Admitindo que a Dona Branca era um espectáculo do ano passado, embora tenha sido apresentado em Outubro, poderemos considerar esta Cavalleria Rusticana, de Pietro Mascagni, a primeira ópera da temporada 2010-2011 do nosso principal teatro de ópera nacional.
Uma apresentação em versão concerto (a isto nada a dizer) com o novo Maestro / Director, Martin André, e “novo” conceito – contar uma ópera. Confesso que ia com alguma expectativa e na esperança de ser positivamente impressionado. Infelizmente, nada disso aconteceu. De novo o teatro com muitos lugares vagos, apesar de os bilhetes não serem caros e, ao que consta, muitos até foram oferecidos.
Uma obra marcante e de grande beleza do verismo italiano é paulatinamente destruída ao longo da récita. Contar uma ópera – o conceito é interessante, mas para contá-la deve arranjar-se alguém que saiba do que está a falar para não dizer apenas banalidades obvias. Não foi o que aconteceu! E as interrupções sucessivas “matam” a apreciação da evolução musical. Em minha opinião seria melhor contar tudo antes (e com mais qualidade!) e deixar ouvir a peça na íntegra (que até é curta) de seguida.
A Orquestra Sinfónica Portuguesa também não esteve bem, com grandes variações de ritmo e entradas fora de tempo de alguns instrumentos, penso que o maior responsável por isto foi o maestro. Deve ser impossível fazer um bom trabalho assim. O Coro do Teatro de São Carlos esteve novamente mal, ruidoso e com desacertos.
Os solistas também não ajudaram à qualidade do espectáculo. A Santuzza de Sónia Alcobaça (que já fez coisas boas, como a Gutrune no Crepúsculo do ano passado) foi monótona e cantou sem qualquer entusiasmo (e a personagem é das que faz brilhar as intérpretes, quando estão ao nível), Maria Luísa de Freitas deu-nos uma Lola de timbre agreste mas consistente, Fernando del Valle foi um Turiddu irregular na emissão, embora o timbre não fosse feio, mas foi irregular e frequentemente disfónico, Luís Rodrigues confirmou que continua em baixo de forma e foi um Alfio desinteressante e, finalmente, Laryssa Savchenko como Lúcia, fez-se ouvir bem porque gritou muito e com vibrato excessivo.
Tudo junto, parecia que não tinham ensaiado! Não vale a pena gastar mais palavras com este triste espectáculo.
Enfim, começa mal (ou deverei dizer … continua mal) a temporada do São Carlos!
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Caro FanaticoUm,
ResponderEliminarNão vale a pena... Simplesmente, não vale a pena. Nem oferecidos em leve 2, pague 1...
Cumprimentos musicais.
Estamos de acordo em tudo, excepto em relação ao Del Valle. Timbre feio, rouco, terrível técnica e má projecção de voz.
ResponderEliminarFoi péssimo. Voltámos à era Damman :-\
Mas uma coisa: deu-lhe uma estrela e ao Morcego dera zero. Gostou mais deste do que do Morceguinho?
ResponderEliminarCaro Plácido,
ResponderEliminarInfelizmente continuamos nos espectáculos lastimáveis. O zero do morcego foi porque, a acrescentar a tudo o resto não muito distante do que se ouviu ontem, houve aquela encenação pindérica e totalmente disparatada e a Maria Rueff a repetir graçolas politicamente correctas, totalmente desenquadradas e sem o menor laivo de comicidade.
Quando comecei a ver que o S. Carlos não parava de oferecer bilhetes no Facebook, logo calculei que iam ter a casa "às moscas".
ResponderEliminarTambém tive sempre sérias reservas à nova abordagem de "contar uma ópera" e parece que as minhas previsões estavam correctas, infelizmente...
Nesta temporada, não ponho os pés no S. Carlos.
