arrival of Don Ramiro. He sees the bracelet on the arm of Angelina and declares his love, to the despair of her half-sisters and stepfather. Everything ends well with the global pardon of Angelina and promises of happiness.

The revival of the production by Jean-Pierre Ponnelle was a posthumous tribute of the Paris Opera to this deceased French director. It is a classic and simple staging that works well. The scenarios are mostly made of painted cloth. The rooms of the sisters are on the sides, on top is the bedroom of Don Magnifico, with access to the center of the action via a ladder. Everything happens here, with closure and opening of some parts but no major stage changes.

The experienced Italian conductor Bruno Campanella was responsible for a musical direction of quality that helped minimize some limitations of the singers.
The National Orchestra and Chorus of the Paris Opera were very good.

Don Ramiro was played by Mexican tenor Javier Camarena. Artistically he was not well because he was almost exclusively concern with the singing. The voice has a nice timbre but the artist did not sing the role perfectly. The coloratura was effortful and the phrasing was sometimes imperceptible. The upper register was where he was better. In the aria Si, ritrovarla io giuro at the beginning of the 2nd act, he overcame it in an acceptable way, with the help of the conductor.

Dandini, his valet, was a great Italian baritone Riccardo Novaro, the best singer of the night. The voice is full and refined. When singing he was clearly audible over the orchestra. Artistically he was very convincing, despite the “type” of staging.

Karine Deshayes, French mezzo, was a worthy Angelina. She started defending herself, almost without being heard, but shes improved. The voice is not particularly beautiful but, especially in the 2nd act, she was convincing both in vocal and artistic playing. In the final scene she sang well Nacqui all’affanno… Non più mesta despite having missed a few notes in the most demanding coloratura parts.

Spanish bass-baritone Carlos Chausson was an interesting Don Magnifico with a full voice and good stage presence, but he was not magnificent (magnifico).

Very good was the other bass soloist, the Italian Alex Esposito who playiec a spotless Alidoro, despite having a small role. Together with his compatriot Novaro, he was another of the great singers of the night.

The sisters Clorinda (Jeannette Fischer) and Tsibe (Anna Wall) sung well but they were not fantastic.

Although it was a good performance, it lacked something to make it leave the expected banality. Indeed, Rossini is not for everyone.

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3 comentários:

  1. Queridos amigos: Os felicito por este maravilloso blog vuestro del que, con muchísimo gusto, me hago seguidora! Un fortísimo abrazo y viva la ópera!

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  2. Deshayes tem uma agenda repleta na próxima temporada, e agora que começo a estudar a programação é bom saber o que esperar dos intérpretes.
    Obrigada, Fanático_Um.

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  3. Caro Fanático,
    estou aqui me deleitando com mais uma competente crõnica!
    Um grande abraço

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