No passado dia 2 de Julho, o Festival de Ópera de Munique acolheu a ópera "Tosca", numa produção original do Metropolitan Opera de Nova York, em colaboração com o Teatro alla Scala de Milão.
Da imponente fachada do Nationaltheater, sede da Bayerische Staatsoper, pendiam 3 longos cartazes, estando o nome "Mario" inscrito em cada um deles, mas a alturas diferentes, simulando um crescendo. Estava, pois, aqui representada a primeira exclamação que Floria Tosca profere ao entrar em cena, chamando pelo nome daquele que ama: Mario Cavaradossi.
O elenco era, sem dúvida, promissor. Floria Tosca foi desempenhada pela conhecida soprano finlandesa Karita Mattila e Mario Cavaradossi foi encarnado pelo tenor Jonas Kaufmann. O papel de Scarpia coube ao baixo-barítono finlandês Juha Uusitalo.
Os cenários, apesar de relativamente sóbrios, recriaram uma encenação de época. Tratou-se, pois, duma versão clássica desta célebre ópera.
Karita Matilla, que detém capacidades expressivas e dramáticas amplamente reconhecidas, conseguiu imprimir à personagem o dramatismo necessário. Num dos momentos de maior lirismo da ópera - a conhecida ária Vissi d'arte - a cantora não conseguiu controlar as suas emoções e teve de produzir longas pausas entre as últimas frases, para não irromper num pranto. As últimas notas saíram já um pouco "sujas", dado que a sua voz estava um pouco embargada pelas lágrimas que pareciam chegar-lhe aos olhos. Por um lado, não podemos deixar de reconhecer que a emotividade foi algo de louvável e tocante, dado que traduzia uma vivência sincera e genuína da personagem. Por outro lado, a falta de controlo das emoções prejudicou um pouco o seu desempenho vocal nessa ocasião. Talvez por isso, os aplausos não tenham sido demasiadamente entusiastas no final de Vissi d'arte.
A grande revelação da noite foi, sem dúvida, Jonas Kaufmann. O tenor alemão que é, por assim dizer, filho da casa, dado que nasceu e deu os seus primeiros passos artísticos em Munique, revelou ter qualidades surpreendentes não só sob o ponto de vista da qualidade da voz, mas também da capacidade expressiva.
É possuidor duma voz cheia, encorpada, timbricamente assemelhando-se quase a um barítono. Desde logo, no início do primeiro acto, as suas qualidades foram evidentes ao cantar Recondita armonia. Contudo, o seu melhor momento foi já perto do final da ópera, com a célebre ária E lucevan le stelle, onde os seus dotes expressivos foram mais evidentes, sobretudo nos pianissimi que executou numa voz velada, revelando ter a capacidade de emocionar o público. Os aplausos foram, naturalmente, efusivos.
Por fim, uma palavra para Juha Uusitalo, que desempenhou um barão Scarpia imponente, dado que é detentor duma voz forte, vigorosa, diria mesmo wagneriana.
A direcção musical esteve a cargo do maestro Fabio Luisi - chefe designado da Staatskapelle Dresden e ex-regente principal da Wiener Symphoniker - que foi um digno dirigente da Bayerisches Staatsorchester.
Caro FanaticoDois
ResponderEliminarUma Tosca (confesso ser um das minhas óperas favoritas) cantada por um elenco como este, deve ser uma experiência inesquecível (mesmo com a emoção da Karita Matilla)! Ouvi na Antena 2 a transmissão da Tosca do MET há poucos meses e, realmente, o Jonas Kaufmann faz um Mario Cavradossi notável.