(review in english below)
Andrea Chénier é uma bela ópera de Umberto Giordano pertencente ao verismo musical italiano, com libretto de Luigi Illica.
Retrata o período da Revolução Francesa, suas esperanças e horrores. Numa festa no castelo da família, a jovem aristocrata Maddalena de Coigny, filha da condessa, é presenteada com um poema pelo generoso poeta Andrea Chénier, que defende a liberdade, amor e poesia. O mordomo Gérard queixa-se do luxo em que a família vive e demite-se. Em Paris começa a revolução mas os convidados ignoram-no. Anos mais tarde, o antigo mordomo, agora um revolucionário que quer vingar-se da opressão e injustiça, luta com Chénier por Maddalena, por quem estão ambos apaixonados. Gérard, contudo, avisa o poeta que é procurado como contra-revolucionário. Num tribunal revolucionário Chénier é condenado e Gérard é obrigado a assinar a condenação. Maddalena oferece-se em troca da vida de Chénier e comove Gérard quando relata a crueldade do povo francês no terror da revolução, ao assistir à morte da sua mãe, queimada viva. Aceita o amor de Chénier e são ambos condenados à morte pela guilhotina.
A encenação de Dmitri Bertman foi excelente. Uma ideia aparentemente simples, um quadro gigante ao qual se arranca a tela e toda a acção se passa à frente e atrás da moldura, que vai mudando de posição. O efeito cénico é brilhante.
O quadro que abre a cena é uma reprodução de um dos célebres retratos nús de Marie-Louise O’Murphy, pelo pintor francês François Boucher.
Marie-Louise O’Murphy, por François Boucher (Museu Wallraf-Richartz, Colónia)
Marie-Louise O’Murphy, por François Boucher (Museu do Louvre, Paris)
O maestro Pier Giorgio Morandi dirigiu superiormente a Orquestra da Ópera Real de Estocolmo que teve uma prestação de elevado nível. A orquestração da obra é brilhante e colorida e a orquestra conseguiu dar-nos tudo isso com invulgar qualidade.
Nesta ópera outro protagonista importante é o povo francês (representado pelo coro) com um papel decisivo na evolução dos acontecimentos revolucionários. O Coro da Ópera Real de Estocolmo esteve afinadíssimo, sempre à altura dos muitos momentos corais de grande efeito.
O tenor Lars Cleveman foi Andrea Chénier. Esteve bem em palco, a voz era forte mas não muito versátil, o timbre agradável mas, em esforço, perdia alguma qualidade. Nos duetos com Maddalena houve alguns desencontros. Mas, ainda assim, foi muito credível.
O soprano Angela Rotondo, em substituição de Katarina Dalayman (o que foi uma pena), foi uma Maddalena de Coigny pouco dada a representações cénicas mas com pretenções vocais. Na primeira parte e no registo médio cantou bem, mas nos agudos tendia para a estridência. Na belíssima aria La mamma morta esteve muito bem no princípio mas no final, onde a exigência é maior, optou por não dizer algumas palavras para ganhar fôlego para gritar outras. (Ter Maria Callas como referência para esta ária é impiedoso para as outras cantoras!). Foi pena esta opção na ária mais importante da personagem. Aliás, notei na cantora uma necessidade de emitir notas agudas finais sonoras que, frequentemente, eram mais gritadas que cantadas. Como já referi, teve desacertos com o tenor, mas admito que o tempo para ensaios não tenha abundado, dado ter sido uma substituta de última hora.
O barítono Ola Eliasson foi Gérard e, no que respeita aos solistas, foi o melhor. A voz era poderosa, de notável beleza, não desafinava nem gritava e era muito expressiva, sobretudo nos momentos mais dramáticos.
(parte das fotografias são do programa da Ópera Real de Estocolmo)
Os restantes solistas com papeis mais pequenos estiveram bem, merecendo referência a condessa de Coigny / Madelon, cantada pelo excelente mezzo Marianne Eklöf.
Foi um prazer inesperado rever esta ópera de que tanto gosto e que já não via há alguns anos.
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ANDREA CHÉNIER - Kungliga Operan, Stockholm, November 2010
Andrea Chénier is an excellent opera by Umberto Giordano with libretto by Luigi Illica belonging to the Italian verismo period.
It is based on the period of the French Revolution, their hopes and horrors. At a party at the family castle, the young lady Maddalena de Coigny, daughter of the countess, is presented with a poem by the generous poet Andrea Chénier, who likes freedom, love and poetry. Gerard, the butler, complains of the luxury in which the family lives and resigns. The revolution begins in Paris but the guests ignore it. Years later, the butler, now a revolutionary who wants revenge for the oppression and injustice, fights with Chénier for Maddalena. Gerard, however, warns the poet that he is chased as a counterrevolutionary. In a revolutionary court, Chénier is sentenced to death and Gerard is required to sign the condemnation. Maddalena offers herself in exchange for the life of Chénier and Gerard is moved when she describes the cruelty of the French people in the terror of the revolution, while watching her mother's death, burned alive. She accepts the love of Chenier and both are sentenced to death.
The production by Dmitri Bertman was excellent. A seemingly simple idea, a giant painting of which the frame remains on stage, often changing position, and all the action takes place ahead and behind it.The scenic effects are brilliant. The painting that opens the scene is a reproduction of one of the famous nude portrait of Marie-Louise O'Murphy by French painter Francois Boucher.
