terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Don Giovanni, Royal Opera House, Londres, Janeiro de 2012

(review in english below)

Don Giovanni é uma ópera de W A Mozart (encomendada depois do sucesso de Le nozze di Fígaro) também com libretto de Lorenzo da Ponte.

A ópera está recheada de árias e ensembles marcantes. Relata a história de um sedutor compulsivo que escapa a tudo e a todos, excepto à morte. Don Giovanni, para além das múltiplas conquistas que são recordadas pelo seu criado Leoporello, seduz Donna Anna, noiva de Don Ottavio e filha do Commendatore que assassina. Donna Elvira foi outra conquista que abandonou e Zerlina, uma camponesa noiva de Masetto, é mais um alvo. Depois de múltiplas peripécias, incluindo a troca de identidade com Leoporello, a estátua do Commendatore convida-o a arrepender-se, o que recusa, acabando devorado pelas chamas do inferno.

A encenação de Francesca Zambello é de grande qualidade. No centro do palco há uma estrutura que roda, bem concebida e com escadas de acesso à parte superior. Ao rodar vai dando origem aos diferentes cenários. O fogo é uma presença frequente ao longo da récita e Don Giovanni acaba consumido pelas chamas num cenário de impressionante efeito visual.




 O maestro grego Constantinos Carydis esteve bem e conseguiu que a excelente Orquestra da Royal Opera House nos brindasse com uma bela interpretação. Ouviu-se Mozart!


 O baixo italiano Marco Spotti foi um Commendatore de voz muito grave, forte e cavernosa, como se espera neste breve papel.

O barítono canadiano Gerald Finley foi um Don Giovanni muito convincente. A voz é bem timbrada e bem audível. Foi muito credível no papel do protagonista. Cenicamente esteve bem, apesar de a encenação ajudar muito.


 Leoporello foi interpretado pelo baixo barítono italiano Lorenzo Regazzo. Apesar de ter sido um óptimo actor, foi o único cantor que destoou dos restantes. A voz não tem nenhuma característica particularmente atractiva e, sobretudo, é pouco potente e deixa-se facilmente abafar pela orquestra. Uma pena.

O tenor norte americano Matthew Polenzani foi um Don Ottavio excepcional. Voz sempre afinada, com um timbre belíssimo e uma interpretação de um lirismo marcante, sobretudo no registo mais agudo.

Também o jovem baixo barítono checo Adam Plachetka foi um Massetto de qualidade superior. Voz potente e muito bonita, muito expressivo e excelente actor.


 Nas senhoras reinou a excelência. O soprano russo Hibla Gerzmava foi uma Dona Anna deslumbrante, com uma interpretação ao nível que nos habituou. Apesar de por vezes ter um vibrato excessivo, a voz é expressiva, de grande potência, sempre afinada, excelente em toda a extensão vocal.


 O mezzo-soprano sueco Katarina Karneus foi uma Dona Elvira marcante. Possuidora de um timbre invulgar e atraente, interpretou a personagem com autoridade, foi sempre bem audível e muito credível. Cenicamente foi uma das melhores.



 Zerlina foi interpretada pelo soprano grego Irini Kyriakidou . Voz clara, límpida e muito lírica, deu graciosidade à personagem e brilho à representação.



 Um excelente Don Giovanni que inicia o ciclo Mozart / da Ponte que a Royal Opera vai levar à cena nas próximas semanas e que o wagner_fanatic vai ter a sorte de saborear na íntegra.





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Don Giovanni, Royal Opera House, London, January 2012

Don Giovanni is an opera by Mozart (commissioned after the success of Le nozze di Fígaro) also with a libretto by Lorenzo da Ponte.

The opera is full of striking arias and ensembles. It tells the story of a compulsive seducer that escapes everyone and everything except death. Don Giovanni, in addition to the many lovers that are mentioned by his servant Leoporello, seduce Donna Anna, Don Ottavio’ fiancee and daughter of the Commendatore who he murders. Donna Elvira is another lover that he abandoned, and Zerlina, a peasant engaged to Masetto, is another target. After many adventures, including the exchange of identity with Leoporello, the statue of the Commendatore invites him to sorrow, which he refuses and ends devoured by the flames of hell.