A Maria nao tinha graça nenhuma, mas a encenação não achei que estivesse má de todo. Tinha para lá uns vampiros travecas, mas tirando isso até achei que estava engraçado. O pior era mesmo algum do canto. Infelizmente já parece que se tornou apanágio.
ResponderEliminarCaro Alberto,
ResponderEliminarEu ainda tive a ilusão de que o "contar uma ópera" poderia ser interessante. Já tenho idade para não ter ilusões e ter juizo mas lembrei-me de programas de há muito que vi na Televisão com o Atalaia em Portugal e com o Bernstein na América onde, de facto, se aprendia muito (pelo menos eu aprendi, apesar de ser na televisão). Infelizmente a experiência de ontem foi um falhanço total, a não repetir.
Acho que não vai perder muito em não ir esta temporada ao São Carlos. Eu mantenho-me estoicamente, assinante há mais de duas décadas, mas já encaro a hipótese de ser esta a última temporada. Não se vislumbra, de facto, nada de estimulante e os bilhetes não são nada baratos para os espectáculos que nos oferecem.
Caro blogger,
A Maria não teve graça nenhuma mas a encenação, para mim, também não. Às tantas eram mais os vampiros travestis que os outros (a propósito de nada), havia quase sempre figurantes a despir partes da roupa e o Orlovsky foi de ir às lágrimas de ridículo, para além de não cantar nada de nada, uma tal Kristina Walin que até usava amplificação de som em certas partes. Não vislumbrei qualquer movimento cénico coerente ou interessante, todos se mexiam parados para conduzirem o espectáculo a parte nenhuma! Sim, de facto, detestei!
Mas o pior é que começo a temer que este ano as coisas possam continuar assim...
Essa do S. Carlos começar a oferecer bilhetes através do Facebook é de espantar, na verdadeira acepção do termo! Devem, concordo, ter visto que iriam ter pouca gente, mas também mostra que andam a tentar democratizar a ópera num país de pategos, e isso é louvável. Mas mais valia terem ido distribuir os bilhetes pelos alunos das escolas de música e conservatórios, ou montar uma barraquita no Teatro. Assim, garantidamente, quem quisesse ir, iria.
ResponderEliminarNão digo mais, poir acabo de ouvir um dos "Beatus Vir" do Monteverdi, a prova material de que o divino existe, uma peça que me deixa incomensuravelmente benévolo...
Caro Gus,
ResponderEliminarAinda bem que tem oportunidade de ouvir peças que provam que o divino existe! Infelizmente, quem está confinado a Portugal e ao nosso principal teatro de ópera, o São Carlos, não pode ter, infelizmente, essas sensações. Por aqui a coisa continua mediocre!
Perto do Teatro Municipal de São Paulo, em eterna reforma, a Temporada do São Carlos é uma dádiva.
ResponderEliminarCaro Ali,
ResponderEliminarInfelizmente não posso concordar consigo. Não conheço a temporada do Teatro Municipal de São Paulo, mas a do São Carlos é muito fraca, não só porque tem muitas obras praticamente desconhecidas como também porque, pelo que já se viu nas 2 óperas já apresentadas, a qualidade foi má. Este é, realmente, o aspecto mais importante e mais preocupante.
Para nós, aqui em Lisboa, a grande dádiva é a temporada de música da Fundação Calouste Gulbenkian!
É muito rica, diversificada, de elevada qualidade, tem várias óperas em versão concerto (não tem fosso para a orquestra, por isso não pode ter óperas representadas em pleno, a Fundação não é um teatro!) e, este ano, tem também o Met Live. Uma maravilha!
Caro FanaticoUm,
ResponderEliminarSabe por que vc não conhece a temporada do TMSP, porque ela não existe. A última ópera apresentada nesse teatro foi Sansom et Dalila em Novembro de 2008. Depois disso tivemos o nada. O Theatro São Pedro, bem menor em tamanho e infra-estrutura fez ópera nesse período. Se não fosse ele ficaríamos mais de 2 anos sem ópera na cidade de SP.