Foi ontem tornada pública a Temporada Lírica 2011-2012 do Teatro Nacional de São Carlos. Também se conhecem a Temporada Sinfónica e Outras Iniciativas, mas abordarei apenas a temporada lírica.
Conta com 6 óperas (para além de outras, pequenas, no Salão Nobre) e, dadas as dificuldades que o País atravessa, é uma temporada digna, assim as coisas corram bem. A cultura é sempre das áreas que mais sofre nestas ocasiões e não se concretizou o que chegou a constar – que não estava garantida uma próxima temporada. Um País sem cultura é um País morto e, felizmente, não chegámos a esse extremo.
Aspectos positivos:
- O afastamento do espectro da inacção (e possível afastamento ou “reforma” antecipada) dos músicos do TNSC e da Orquestra Sinfónica Portuguesa, por razões que lhes seriam totalmente alheias.
- A presença de cantores portugueses em papeis de relevo em algumas óperas.
- Finalmente, a possibilidade de voltar a admirar a nossa melhor cantora da actualidade: Elisabete Matos, no papel de Elisabetta de Valois na ópera Don Carlo. O Teatro estava em dívida com Elisabete Matos há muito!
- A escolha dominante de óperas mais conhecidas da generalidade do público, o que poderá contribuir para que este se reconcilie com o São Carlos, como tenho vindo a referir em textos anteriores.
- O conceito “Contar uma Ópera”, se for feito de forma radicalmente diferente do ano passado. Vi a Cavalleria Rusticana que foi uma desgraça.
- A apresentação de ópera para famílias e escolas – O Gato das Botas no Teatro Camões.
Aspectos negativos:
- O número escasso de óperas levadas à cena mas, como referi acima, no contexto actual, aceita-se a opção que pode já constituir um esforço muito significativo.
- A falta de alguns compositores de referência (Wagner, Bellini, Rossini e outros).
- A presença de cantores estrangeiros que poderão não estar à altura das personagens que lhes foram atribuídas. Dou-lhes o benefício da dúvida, mas é esperar para ver. Faço votos para que não tenha regressado o preconceito de que os cantores estrangeiros (sejam eles quais forem) são melhores do que os nacionais, situação que foi totalmente negada nas passadas temporadas em que tivemos estrangeiros de má ou péssima qualidade. É essencial continuar a dar oportunidades aos portugueses no principal palco de ópera nacional para que o público amante da lírica os possa apreciar convenientemente.
As óperas anunciadas são:
- Don Carlo (Verdi) em Outubro de 2011, dias 8, 11, 13,15,18, 20 às 20:00h e dia 23 às 16:00h Produção nova do TNSC. Uma das melhores óperas de Verdi, aguardo-a com expectativa. Tem cantores de qualidade e, claro, Elisabete Matos. A não perder!
- O Gato das Botas (Montsalvatge) em Dezembro de 2011, dias 13, 20 e 22 às 20:00h e dias 10, 11,17 e 18 às 16:00h (dias 14 e 16 e 21 às 15:00h e às 11h00 para escolas).
- Così fan Tutte (Mozart) em Janeiro de 2012 nos dias 14, 17, 19, 24 e 26 às 20:00h e
dia 22 Janeiro às 16:00h. Também uma das melhores óperas de Mozart numa produção da Vlaamse Opera da Bélgica. Tem intérpretes que sugerem que poderá ser outro bom espectáculo.
- Madama Butterfly (Puccini), em Março de 2012, dias 13, 15,17, 20,22 às 20:00h e dia 25 às 16:00h. Produção da Ópera Real de Copenhaga. A história da mais trágica heroína de Puccini. Pode ser um espectáculo muito interessante ou o oposto. Depende muito da forma como for cantada e da encenação.
- Turandot (Busoni) + Francesca da Rimini (Rachmaninov) em Maio de 2012, dias 19, 21, 23, 25 às 20:00h e dia 27 às 16:00h. Uma nova produção do TNSC.
- Don Pasquale (Donizetti) em Junho de 2012 nos dias 14, 16, 18, 20 e 22 às 20:00h e no dia 24 às 16:00h. Uma produção do Teatro La Fenice de Veneza. Mais uma ópera que poderá ser muito boa ou desinteressante, conforme a interpretação.
Todos os pormenores podem ser consultados em:
http://www.saocarlos.pt/gca/?id=1068
É esperar para ver e ouvir…
E cá estaremos para comentar.
Foi ver à Carmen que está nestes dias no palco?
ResponderEliminarEu estarei por lá na próxima sexta feira dia 24, e gostava ter sua opiniao, se e que foi ver.
Cumprimentos.
@ AdMiles,
ResponderEliminarIrei ver a Carmen no próximo Sábado dia 18. Depois escreverei algo aqui no blogue sobre ela, claro. Penso fazê-lo no Domingo dia 19.