The staging of Francesca Zambello is of great quality. At the center of the stage there is a well-designed rotating structure with ladders to the top. When it rotates, it originates different scenarios. Fire is a frequent presence along the performance and Don Giovanni ends up consumed by flames in a staging of stunning visual effect.

Greek conductor Constantinos Carydis was good and the excellent Orchestra of the Royal Opera House gave us with an excellent performance. We heard Mozart!

Italian bass Marco Spotti was a Commendatore with a very strong bass voice, as expected in this short role.

Canadian baritone Gerald Finley was a very convincing Don Giovanni. His voice háas a nice timbre and is always heard. He was very credible in the protagonist role. Artistically he was well, though the staging helped a lot.

Leoporello was interpreted by Italian bass-baritone Lorenzo Regazzo.  Despite being a good actor, he was the only singer that was not at the high level as all the others. His voice had no particularly attractive feature and, above all, it was not powerful and was easily drown out by the orchestra.
A pity.

North American tenor Matthew Polenzani was an exceptional Don Ottavio. His voice, always in tune, has a beautiful timbre and his performance was very lyrical, particularly evident in the upper registers.

Also the young Czech bass baritone Adam Plachetka was a great Massetto. He has a powerful and beautiful voice, and he is very expressive and an excellent actor.

Among the ladies excellence was the rule. Russian soprano Hilba Gerzmava was a stunning Dona Anna, with a performance to the level that she uses to offer the public. She has an expressive voice of great power, always in tune, and excellent throughout all her vocal range.

Swedish mezzo-soprano Katarina Karnéus was a remarkable Dona Elvira. She possesses an unusual and attractive timbre, she was outstanding in her performance, always well audible and very credible. Artistically she was one of the best.

Zerlina was interpreted by Greek soprano Irini Kyriakidou. She has a light voice, clear and very lyrical, and she was very gracious and bright in her performance.

It was an excellent Don Giovanni that starts the cycle Mozart / da Ponte that the Royal Opera will offer in the coming weeks, and that wagner_fanatic will be lucky enough to enjoy in full.

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5 comentários:

  1. Conheço uns excertos desta encenação mas com Simon Keenlyside em Don Giovanni. Parece-me interessante e ainda bem que gostou. Os cantores são para mim mais ou menos desconhecidos, à excepção de Gerald Finley e de Katarina Karnéus.

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  2. Thanks for the posting with wonderful shots. The staging of ROH always seems to be great. Recently I was so disapponted of some opera productions in my area, that I swore, either I never go to the opera or only go to the big houses. However, the productions in those houses such as Paris or Vienna are not always nice. The good news is that I've got a ticket for Rossini's Otello with Cecilia Bartoli in Zurich. If the staging there wouldn't satisfiy me, at least I could enjoy the voice of Bartoli.

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  3. @ Paulo,
    A encenação é interessante porque, não sendo pesada, é eficaz. Keenlyside seria um Don Giovanni que gostaria muito de ouvir!

    @ lotus-eater,
    Thanks for your comment. These shots did not come out as good as I wished (and those of La Traviata that I will post soon were as bad!) but you are right - for me the staging of ROH is almost always very good.
    How lucky you are to have the opportunity to hear the voice of Cecilia Bartoli in Zurich. Last time I heard her was a couple of years ago here in Lisbon and she was fabulous.
    My blog fellow wagner_fanatic goes frequently to Zurich, as you can see here in the blog (and he has still a some operas from Zurich to post). I plan to go there next May for Jonas Kaufmann Gala and Mozart's Il Re Pastore.

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  4. Thank you for the review. Gerry Finley is for me one of the best baritons in the world. His Giovanni is very strong.

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  5. Caro FanaticoUm,

    Já vi este Don e, não querendo revelar completamente a minha opinião neste post, posso dizer que concordo consigo em tudo menos em 3 coisas (embora, claro está, tenha visto uma récita diferente): Donna Anna com vibrato no registo agudo realmente incomodativo, estragando o que de bom faz no registo mais baixo; Leporello com excelente voz mas a faltar o sal e pimenta necessário para ser um grande Leporello em palco; Carydis só me conseguiu convencer após a ária Dalla sua pace...

    Cumprimentos musicais.

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