Conductor Pier Giorgio Morandi directed the Orchestra of the Royal Opera of Stockholm which had a high quality performance. The orchestration of the work is bright and colorful and the orchestra managed to give us all that with quality.
Another important protagonist in this opera is the French people (represented by the choir), with a decisive role in the evolution of revolutionary events.The Choir of the Royal Opera of Stockholm was superb, always up to the many moments of great choral effect.
Tenor Lars Cleveman was Andrea Chenier. He had a good performance on stage, his voice was strong but not very versatile, the timbre pleasant but, in effort, losing some quality. In the duets with Maddalena there were some disencounters.
Soprano Angela Rotondo, replacing Katarina Dalayman (which was a pity), was Maddalena de Coigny. She was not a good dramatic actress but she had vocal credits. In her first interventions she was ok but in the high notes she tended to scream. On the beautiful aria La mamma morta she did very well at first but, in the end, where the demand is higher, she has chosen not to sing some words to get breath to scream others. (To have Maria Callas as a reference for this aria is merciless to the other singers!). It was a pity that this option was chosen for the most important aria of her character. Furthermore, I noticed in her an intention to deliver the final high top notes sound, which often became more shouted than sung.
Gérard was played by baritone Ola Eliasson and he was the best of the soloists, His voice was powerful, of great beauty, not detuning nor screaming, and he was very expressive, especially in the most dramatic moments.
The other soloists in smaller roles had good performances. Countess of Coigny / Madelon, sung by Marianne Eklöf deserves a special mention as she was an excellent mezzo on stage.
It was an unexpected pleasure for me to review this opera that I like so much and that I had not seen for years.
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Dear Fanatico...wonderful paintings...yes...
ResponderEliminarI hope for you successful,happy a noel and new year...MUTLU NOELLEERRR...İYİ SENELEEERRR...SEVGİLERRRR...
..ismail hakkı...(sonsprinter)
Dear sonsprinter
ResponderEliminarThank tou for your comments. The paintings of François Boucher are beautiful indeed!
Caro FanaticoUm
ResponderEliminarPelo que vejo, a passagem por Estocolmo está valer "operaticamente" muito a pena.
Obrigado pela partilha.
Cumprimentos
Alberto
Caro Alberto,
ResponderEliminarSim, foi uma passagem breve mas, "operaticamente", muito rica.
Não escrevi no texto mas o teatro é pequeno (como o São Carlos), de beleza considerável e compram-se bilhetes em bons lugares a cerca de 30 Euros!
Obrigado pelo comentário
Caro Fanático. Essa ideia de encenação parece-me deveras interessante. Para lhe dar um 17, presumo que tenha sido bem explorada.
ResponderEliminarAndava para lhe perguntar: quanto daria à encenação do Ouro do Met?
Caro Plácido,
ResponderEliminarUma ideia aparentemente simples e de grande efeito cénico. Se reparar nas imagens que coloquei, em quase todas se vê a moldura que serviu de enquadramento a todos os cenários (nas fotos dos agradecimentos finais é bem evidente o efeito).
Para mim a encenação do Ouro do Reno no Met foi a melhor que vi até hoje (apesar das acusações de publicidade e marketing de que foi alvo). Era explícita, eficaz, de belíssimo efeito e nada metafórica (o que é muito frequente em Wagner). Por isso na escala de fruição que uso daria 19.
Hi,
ResponderEliminarInteresting staging!
It's nice to read about operas which I haven't heard and watched yet. It shouldn't be always La Traviata, La Boheme or another standard repertoires.
In Germany there are about 80 opera houses. However, on account of the subsidy cuts there are not many new productions on the programs. In the future only the half(or less) of the theaters would survive. It's sad.
Music(Tonkunst) is the most beautiful gift of the nature or God. However most of people are not allowed to get in this terrain. Not because they are less intelligent than us, but because they are not leaded to experience it. The music lesson in the kindergarten and elementary school is crucial!
Thank you for your comment. If you have the chance to see this opera, you will be well impressed with it. It is a beautiful opera.
ResponderEliminarYou are absolutely right about the need to put children in contact with music very early. That is the tradition in Germany, but not in my country. They contact with some popular music,but not with the real thing.
Another big difference between Germany and Portugal concerning the investment in culture is the following - here we have only one national opera theatre in Lisbon, and in the last years, the operas (about 6 - 8 per year) that could be seen were, most of them, of very poor quality.
TThere are a couple of other groups that are interested in opera (and stage a couple of them), but they almost have no support.
It is a sad situation! If we had the habit to alert our children early in school for this music, probable the situation would be different.
Hi,
ResponderEliminarPlease let us know how Wagner at La Scala was. More than anything else I'm curious of the staging. I've read that Frau Meier was not satisfied with it and having an argument with the director. The other singers're being on her side. But not Barenboim. He might be afraid of Frau Meier's influence on the ensemble getting bigger. She is never be a person of easy going and well known for her temper. You know that she had a quarrel with B. Haitink in Zürich and left just before the Premiere. Wagner fans were angry about Haitink.
If such an experienced Singer as Frau Meier complained about the staging, there must be certain reasons.
You see, most of the directors have no idea about the music and often destroy the opera. We, the audience pay for them.
Dear lotus-eater,
ResponderEliminarI have never written here in the blog an experience vivid on TV. But the Walküre of yesterday from La Scala was so special that I will do it. You can count with a text later on on this blog. I will post it as soon as I can.
But let me tell you that on TV we are not able to appreciate the staging well. But I confess I was not impressed.
On the contrary, Frau Meier was absolutely exceptional! I will write about it soon...