Cumprimentos musicais
Dadas as circunstâncias, também considero esta temporada digna e não podíamos esperar muito mais. Até o "Don Carlo" é quase um luxo à la Met.
ResponderEliminar@ Paulo,
ResponderEliminarÉ verdade, acho que não nos podemos queixar. E se o nível for semelhante ao das últimas duas óperas que vi no São Carlos, será bom.
E os nossos músicos, que são tão alheios como nós à crise em que nos submergiram, terão trabalho e a possibilidade de mostrarem o que valem, facto também muito importante neste período de grandes dificuldades.
Só espero que não apareça aí uma tesoura a cortar no já fraco orçamento.
ResponderEliminarEsperemos que não, Paulo.
ResponderEliminarBeautiful Architecture.
ResponderEliminarUsou as cores de letra azul e vermelha com algum propósito em especial? Ou é só por acaso? Se for o 1.º caso, eu poria também a vermelho o Don Pasquale. Deve ser interessante porque a produção veio do La Felice, e os cantores não deverão ser maus, porque é o espectáculo final. De certeza que vão ter algum cuidado.
ResponderEliminar@ JJ
ResponderEliminarOur national opera theater has a beautiful architecture, I agree.
@ Plácido,
Como no ano passado, usei o encarnado para salientar aquelas óperas que penso poderem ser mais interessantes. Aceito a sua crítica em relação ao Don Pasquale mas, com esta,na minha opinião, o risco é muito grande. Espero estar enganado!
Obrigado pelo seu artigo e por partilhar as suas opiniões (sempre pertinentes) com o público bloger.
ResponderEliminarTenho apenas uma reserva quanto à sua crítica, nomeadamente quando diz que a temporada carece de mais compositores de referência. Tendo em conta o número possível de produções, até considero haverem muitos compositores importantes: Verdi, Puccini, Donizetti, Rachmaninov e Busoni. Isto porque creio ser também missão (a não descurar!) de um teatro nacional a função pedagógica de apresentar obras menos conhecidas ao público. Provavelmente não havia recursos suficientes para mais produções.
Não quero, com isto, dizer que a gestão do TNSC está completamente correcta e que não haveriam outras hipóteses. Aceito este planeamento acreditando na infeliz precariedade pela qual São Carlos passa há já tanto tempo.
Em condições ideais um teatro nacional deveria envolver-se de uma forma franca e sincera com a comunidade que serve. E por "comunidade" não me refiro somente ao público habitual e com conhecimentos. A função pedagógica dos organismos públicos deve abarcar grupos mais desfavorecidos, em actividades que não apenas récitas extraordinárias a preços mais baixos e com produções mais "acessíveis" a um público não familiarizado com o repertório erudito.
Num cenário ideal, os músicos e outros profissionais adstritos a São Carlos deveria ser um recurso activo na promoção da aprendizagem da música/cultura nas escolas, nas associações (etc) e, para tal, o teatro deveria oferecer actividades (ateliers, por exemplo) como parte normal e frequente da sua temporada.
De igual modo, a parceria interinstitucional deveria ser optimizada como forma de rentabilizar recursos e, ao mesmo tempo, chegar a públicos mais diversos. Por exemplo, coordenação com museus, outros organismos musicais, câmaras municipais, IPSSs, entre outras.
Estas são algumas sugestões para um cenário idílico que, com muita tristeza minha, ainda demorará provavelmente muito a ser atingido.
@ anónimo,
ResponderEliminarObrigado pelo seu longo comentário, com o qual concordo na maioria.
Quando referi que faltam compositores de referência, é um facto que com seis óperas, teriam sempre que faltar. E também concordo que esta temporada até está bem representada nesse aspecto. Mas, pelo menos uma ópera de Wagner seria um bálsamo.
Concordo com a ideia de uma temporada digna e aparentemente boa pelo menos nas escolhas - todos conhecem ou já ouviram falar do Don Carlo de Verdi, do Cosi fan tutte de Mozart, na Madama Butterfly de Puccini e no Don Pasquale de Donizetti. Assim, pelo menos são obras conhecidas e que procuram cobrir o espectro da ópera dos seus séculos mais produtivos - XVIII e XIX (puxando para o início do XX).
ResponderEliminarEm relação aos cantores, aqueles que mais se podem destacar e que têm presença em grandes palcos sao Elisabete Matos e Fabio Sartori. Este canta bem mas não é muito bom actor... pode ser que esteja melhor agora.
Estive a escutar no youtube alguns dos outros cantores (desconhecidos para mim) presentes na temporada e até me parecem bons.
Acho que vale a pena apostar nesta temporada.
Não vou ver a Carmen mas vou procurar ouvir hoje na Antena 2.
A beautiful opera house! I still regret not to see this house when I visited Lisabon.
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